A nova era do metal
31/03/07
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Companhias mineradoras encontram nos mapas dos primeiros exploradores da África um filão para encontrar novas jazidas para alimentar as economias emergentesAna CarbajosaEm BruxelasTrês andares de escadas estreitas levam até o sótão que guarda os tesouros. Em uma sala cheirando a mofo, fileiras de pastas descansam sobre estantes de madeira instáveis. Na lombada, as datas: 1907, 1924, 1939… São os mapas desenhados pelos primeiros exploradores que se aventuraram na África em busca de riquezas e que hoje se transformaram em um filão para a indústria mineradora, ávida para abrir novas jazidas que abasteçam de metais as economias cada vez mais vorazes da China e da Índia.O trânsito de empresários procedentes do mundo inteiro é constante há alguns anos no Museu Real da África, fundado nas proximidades de Bruxelas pelo sanguinário Leopoldo 2º, amo e senhor do Estado Livre do Congo antes de passar para as mãos do Estado belga em 1908. Uma dupla de empresários russo-congolesa visita hoje o pavilhão do museu onde fica a sede do centro de pesquisas. Eles vêm em busca de mapas que os ajudem a localizar diamantes na República Democrática do Congo. Johan Lavreau, diretor do departamento de geologia e mineralogia, promete produzir para eles um estudo geológico da região. Os mapas desenhados pelo explorador Henry Morton Stanley e seus sucessores transformaram-se, um século depois, em documentos de valor incalculável para uma indústria mineira em expansão frenética.A crescente demanda por metais e minerais para alimentar as economias emergentes fez disparar os preços nos mercados mundiais de materiais como platina, cobre ou estanho. Isso fez as jazidas descobertas pelos exploradores e abandonadas durante décadas por sua baixa rentabilidade se transformarem hoje em objeto cobiçado pelas empresas mineradoras que procuram em massa o museu belga. Ao lado da grande demanda mundial se desenha um panorama político mais esperançoso no Congo – com Joseph Kabila, o primeiro presidente eleito, e a introdução no país de um código de mineração em 2003, dois fatores que contribuíram para que os empresários recuperassem a confiança.”O governo da Bélgica não sabe que está sentado sobre uma mina: tem mapas dos anos 30 e 40 que são os melhores do mundo. Estamos falando de muito dinheiro, porque o Congo é um dos poucos lugares ainda por explorar”, explica em conversa telefônica Maarteen de Wit, professor de geologia na Universidade da Cidade do Cabo, que trabalha com mineradoras no Congo. De Wit diz que as empresas sabem que esta é sua grande oportunidade, que o preço dos metais vai continuar subindo e que as novas tecnologias que os países desenvolvidos pensam em implantar para combater a mudança climática exigem, em muitos casos, materiais como platina, cujo preço, segundo ele, multiplicou por dez na última década. Enquanto isso, China e Índia compram toneladas de metais para fabricar carros, satélites e o que for preciso.O setor está em plena ebulição. Mas como é possível que as novas tecnologias não tenham sido capazes de superar o trabalho artesanal de exploradores que percorriam as margens dos rios de sextante na mão, em busca de ouro? Segundo De Wit, porque “eram pessoas com muita dedicação e minúcia, que passavam quatro meses na selva. Hoje não há quem queira fazer isso”. Também é o que pensa Peter Pelly, o geólogo responsável em Joanesburgo pela gigante mineradora australiana BHP Billiton, que trabalha nos depósitos de cobre em Katanga e de alumínio na região de Bas-Congo. “Hoje os técnicos são mais dependentes da tela. Antes estudavam as rochas com muito cuidado.”Décadas de conflito na República do Congo desanimaram os empresários de realizar caríssimas explorações em médio e longo prazo. Consultar os arquivos do Museu da África custa algumas centenas de euros e em muitas ocasiões encontram nesses documentos informações que lhes permite implementar uma exploração. É o que conta também James Abson, da empresa canadense de diamantes Southern Era. Graças aos mapas do museu belga iniciaram um projeto em Badibanga. “Os últimos dados geológicos datavam de antes da independência (1960). Saber que havia algo lá nos permitiu ir em frente com as fases seguintes, com a certeza de que a zona escolhida é boa. Isso nos poupa tempo e dinheiro.”Sentada em uma mesa forrada de imagens de satélites da antiga colônia belga, Johan Lavreau, o homem que dirige o departamento cartográfico no Museu da África na Bélgica explica que a transação com as empresas tem mão dupla e que seus clientes se comprometem a compartilhar com eles todas as suas descobertas.Lavreau trabalha há 33 anos no museu que dedicou um pavilhão ao impiedoso explorador Henry Morton Stanley, que o “New York Herald” enviou em 1870 à África em busca do missionário Livingstone. Esse especialista conta que as motivações de Stanley, o primeiro europeu que cartografou algumas dessas áreas, eram puramente políticas e que ele serviu perfeitamente aos interesses de Leopoldo 2º ao percorrer todo o país – arrasando tudo o que encontrou pelo caminho, incluindo os africanos, segundo alguns historiadores – e estabelecer pactos com os chefes locais, o que depois levou à fundação do sanguinário Estado Livre do Congo em 1885.Foram exploradores posteriores do início do século 20 que realmente fizeram uma contribuição à cartografia até hoje inestimável. “Se esses exploradores encontraram estanho em certo lugar, esse metal continua lá”, afirma Lavreau, cuja equipe formada por 20 geólogos já não é suficiente para atender aos pedidos da indústria.Enquanto isso, o governo do Congo não assiste impassível a todo esse despertar mineiro e pediu que os mapas voltem ao país, de onde nunca deveriam ter saído. “Pelo menos seria bom compartilhar os benefícios da consulta aos mapas”, disse Valentin Kanda Nkula, diretor do serviço nacional geológico do Congo, a “The Wall Street Journal”. Lavreau concorda e afirma que a única razão pela qual eles centralizaram a informação é porque não queriam que se perdesse, uma missão quase impossível no Congo, sempre em guerra. “Queremos montar uma instituição irmã do museu em Kinshasa, mas é uma questão de alto nível político e, como você sabe, a relação entre o Congo e a Bélgica sempre foi muito difícil.” Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
El Pais