Agnelli: onda de verticalização siderurgia-mineradoras é modismo
05/09/08
A Xstrata é “passado” para a Vale, afirma o presidente da mineradora, Roger Agnelli. Para o executivo, a atual onda de verticalização siderurgia-mineradoras é modismo, mas ele defende o modelo da Vale de participação minoritária em siderúrgicas que está atraindo para o Brasil, empresas como a chinesa Baosteel e a alemã Thyssenkrupp.”Para nós, hoje, a Xstrata é passado”, disse o executivo, em rápida entrevista exclusiva ao grupo Estado, na noite de ontem, depois de ser premiado em cerimônia comemorativa dos dez anos do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).Agnelli foi evasivo em relação às especulações sobre uma nova grande aquisição que estaria sendo preparada pela mineradora brasileira. Os rumores passam pela Alcan, Alcoa e Anglo American. “Não precisamos comprar ninguém para crescer. Temos um número muito grande de projetos para serem desenvolvidos nos próximos anos, o que vai requerer um esforço muito forte de gestão, e vai requerer também muitos recursos. A Vale está preparada para realizar estes investimentos. Então, não tem pressa não. Acho que tem que ter paciência, tranqüilidade, e é uma questão de oportunidade”, afirmou. Os grandes grupos siderúrgicos do mundo, na sua avaliação, vão aumentar a sua dependência de minério de ferro de alta qualidade, como o da Vale.
“Existe, por parte de todas as empresas, uma preocupação com o suprimento de longo prazo. Nos últimos anos, o crescimento da China foi tão forte, tão forte, que afetou o equilíbrio entre demanda e oferta”, afirmou o executivo. No momento da entrevista, ainda não havia, no mercado, rumores de que a Vale estaria tentando obter um reajuste adicional de 20% no minério vendido para a China em 2008, para equalizar o seu preço em relação ao das mineradoras australianas. Novamente procurado hoje, Agnelli informou, por meio de sua assessoria, que “não comenta rumores de mercado”. A empresa divulgou comunicado no qual nega que tenha ocorrido reajuste, mas o documento não é conclusivo quanto à efetivação ou não de uma renegociação dos contratos de fornecimento.
O presidente da Vale se mostrou muito seguro quanto à posição alcançada pela empresa e demonstrou tranqüilidade em relação a alguns movimentos de mercado, teoricamente prejudiciais à empresa, como a compra de minas por grandes clientes da Vale, como a ArcelorMittal, ou mesmo o aumento dos investimentos em mineração pela CSN. “Esse movimento da Arcelor tem de ser compreendido no contexto de que o grupo Mittal praticamente nasceu assim. Eles compraram várias empresas que detinham minas de ferro, minas de carvão. E esse era um conceito antigo, um conceito muito antigo, pelo qual se fazia siderúrgicas em cima das minas, ou de carvão ou de minério de ferro”, disse.
Como o grupo Arcelor fez aquisições na privatização de empresas estatais, Agnelli lembra, que eles acabaram herdando estes ativos em mineração. “Agora, a ArcelorMittal tem feito movimentos para aumentar um pouco mais o fornecimento próprio de carvão e de minério, mas dificilmente vai chegar à auto-suficiência. Acho que não vêem isto, tanto que assinaram conosco um contrato de dez anos, porque sabem que vão precisar continuar com a Vale como grande fornecedora (…)”, afirmou.
Quanto à CSN ele disse que a companhia também nasceu com uma mina, a Casa de Pedra, que está desenvolvendo. “A Usiminas agora também se posicionou. As únicas questões que se colocam é qual o preço destes ativos, e quanto eles podem representar do fornecimento futuro destas siderúrgicas. É preciso levar em conta que nem todo o minério de ferro é igual, tem muita diferença”, afirmou Agnelli.
Agência Estado / Brasil Infomine