Usinas discordam do BNDES e prevêem expansão menor
17/11/06
Ivo Ribeiro
17/11/2006
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A polêmica está criada: enquanto o BNDES alardeia que a produção de aço do país vai dobrar em cinco anos, com um agressivo programa de investimentos sustentado em boa parte com recursos do banco, representantes do setor são céticos. Eles acreditam que até essa data, no máximo, a indústria poderá crescer 35%. Assim, a capacidade instalada atingiria 50,4 milhões de toneladas. Hoje, é de 36,6 milhões de toneladas e o Brasil deve produzir neste ano 31 milhões.
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“Nós temos uma visão realista do que realmente pode sair do papel nesse prazo”, afirma Luiz André Rico Vicente, presidente do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) e presidente da Gerdau Açominas. Ele se baseia em ampliações de capacidade das usinas em curso, que somariam pouco mais de 7 milhões de toneladas, e em dois projetos novos já definidos – o da alemã ThyssenKrupp, no Rio, e o da Danieli/Dongkuk, no Ceará. Este último, no entanto, ainda aguarda o gás prometido pela Petrobras.
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O BNDES, informou, com base em sua pesquisa de intenções de projetos apresentados a ele, que os investimentos somarão R$ 37,1 bilhões no período 2007 a 2010. Com isso, afirma o banco, a capacidade de produção no país vai atingir 72 milhões de toneladas de aço bruto por volta de 2010/2011. A expansão viria de expansões de usinas existentes, operadas por Gerdau, Arcelor Mittal, Usiminas, CSN, Villares e Barra Mansa, e por novos projetos desses grupos e de investidores estrangeiros.
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Os demais projetos computados pelo banco – duas usinas da CSN, uma da Usiminas, outra da CST em Ponta do Ubú (ES), uma da Barra Mansa e até um novo salto da Gerdau Açominas – fazem parte de estudos que devem se concretizar depois de 2012. Uma grande obra leva pelo menos seis anos desde a definição de estudos, licenciamento ambiental, contratação de equipamentos e construção da usina. É o caso da CSA, da Thyssen, anunciada em 2003, que deve ficar pronta apenas em 2009.
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Conforme o banco, a expansão destina-se em maior parte a atender mercados externos, ampliando expressivamente as exportações do setor, atualmente estabilizadas no patamar de 12 milhões de toneladas por ano. A maioria do volume desses projetos seria de produtos semi-acabados (placas e tarugos), material usado para acabamento em outros mercados, como Europa e EUA.
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O argumento é que se tratam de estratégias internacionais de deslocamento de bases produtivas e que o Brasil, por seu nível de competitividade, é alvo de usinas novas, cuja produção para exportação substituirá unidades de aço que estão sendo fechadas em países da Europa e da América do Norte, como ocorre no setor de celulose. Aqui, afirma, há o mais baixo custo para fazer aço e o segundo em celulose.
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A questão não é tão simples assim, na visão de Rico Vicente e de executivos do setor. “Não há tempo hábil para maturação de projetos de grandes capacidades nesse período”, diz o presidente do IBS. Mesmo que isso fosse possível, significaria o Brasil despejar pelo menos 40 milhões de toneladas no exterior e consumir quase 30 milhões. As exportações mais que triplicariam e o consumo interno, que sobe e desce ao sabor da expansão do PIB, teria de crescer mais de 50% sobre as 19 milhões previstas para 2006.
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A competição no mercado externo seria ferrenha. Teria de enviar produto para a Ásia, para onde o custo do frete é um impeditivo para competir com material da Índia. Um obstáculo maior ainda nesse cenário róseo do BNDES é a China, lembra Rico Vicente. De importador, o país que mais se agiganta na produção de aço no mundo já se tornou forte exportador e ganha mercados na região e até no Ocidente.
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Três anos atrás, a China importava mais de 30 milhões de toneladas por ano. No primeiro semestre de 2006 já tinha exportado cerca de 20 milhões. E pelos estudos apresentados recentemente pelo Instituto Internacional de Ferro e Aço (IISI) a China vai expandir a oferta ainda por um bom tempo. Não há sinal de controle efetivo e racionalização da produção nas usinas locais.
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“Os mercados para usinas do Brasil ganharem dinheiro são Europa e Estados Unidos”, afirma o executivo. Porém, nessas regiões o consumo cresce pouco, bem menos que na Ásia. A estratégia é substituir altos-fornos que deverão ser fechados nos próximos anos, como os da ThyssenKrupp e Arcelor Mittal.
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“Na nossa estratégia, não vamos fazer uma usina de placas para competir no mercado spot”, afirma Rinaldo Campos Soares, presidente da Usiminas. O estudo do projeto da empresa, previsto para 5 milhões de toneladas, só ficará pronto no fim de 2007 e está condicionado a ter um parceiro que garanta a compra de boa parte da produção.
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Para Soares, fazer uma unidade de placas para exportação é interessante até certo ponto, pois onde se ganha dinheiro de fato é no mercado interno, onde as margens são melhores e os produtos de maior valor agregado. “As siderúrgicas na maioria dos países, como Japão, Coréia, Alemanha e Estados Unidos vendem de 70% a 80% para consumidores locais”, afirma.
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“Hoje, atuamos assim e, no futuro, não devemos ser muito diferentes”, diz o presidente da Usiminas. Ele defende que, para o Brasil produzir mais, o mercado interno terá de crescer a taxas mais substanciais do que os 4% a 5% atuais, duas vezes o PIB.
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Vicente, do IBS, acrescenta: “A grande prioridade do Brasil é o crescimento econômico, que deve vir com equilíbrio fiscal, redução de gastos e reforma tributária”. Para ampliar a demanda de aço, afirma, faltam mais obras de infra-estrutura, investir em programas habitacionais e eliminar gargalos logísticos. “De 36 milhões de toneladas para 50 milhões, serão movimentadas mais 14 milhões de produtos e 50 milhões de insumos e matérias-primas.”
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A Usiminas não descarta a estratégia da internacionalização, mas dentro de um parâmetro de aliança comercial ou “casamento” com usinas com elevado custo de produção que tem sobre-capacidade de laminação. Nesse caso, poderá se movimentar para uma aquisição, dependendo da oportunidade. Na linha de CSN, que tenta assumir a americana Wheeling-Pittsburgh. Essa empresa tem custo elevado de produção de aço e seu último alto-forno está em fim de carreira. A proposta é supri-la com aço feito no Brasil.
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É essa a estratégia que vai predominar daqui para frente, avalia Germano Mendes de Paula, professor-doutor da Universidade Federal de Uberlândia e especialista no setor. “Primeiro, as empresas procuraram extrair, depois da privatização, em meados dos anos 90, o máximo das usinas existentes com investimentos em modernização e expansão marginal. Agora, é natural o caminho de projetos casados, seja em aquisição ou parceria com consumidor estratégico.”
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O mercado de placas para exportação, previsto em 32 milhões de toneladas este ano, prevê atingir 50 milhões até 2015. Segundo apresentação recente da CST Arcelor, os projetos anunciados no mundo chegam a 75 milhões de toneladas. Desse volume, cerca de metade no Brasil e 30% na Índia.
Valor Econômico