Abril pode reservar surpresas agradáveis
01/04/09
O primeiro trimestre deste ano sem dúvida foi um baque na economia real do mundo inteiro, reflexo direto da crise financeira internacional. O Produto Interno Bruto (PIB) dos países das mais diferentes regiões despencou, o consumo das pessoas caiu ladeira abaixo, as empresas ficaram em dificuldades e os balanços registraram quedas expressivas nos lucros. Já a fotografia do mercado acionário foi bem diferente. Houve desempenhos para todos os gostos. Em janeiro, com grandes expectativas ao redor da posse do novo presidente dos EUA, os mercados se recuperaram e o Índice Bovespa subiu 4,66%. No mês seguinte, com a sensação de que a equipe de Barack Obama estava muito devagar para o estado em que se encontrava a economia, o Ibovespa devolveu parte dos ganhos de janeiro, caindo 2,84%. Por fim, os vários pacotes divulgados pelo governo americano para tirar tanto a economia quanto o sistema financeiro do atoleiro fizeram os mercados se recuperar, com o Ibovespa subindo em março 7,18%. No trimestre, o índice acumula valorização de 8,99%.
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Junto com abril começam também os questionamentos sobre como será o comportamento do mercado daqui por diante. Dúvidas, obviamente, não faltam. O cenário econômico mundial ainda é nebuloso, consequentemente, as perspectivas para o mercado são bem pouco claras. De qualquer forma, o analistas dão suas tacadas dentro dessa escuridão. Uma boa parte deles acredita que este pode ser mais um mês positivo para a bolsa. A favor dessa possível valorização dos mercados pesam os indicadores econômicos tanto locais quanto externos, que devem aos poucos apontar para uma retomada. “Já saíram quatro ou cinco indicadores melhores da economia americana, nada maravilhoso, mas que pelo menos mostram que o quadro parou de piorar”, diz o sócio de uma gestora de recursos independente.
Uma recuperação mais consistente dos preços deve ocorrer a partir do momento que os investidores começarem a olhar para 2010, que tem tudo para ser um ano de retomada, mesmo que lenta, da economia. “Isso deve ocorrer mais fortemente a partir do terceiro trimestre, mas o início desse processo será já neste trimestre”, diz o sócio da asset. Alguns fatores sinalizam que essa melhora já começou, segundo ele.
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Uma delas é a evolução gradual no intervalo de oscilação do Ibovespa. No pior momento da crise, em setembro de 2008, o índice beijou a lona, chegando aos 29 mil pontos. Em seguida, se recuperou, oscilando entre 32 e 35 mil pontos. Depois, subiu para o intervalo entre 35 e 38 mil pontos e, no último mês, ficou no vai-não-vai entre 40 e 42 mil pontos, fechando ontem aos 40.925 pontos. Para abril, o sócio da asset arrisca um palpite: o Ibovespa deve subir mais um degrau nesse vagaroso processo de valorização, oscilando entre 43 e 44 mil pontos, podendo até novamente alcançar os 45 mil pontos. “Arrisco dizer que os pessimistas de plantão vão se surpreender”, acredita o sócio. Outro sinal de recuperação é a volta de investidores estrangeiros, especialmente os fundos de ações puros que, ao contrário dos fundos hedge, visam os fundamentos das companhias e não apenas ganhos de curto prazo.
A vez do mercado interno
De commodities ao mercado interno, passando pelas ações de empresas defensivas. No primeiro trimestre, entre as maiores valorizações houve papéis para todos os gostos. Em janeiro, as ações de commodities, como siderurgia, mineração e petróleo, foram os grandes destaques de alta. No mês seguinte, com a queda do mercado, os investidores se refugiaram em ações defensivas, como as teles e as elétricas. Já em março, foi a vez dos papéis mais voltados ao mercado interno, como varejo, consumo, construtoras e os bancos. Nos próximos meses, já começando em abril, o que se espera é a continuidade do processo de alta das ações voltadas à economia local, especialmente as do setor bancário. “Os papéis de bancos são, de longe, os mais baratos da Bovespa”, diz o sócio da asset. As instituições financeiras brasileiras têm fundamentos infinitamente superiores aos dos bancos estrangeiros e seus resultados devem ser melhores do que os analistas esperam, completa ele.
Daniele Camba é repórter de Investimentos
E-mail: daniele.camba@valor.com.br
Valor Econômico