A mídia e as mudanças climáticas
03/11/08
O papel da mídia ao abordar ou não abordar o tema da sustentabilidade foi amplamente discutido no Encontro Latinoamericano de Comunicação e Sustentabilidade promovido pela Agência Envolverde de notícias no mês passado em São Paulo. Convidada para a palestra de abertura do evento, a ex-ministra Marina Silva falou sobre a dificuldade que se tem, de valorizar algumas coisas que são intangíveis, o que pode tornar menos fáceis as pautas sobre o tema: ? É um modelo idealista, sonhador? Está fadado, por isso, a ser desclassificado? Fico imaginando se o Santos Dumont não fosse idealista. ? disse.Pesquisa realizada pela Agência de Notícias do Direito da Infância (Andi) durante 62 dias ao longo de julho de 2005 a junho de 2007 em 50 jornais, analisou 997 textos sobre mudanças climáticas e constatou que a imprensa não associou as mudanças climáticas ao desenvolvimento. Só 6% chamavam a atenção para os padrões de consumo da sociedade atual. Segundo o coordenador de relações acadêmicas da Andi, Guilherme Canela, essa questão ainda é pouco discutida: ? Se não revertermos os padrões de consumo não vamos chegar a lugar nenhum.A pesquisa mostrou que a imprensa retirou as questões ambientais dos textos, substituindo-as por mudanças climáticas sem, no entanto, deixar claro para o leitor o que é isto, realmente. Nessa lista entrou a questão das águas. O palestrante José Machado, presidente da Agência Nacional das Águas, o Brasil tem 12% da disponibilidade de água do planeta, e 70% dessa quantidade está na Amazônia. Só que a maior concentração da população está no Sul/Sudeste: ? Isso é complexo. Hoje, 27 estados têm sua lei própria de recursos hídricos. O desafio é este. As estruturas são débeis em muitos estados, e essa volatilidade é preocupante. E a mídia, quando pauta a questão, normalmente é por uma visão negativa. E ela poderia colaborar para que todos conhecessem mais sobre as nuances das políticas hídricas ? disse.
O Globo