CSN reformula RI, vai para Nível 1 e quer valorizar mina
11/10/06
Adriana Cotias
Valor Econômico
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11/10/2006
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Dois meses depois de voltar à diretoria de Relações com Investidores (RI) da Cia. Siderúrgica Nacional (CSN) José Marcos Treiger assume o papel de escrever um novo capítulo na história do relacionamento da empresa com o mercado. Valorizar o ativo Casa de Pedra – a jazida de extração de minério de ferro localizada em Congonhas (MG) – por meio de uma operação no mercado de capitais, encaminhá-la para o Novo Mercado e transformar o departamento de RI numa área de Responsabilidade Empresarial, aos moldes da Nokia Coporation, estão entre os planos de aproximação com o investidor. Emiliano Capozoli/Valor Treiger, da CSN: ao destacar o valor de mercado da Casa de Pedra, investidores devem valorizar o ativo CSN como um todo.
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Para colocar esses projetos em marcha, Treiger tem uma condição privilegiada e bastante incomum entre as grandes companhias de capital aberto no Brasil: ele se reporta diretamente ao presidente da empresa, Benjamin Steinbruch. O primeiro passo já tem data marcada, com a adesão da CSN ao Nível 1 de governança corporativa da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), prevista para 7 de dezembro.
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E com um ambicioso plano de investimentos, de US$ 6 bilhões, com o objetivo de quase triplicar a produção de aço bruto e aprofundar a internacionalização nos próximos anos, o mercado de capitais tende a ser o caminho. “A idéia é buscar o justo valor de mercado da mina (Casa de Pedra) e, dependendo de como se venha fazer a operação, conseguir liberar um valor até então não reconhecido nas ações da própria CSN”, afirma.
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Em período de silêncio, Treiger não se aprofunda muito na questão, mas antecipa que o fio condutor desse processo pode ser uma nova empresa com ações em bolsa, vendendo uma participação do projeto de mineração. No fim de março, quando Treiger ainda comandava o departamento de RI da Brasken, o vice-presidente de Infra-estrutura e Energia da CSN, Marcos Lutz, sinalizou ao Valor que a intenção era criar uma empresa de mineração a partir da cisão de Casa de Pedra, fazendo então uma oferta pública de ações, de 10% a 20% do capital. Na ocasião, a mina estava avaliada em US$ 4,7 bilhões.
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O raciocínio, sublinha Treiger, é que ao destacar o valor de mercado da Casa de Pedra, os investidores valorizem o ativo CSN como um todo. Ele compara a mina à Caemi, que tem um tamanho parecido e que antes de ser incorporada à Vale do Rio Doce chegou a ser negociada no mercado por US$ 6,5 bilhões. O valor em bolsa da CSN hoje é de cerca de US$ 8 bilhões.
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Depois de a MMX abrir o capital, em julho, a Merrill Lynch estimou a Casa de Pedra entre US$ 3,7 bilhões e US$ 4 bilhões, sem, contudo, considerar a cláusula de preferência que a CSN mantém com a Vale do Rio Doce no fornecimento de minério de ferro. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) chegou a qualificar tal acordo como concentração de poder no setor de mineração, determinando que a Vale vendesse a Ferteco ou abrisse mão do direito pelo excedente de minério de ferro produzido em Casa de Pedra. A Vale contesta na Justiça a exigência.
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Do pregão tradicional, a CSN era uma das poucas empresas do mercado brasileiro que só tinha ações ordinárias (ON, com direito a voto) em circulação à época da criação do Novo Mercado, em 2000. Era, portanto, tida como uma candidata natural a ingressar no segmento que prevê regras rígidas de transparência e respeito aos direitos do acionistas minoritários. Não foi e só agora, seis anos depois, é que vai aderir ao Nível 1 de governança corporativa da Bovespa.
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“Há ainda alguns ajustes antes do Novo Mercado, pois tem a Câmara de Arbitragem (uma das exigências para se resolver conflitos) e a CSN é uma empresa de 65 anos, existem questões jurídicas não imputadas a essa administração, são problemas anteriores à privatização”, justifica Treiger. “Mas a companhia não pode fugir da responsabilidade de resolvê-los.” Ele conta que, do Nível 1, a empresa poderá ir diretamente para o Novo Mercado, uma vez que outras práticas de governança, como a existência de integrantes independentes no conselho de administração, já estão incorporadas à rotina da empresa.
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Como grande pagadora de dividendos, distribuindo todo o excesso do fluxo de caixa, a CSN quer ainda aumentar a participação do investidor individual na sua base acionária. Hoje são cerca de 15 mil acionistas, em grande parte institucionais, mas já foram quase 20 mil investidores, contabiliza Treiger. Ele atribui a diminuição do interesse das pessoas físicas ao perfil mais reservado adotado pela empresa nos últimos anos, enquanto tinha como foco a resolução de questões societárias.
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A aproximação, agora, passa por um plano de reformulação da diretoria de RI que ele quer ver transformada numa área de Responsabilidade Empresarial, aos moldes da Nokia Corporation, em que Governança, RI e Comunicação estão de baixo de um mesmo guarda-chuva. “O profissional de RI funciona como o ombudsman da companhia, ele tem de ser a voz das ruas e pautar a reação do investidor às estratégias da empresa”, argumenta. Treiger voltou à CSN após uma temporada de quase quatro anos na Brasken. A sua passagem anterior pela siderúrgica teve início em 1996, pouco depois da privatização, quando ele recebeu a missão de criar a área de RI da empresa e inseri-la no mundo econômico-financeiro. O executivo já atuou também no RI da Aracruz Celulose.