Alta do cobre ajuda a estimular consolidação das mineradoras
06/06/08
A próxima grande cartada na aquecido indústria mundial da mineração pode ser motivada por um catalisador inusitado: a seca no Chile.
Rico em minerais, o Chile usa energia hidrelétrica para ajudá-lo a extrair cobre e outros metais. Mas diante da pior seca dos últimos 50 anos no país – os reservatórios já estão 36% abaixo do normal – a produção das turbinas começa a fraquejar. Isso está alimentando uma alta no cobre, que em abril estabeleceu o recorde de US$ 8.880 por tonelada.
A seca também gerou um frenesi por compra de ativos nesse segmento: a Vendanta Resources PLC, da Índia, ofereceu semana passada US$ 2,6 bilhões para comprar os ativos da mineradora americana de cobre Asarco LLC, atualmente em concordata.
Desde o começo do ano, a cotação das ações de grandes mineradoras como a BHP Billiton e a Rio Tinto, juntamente com empresas menores como a Alcoa Inc., tem subido junto com o preço das commodities.
Quem parece cada vez mais vulnerável à sanha de mineradoras com o caixa abarrotado é a Freeport McMoRan Copper & Gold, maior mineradora de cobre de capital aberto do mundo. Sediada nos Estados Unidos, a Freeport é praticamente uma empresa de uma nota só – o cobre -, o que a distingue do universo geral das mineradoras, que está em rápida diversificação e consolidação. Um possível comprador seria a Companhia Vale do Rio Doce, que fracassou na tentativa de comprar a Xstrata PLC e continua à caça de uma aquisição.
A Freeport-McMoRan teve uma seqüência de bons resultados, mas também tem um problema estrutural: não é grande o suficiente para compensar o custo galopante do aço, do petróleo e dos equipamentos de mineração.
“Essa pressão de custo dificulta o desenvolvimento de novos projetos que sustentem a produção nas minas mais antigas”, disse a analistas Richard Adkerson, diretor-presidente da Freeport.
O fato de que as reservas da empresa geraram boas margens de lucro num ambiente com alto custo operacional é um exemplo do seu real valor, disse ele. Mas esse aspecto também é o que faz dela um alvo atraente para grandes mineradoras que podem estar de olho em bons ativos para evitar o custo e o tempo necessários para descobrir suas próprias reservas cupríferas.
Tanto ela quanto a Alcoa – outra empresa de uma nota só, neste caso o alumínio – são os principais possíveis candidatos à aquisição por grandes mineradoras. Vale, Rio Tinto, BHP, a russa UC Rusal e a Xstrata estão todas elas interessadas em expandir seu portfólio de commodities.
A Alcoa, dos EUA, pode ser mais difícil de comprar porque as leis do Estado da Pensilvânia, onde está sediada, podem agir praticamente como uma pílula venenosa gigantesca caso a empresa queira resistir ao ataque. Mas está cada vez mais difícil para a Alcoa manter o passo com as mineradoras que vêm se tornando cada vez maiores e mais lucrativas. A Rusal, que pretende se expandir ainda mais na América do Norte, seria uma possível compradora.
Isso pode alimentar o que alguns já chamam de a inevitável reestruturação do setor, com as mineradoras maiores devorando principalmente as concorrentes com presença em apenas um segmento. “É impossível parar a consolidação. É cada vez mais difícil manter uma certa escala com apenas um produto”, disse semana passada o diretor-presidente da BHP, Marius Kloppers.
Ele acha que surgirá uma mineradora russa de capital fechado que expandirá seu controle por toda a sua região. Kloppers também acha que ocorrerão processos semelhantes envolvendo empresas do Brasil e China.
Por sua parte, a BHP, a mineradora de maior produção do mundo, espera que sua pendente proposta de fusão com a Rio Tinto a transforme numa mineradora ainda maior e mais diversificada.
Portanto, a não ser que chova o suficiente para acabar com a seca no Chile, pode-se aguardar a gênese de um cenário de mineração totalmente diferente em todo o mundo.
Valor Econômico