Aços Villares vende 5% a mais e lucra R$ 251 milhões
07/02/07
Ivo Ribeiro07/02/2007
Seis anos e meio atrás, a Aços Villares era uma empresa em profunda crise financeira: estava com o patrimônio líquido negativo e algum tempo à procura de novos donos. Ontem, a empresa divulgou ao mercado o maior lucro líquido já obtido nesse período, de R$ 251,4 milhões, que representou aumento de 14,4% em comparação ao resultado de 2005. A dívida líquida da empresa fechou o ano passado em R$ 210 milhões, menos da metade da geração de caixa no ano.
A companhia, que em agosto de 2000 foi vendida ao grupo espanhol Sidenor e teve sua dívida reestruturada, é a maior fabricante de aços especiais para construção mecânica (aplicações no setor automotivo) do país e única de cilindros para laminação (item que tem como usuários as siderúrgicas em geral e unidades de alumínio). A Sidenor hoje é controlada por Gerdau (40%) Santander (40%) e por um grupo de executivos.
No ano passado, a Aços Villares conseguiu vender 4,8% a mais que em 2005, mas teve de alocar boa parte de aços de construção mecânica para o mercado externo. “Isso impactou na receita, porque tivemos o câmbio desfavorável e o mix de produtos é de menor valor agregado quando exportado”, afirmou Joaquín Salazar, presidente da companhia. Das vendas totais desse tipo de aço, 563 mil toneladas, 116 mil se destinaram ao exterior, o que representou alta de 51% comparado com volume de 2005.
As vendas internas, dependentes 70% dos segmentos de caminhões, ônibus e máquinas agrícolas, caíram 3% e ficaram em 448 mil toneladas. Os três mercados, que são intensivos em aço, segundo a empresa, tiveram retração de demanda de 10,4%, 3,9% e 12,9%, respectivamente. “Foram na contramão da fabricação de veículos leves, que cresceu 3,1% no ano e somou 2,6 milhões de unidades.”
Alexandre Monteiro, diretor financeiro e de relações com os investidores, comentou que a além da retração nos preços, a Villares enfrentou a concorrência de importações no mercado doméstico, seja diretamente (aço), com alta de 60%, seja indiretamente (peças e conjuntos destinadas às aplicações nos setores de atuação da empresa), que subiram 6,5%. “Essa enxurrada de bens importados, que atinge as autopeças e outros produtos, nos preocupa muito”, acrescentou Salazar.
O mercado interno de aços para construção mecânica, segundo informações obtidas pelo Valor, movimenta em torno de 1,2 milhão de toneladas ao ano e é dividido entre Aços Villares, Piratini, Açominas e Cosígua (as três controladas por Gerdau) e Belgo (Arcelor Brasil).
Nesse negócio, a Villares congelou seu plano de expansão de 300 mil toneladas. Conforme os executivos, há bastante capacidade disponível nos fabricantes e há o problema de invasão de produtos importados, em especial das China.
No momento, a empresa finaliza estudo para duplicar a produção de perfis especiais, usados, por exemplo, na fabricação de rodas de veículos, na unidade de Sorocaba (SP). Atualmente, produz 1,3 mil toneladas mensais. “Será uma unidade enxuta, com as mudanças que faremos na fábrica até o fim de 2007. Irá dobrar a produção com os mesmo 200 funcionários”, afirmou o presidente. O investimento será de R$ 24 milhões em dois anos.
A companhia também investe firme na expansão do negócio de cilindros, cuja capacidade está subindo a 52 mil toneladas, com investimentos de R$ 14 milhões. A empresa é a terceira maior fabricante mundial, apenas atrás da sueca Ackers (100 mil) e da americana Union Electric (55 mil).
A perspectiva dos dois executivos é que neste ano a Villares já opere à plena capacidade de 46 mil toneladas. “Estamos com a carteira toda vendida”, informou Monteiro. No ano passado, das 40 mil toneladas comercializadas, 74% foram para exportação (29 mil toneladas). Com a estagnação da siderurgia no Brasil – as usinas locais só têm feito reposição -, esse percentual deve crescer ainda mais. Em 2002, o mercado externo respondia por 62%.
Os principais importadores de cilindros são América do Norte, Ásia, com destaque para a China, responsável por um terço da produção mundial de aço, América do Sul e Europa. Os embarques ao exterior somaram US$ 105 milhões. Dada a importância da China, a empresa avalia a formação de uma joint venture com empresa local para produzir cilindros no país.
Valor Econômico