A chegada da era da sustentabilidade
10/03/21
Em consonância com a Comissão Europeia, que pressiona pela imposição de requisitos de diligência sobre riscos ambientais e de direitos humanos para empresas da UE em 2021, os palestrantes do evento Brasil-Canadá ESG Insights reforçaram ontem a perspectiva de uma crescente análise à ESG em empresas em todo o mundo.
Durante os comentários de abertura, Dulce Meldau-Benke, da empresa de consultoria PROACTIVA, observou que as questões ESG vão além da gestão de risco e destaca “uma revolução inicial em que a precificação do risco climático gerou um movimento global de realocação de capital”.
Para Raquel Althoff, Consultora Líder da Löning – Direitos Humanos e Negócios Responsáveis, a atual legislação europeia sobre a diligência obrigatória de direitos humanos deve se espalhar para afetar “investidores e cadeias de abastecimento com impacto em várias empresas ao redor do mundo.”
Empresas de mineração como a Vale estão entre as que incorporaram gradualmente processos corretos de diligência em suas operações. De acordo com o Gerente Geral de Direitos Humanos e Sustentabilidade da empresa, Liesel Filgueiras, o treinamento em direitos humanos é fornecido aos funcionários desde 2016 e se tornou obrigatório a partir de março de 2021. “Nós nos concentramos significativamente na capacitação.”
De acordo com a especialista em Direitos Humanos da Brasken, Nathalie Laureano, discriminação e assédio são avaliados como de alto risco pela empresa. Segundo ela, a organização está em processo de implantação de diversas melhorias no processo de investigação para melhor atendimento às vítimas. “Não é apenas a coisa certa a fazer em relação aos direitos do outro, mas também em relação ao risco de afetar a reputação da empresa.”
Falando no painel de Relatórios ESG: Regulamentação e Tendências, Luciane Moessa, membro do Grupo de Especialistas Técnicos da Força-Tarefa para Divulgações Financeiras Relacionadas à Natureza (TNFD), pediu aos reguladores que trabalham no estabelecimento de padrões universais de sustentabilidade para divulgação de informações ESG . “Os investidores não podem comparar o desempenho de empresas do mesmo setor, porque respondem a perguntas com base em padrões diferentes.”
Claudia Salles, Gerente de Assuntos Ambientais do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), disse que o instituto adotou o programa TSM (Towards for Sustainable Mining) desde 2019 e atualmente está trabalhando na formatação de banco de dados setorial, a partir do compromisso público de seus membros, denominado Carta Compromisso, com vistas a garantir a transparência sobre o desempenho operacional do setor.
Roopa Dave, Associada em Sustentabilidade e Serviços de Impacto da KPMG Canadá, ecoou o apelo por mais e melhores informações ESG e observou uma mudança contínua em direção ao risco de biodiversidade. “O relatório de sustentabilidade tradicional tem se concentrado muito no impacto dos negócios na sociedade e agora está mudando um pouco para o que é o risco do clima para os negócios.”
Magali Gable, vice-presidente de Finanças Sustentáveis da BMO, destacou que os mercados precisam saber como as mudanças climáticas representam riscos para o negócio. Por exemplo, se uma mina pode ser inundada, será necessário investir em uma nova frota elétrica. “A ausência dessa divulgação significa que a empresa pode não ter pensado no risco por enquanto e em como a posicionará nos próximos cinco anos.”
Moderando o painel Compromisso ESG: Pegada de Carbono e Biodiversidade, Rebeca Stefanini Pavlovsky, Associada Sênior da Cescon Barrieu, comentou que a atividade de mineração é altamente dependente da natureza. “Proteger e restaurar o meio ambiente identificando, avaliando, mitigando e divulgando regularmente problemas relacionados à natureza é um jogo onde todos ganham.”
Ana Cabral-Gardner, presidente e diretora de estratégia da Sigma Lithium Resources, compartilhou a experiência bem-sucedida de ter levado em consideração os riscos ambientais e sociais ao implementar um projeto de produção de lítio no Brasil há cinco anos. Ela disse que o projeto atingiu um custo de financiamento 10% menor do que uma empresa júnior de mesmo nível na época, e agora é uma das menores produções de carbono de lítio do mundo. “Quando você pode mostrar argumentos quantificáveis, o apoio do investidor de capital aumenta e endossa novamente nosso compromisso com a sustentabilidade.”
Camila Goldberg, sócia de Finanças e Mercado de Capitais da BMA Law, disse que existem muitos conceitos acerca de como medir e colocar em prática ações pensando nas questões climáticas, e de redução da emissão de carbono. Ela observou que os setores de energia e mineração são altamente dependentes de financiamento de terceiros e está otimista de que os esforços internacionais, como o Acordo de Paris, podem ser traduzidos em regulamentação ou autorregulação nos setores industriais que também podem ter como alvo os mercados financeiros.
Sobre “The Brazilian Mining Sessions 2021” – The Brazilian Mining Sessions 2021 é uma série de eventos realizados online de 5 a 11 de março de 2021, incluindo a série de eventos “O Brasil-Canadá no PDAC”, que acontecem durante o PDAC 2021 Convenção Virtual. Os eventos são voltados para as indústrias brasileiras de exploração mineral e mineração e são sediados pelo Comitê Organizador do Brasil PDAC 2021, liderado pela Câmara de Comércio Brasil-Canadá e pela Agência para o Desenvolvimento e Inovação do Setor Mineral Brasileiro (ADIMB).
*com informações fornecidas pela ADIMB.