Vale entra no combate ao trabalho escravo
23/11/06
A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), maior produtora mundial de minério de ferro, deixará de vender minério para as empresas de ferro-gusa suspeitas de usar matérias-primas produzidas por trabalhadores brasileiros submetidos a regimes de escravidão. “Não estou interessado em fornecer a quem não respeita a lei”, disse o diretor-executivo da Vale, Tito Martins. “Não quero vender a alguém acusado ou suspeito de empregar mão-de-obra escrava ou de infringir as normas ambientais.”
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Os trabalhadores brasileiros submetidos a regimes de escravidão são obrigados a produzir carvão vegetal para empresas produtoras de ferro-gusa, matéria-prima fundamental para a fabricação do aço, segundo fiscais do Ministério do Trabalho e promotores de Justiça. A Vale fornece todo o minério de ferro utilizado pelas produtoras de ferro-gusa do Brasil, disse Maurílio Monteiro, professor da Universidade Federal do Pará, em Belém. Ao deixar de vender a essas empresas, a mineradora poderá, na prática, suspender a produção dessas companhias, disse Monteiro, que estuda o setor de ferro-gusa há 15 anos. “Elas são 100% dependentes da Vale.”
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A mineradora vende cerca de 4,5 milhões de toneladas de minério de ferro por ano a produtoras brasileiras de ferro-gusa, movimentando cerca de US$ 292 milhões, informou Martins. Mário Pamplona, diretor de planejamento da agência do Ministério do Trabalho no Estado do Pará, onde se localiza a maior parte das carvoarias que usam trabalho escravo, disse que a decisão da Vale pode ser um marco histórico. “Se a empresa realmente fizer isso, prejudicará os interesses econômicos dos que utilizam mão-de-obra escrava.” A Vale já se recusou a firmar contratos de venda de minério de ferro com cerca de 10 fabricantes de ferro-gusa da Amazônia porque elas não provaram que compram carvão vegetal de companhias que não empregam trabalho escravo, segundo disse Martins.
Gazeta Mercantil