Alta das commodities torna rentável a descontaminação
13/07/07
A chegada da Bolland a Santo Amaro da Purificação tem sido encarada como um alento para a área degradada da antiga fábrica da Cobrac. É tida, também, como um fôlego extra para a economia do município, com escassa presença de indústrias. O projeto criará 90 empregos, 60 deles diretos. O investimento será de R$ 12 milhões. A alta das commodities metálicas no mercado mundial nos últimos anos explica o interesse pelo negócio. Apenas no primeiro semestre deste ano, a cotação do chumbo para entrega imediata, em dólares por tonelada, aumentou mais de 49% na London Metal Exchange. A companhia argentina vai extrair chumbo, ferro e zinco de 150 mil toneladas de escória depositada na área em torno da fábrica desativada. O material será “lavado” com uma solução de ácido clorídrico e água – o líquido que passar por esse processo levará os metais e deixará rejeitos sólidos sem material poluente. O processo ocorrerá no que se chama de sistema fechado: não serão despejados resíduos líquidos no Rio Subaé, que corre a 300 metros da fábrica, e nas torres de queima dos metais serão instalados filtros para captação de partículas sólidas. Os gases serão refrigerados e lavados e os rejeitos líquidos encaminhados à Cetrel, onde são tratados os efluentes do Pólo Petroquímico de Camaçari. O projeto tem duração prevista de 50 meses, ao fim dos quais os metais presentes na escória deverão ter-se esvaído. “O sistema já passou por testes no Canadá e na África do Sul. Não há risco de contaminação”, garante Alberto de Azevedo, supervisor de geologia e mineração da Bolland do Brasil, que trabalha diretamente no projeto. O óxido de ferro que será obtido com o tratamento da escória poderá ter como destino a indústria de tintas. O óxido de zinco é utilizado, entre outros fins, na produção de adubo, e o zinco metálico, na de encanamento. Para o chumbo metálico, diz Azevedo, a Bolland tem um acerto prévio de venda para a Baterias Moura. O projeto da Bolland é considerado o passo mais concreto para o início da solução da contaminação de Santo Amaro. Apesar do otimismo das autoridades, entretanto, não deverá ser a resposta derradeira para o problema. “Não somos contra o projeto (da Bolland), mas esse é um projeto econômico, e não de descontaminação. O trabalho precisa ser mais amplo”, diz José ngelo Sebastião Araújo dos Anjos, pesquisador e professor da Unifacs e da Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), em Salvador. Um dos motivos para o trabalho da empresa argentina não ser a solução definitiva, diz o professor, é o fato de o volume de escória depositada nas cercanias da fábrica ser bastante superior ao que a Bolland pretende tratar. Estima-se que existam entre 450 mil e 500 mil toneladas de rejeitos depositados na vizinhança do complexo.Em 1997, em uma tentativa de reduzir os malefícios dos metais pesados para a cidade, boa parte dessa escória foi soterrada por determinação judicial. A mistura de escória com o solo dificulta a separação dos metais em um processo de reaproveitamento. “É possível fazer, mas é muito mais caro”, diz Anjos. A contaminação em Santo Amaro foi o tema tanto do mestrado quanto do doutorado do pesquisador. De sua dissertação de mestrado nasceu o Projeto Purifica, um conjunto de propostas para a recuperação das áreas degradadas elaborado por pesquisadores de várias universidades. Tampouco está no cronograma da Bolland o aproveitamento da escória espalhada pela cidade e utilizada no passado como base para o calçamento de ruas. Alberto de Azevedo, da Bolland, diz que a retirada desse material ficará a cargo dos governos municipal e estadual. (PC)
Valor Econômico