Agnelli nega polêmica com empresas chinesas
29/09/08
O presidente da Vale, Roger Agnelli, negou, na sexta-feira, que tenha havido qualquer interrupção nas exportações de minério de ferro para a China, em função de negociações de reajustes de preços da commodity que estão em curso com siderúrgicas chinesas. O executivo também considerou especulativas informações que circularam na imprensa daquele país, dando conta de que clientes da mineradora fariam boicote ao minério da Vale. Embora tenha afirmado que a Vale “não trata de negociações com seus clientes pela imprensa”, Agnelli assegurou que a mineradora está “absolutamente tranqüila nas conversas que tem mantido com siderúrgicas chinesas” e que vem batendo recordes de transporte de minério. “Temos zero tonelada de minério nos nossos portos”, enfatizou o executivo, para evidenciar que a mineradora não vem retendo exportações como forma de pressionar os clientes asiáticos. “A Vale foi a primeira grande mineradora do mundo a acreditar no crescimento da China e a primeira a crescer em termos de produção para atender à demanda chinesa”, afirmou. Agnelli lembrou que a empresa brasileira é atualmente a maior exportadora de minério para a China, superando as concorrentes anglo-australianas. “Isso tudo é oba-oba. O maior market share da China é a Vale. Se nossa exportação parar, a siderurgia chinesa pára.” O setor siderúrgico chinês produzia 200 milhões de toneladas de aço por ano em 2001, volume que saltou para 570 milhões de toneladas em 2007. “Se a China tem hoje essa produção de aço, muito se deve ao nosso compromisso de aumentar a produção de minério”, reforçou Agnelli. O executivo acrescentou que a mineradora brasileira continua mantendo os padrões de qualidade do produto exportado para a China e outros países, enquanto em nível mundial as minas de empresas concorrentes têm apresentado queda nesse quesito “Estamos muito tranqüilos. As negociações de 2009 vão se dar sempre olhando caso a caso e pensando no longo prazo”, reforça. Demanda. Como a demanda por minério de ferro na Europa, na China e na Ásia em geral, segundo Agnelli, continua forte, não há motivos para grandes preocupações, nem mesmo em cenários de negociações de preços em curso. “Continuamos trabalhando a plena capacidade”, reforça. A desaceleração da demanda norte-americana, em função da crise, na avaliação do executivo, vai contribuir “para a calmaria” do mercado em termos de equilíbrio entre oferta e demanda, o que se refletirá também no preço da commodity. Quanto à crise na economia dos Estados Unidos, Agnelli disse acreditar que as turbulências vão levar pelo menos mais dois anos, embora não considere que seus efeitos serão prejudiciais ao Brasil ou aos negócios da mineradora, para a qual nada mudou em termos de estratégia de atuação. “No mundo de hoje temos que aumentar o grau de rigor, mas a preferência da Vale sempre foi pelo crescimento orgânico”, explica. Segundo o executivo, perspectiva de crescimento, via aquisição, “só se fizer muito sentido”. Ele também reforçou que a mineradora está financeiramente forte e equilibrada em função de captações recentes.Bradesco. A Companhia Vale do Rio Doce, a maior produtora mundial de minério de ferro, deverá se beneficiar com a desvalorização do real mesmo se a valorização do dólar levar a perdas em posições em derivativos, disse Raphael Biderman, analista do Banco Bradesco SA. O fortalecimento do dólar vai melhorar as margens de lucro operacional da empresa, porque a maior parte de suas vendas é realizada na moeda norte-americana, enquanto a maior parcela de suas despesas é fixada em reais, disse Biderman em entrevista concedida na sexta-feira à TV Bloomberg. “Esse ganho deve mais que neutralizar os prejuízos estimados em R$ 600 milhões decorrentes da redução, pela desvalorização do real, do retorno dos swaps cambiais”, disse Biderman. “A Vale realiza 90% de seus lucros em dólar e tem 60% de seus custos pagos em reais”, disse Roberto Castello Branco, diretor de relações com os investidores da mineradora. O real brasileiro caiu 12% este mês, constituindo-se na moeda de pior desempenho das 16 divisas mais negociadas em relação ao dólar.Os papéis da Vale caíram 33% no último período de 12 meses, comparativamente ao recuo de 16% registrado pelo Índice Bovespa no mesmo prazo.
Jornal do Commércio Brasil – RJ