Antes combustível, carvão mineral vira fertilizante
08/09/14
As companhias Transgas, americana, e ThyssenKrupp, alemã, estão trazendo ao Brasil uma nova tecnologia para a produção de fertilizantes a partir do carvão mineral.
A tecnologia extrai gás sintético, chamado de syngas, a partir do carvão. Desse gás, será possível produzir fertilizantes de amônia, como nitrato de amônia e ureia.
Victor Adam, presidente da Transgas, afirma que a tecnologia, além de limpa, abre uma nova fronteira para o gás no Brasil.
O país dispõe de poucas reservas de gás natural e importa parte da demanda.
No entanto, o custo de operação é considerado alto. Para cada milhão de BTUs (unidade térmica utilizada para medir a quantidade de gás), o país paga cerca de US$ 11. A extração de gás do carvão mineral custa US$ 1 por milhão de BTUs.
“Isso coloca o Brasil dentro de um seleto grupo de países que já iniciaram uma revolução na indústria carboquímica”, afirma.
Michael Kaiser, vice-presidente da divisão de engenharia da Thyssen Krupp, que é dona da tecnologia, afirma que o gás natural tende a diminuir sua importância como combustível, devido às dificuldades de exploração e alto custo.
“Não é preciso buscar gás no pré-sal, estamos buscando no carvão que está a 30 metros de profundidade”, diz Kaiser.
A nova unidade será instalada em Santa Catarina, onde estão as maiores reservas de carvão mineral no país.
Os executivos afirmam que o projeto consumirá US$ 3 bilhões, nos primeiros quatro anos, o período de implantação da fábrica.
A expectativa das companhias é que o projeto comece a sair do papel em 2015.
Alta Demanda
A fábrica visa suprir uma deficiência brasileira, a da produção de fertilizantes.
Segundo dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), o país consome 31 milhões de toneladas de adubo em 2013. Deste total, 70% foram importados.
A expectativa da Transgas é produzir 2,1 milhões de toneladas de fertilizantes, 10 % do que foi importado no último ano.
A nova fábrica competirá com novas plantas da Petrobras na área de fertilizantes.
A estatal possui quatro projetos em execução nas cidades de Três Lagoas (MS), Uberaba (MG), Camaçari (BA) e Vitória (ES).
Apesar das novas unidades, Rafael Otto, doutor em ciências do solo pela USP, afirma que Brasil ainda vai continuar dependente das importações de fertilizantes em cerca de 30%.
Folha de S. Paulo