A queda de Marina Silva
14/05/08
Sérgio Abranches * Ainda não estão claras as razões do pedido de demissão da ministra Marina Silva. Para um observador de fora não faltariam razões. O PAC é uma afronta ambiental. O Plano Amazônia Sustentável foi deformado ao longo das disscussões no governo e, ao ser apresentado, já vinha engolido pelo PAC. O governo toma, diariamente, na área do desenvolvimento econômico, da indústria, da agricultura, da energia e dos transportes, medidas que contrariam a possibilidade de uma política de mitigação das emissões de carbono e da mudança climática. A declaração recente da ministra Dilma Roussef de que a Amazônia é a fronteira hidrelétrica do Brasil, só não é pior que sua declaração original, no lançamento do PAC, de que ela era a fronteira agrícola em expansão. O plano rodoviário para a Amazônia é uma tragédia e tem alternativa ferroviária, que jamais foi discutida. A recém lançada política industrial, não faz nem uma simbólica referência à questão ambiental. Desde que foi para o governo, Mangabeira Unger se arvorou em guru da Amazônia para o século XXI e deitou a falar absurdos, que atropelam qualquer idéia de uma Amazônia sustentável. Não acho, pessoalmente, que a política do MMA era a melhor para uma Amazônia sustentável a longo prazo, mas era infinitamente superior às idéias estapafúrdias do professor Unger. Tudo indica que essa apropriação indébita da Amazônia, região de origem e dos cuidados da ministra e, obviamente, o hotspot ambiental e climático do Brasil, foi longe demais. Marina Silva aceitou muitos compromissos para manter-se no governo e tentar equilibrar, minimamente, as questões ambientais e a política governamental. Parece que o avanço do professor Unger sobre a Amazônia foi a gota d?água. Tem razão. É uma clara grilagem de espaço nas políticas públicas e na jurisdição e autoridade do ministério do Meio Ambiente. Se arbitrou pelo professor Unger, em desfavor à ministra Marina Silva, o presidente Lula pode ter errado feio, tanto no plano político, quanto no da projeção externa do país e da questão a amazônica. Entre o professor de filosofia do direito de Harvard e Marina Silva, um ícone ligado à luta pela Amazônia, a opinião pública ficará com Marina. A queda de Marina Silva é bastante expressiva da posição periférica do ministério na política de governo e da falta de consideração da cúpula do governo pela questão ambiental e climática. * Mestre em Sociologia pela UnB, PhD em Ciência Política pela Universidade de Cornell e Professor Visitante do Instituto Coppead de Administração, UFRJ. Artigo para O ECO.
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