São Paulo quer ser pólo do resseguro
16/08/07
Gilberto Kassab, prefeito de São Paulo, abre hoje seminário que vai mostrar a executivos do setor os principais atrativos da cidade para o setor de resseguros A tão esperada abertura do mercado de resseguros, discutida há mais de 15 anos, vai provocar nova briga entre paulistas e cariocas. A prefeitura de São Paulo quer transformar a cidade em um pólo nacional de resseguros. A idéia é aproveitar a abertura e atrair as resseguradoras para cá. O governo do Rio anunciou recentemente que pretende criar por lá a “Cidade do Seguro” e transformar a capital carioca no maior pólo de resseguro da América Latina. Em São Paulo, a estratégia para conquistar as resseguradoras começa hoje. O prefeito da cidade Gilberto Kassab abre na tarde desta quinta-feira um seminário organizado pela prefeitura que vai reunir todo o mercado segurador e ressegurador, além das entidades que representam o setor. O primeiro painel terá o tema “São Paulo Cidade das Oportunidades – Cidade Global”, e será apresentado por Alfredo Cotait Neto, secretário municipal de Relações Internacionais. Segundo o secretário, o objetivo é selar um acordo com os presentes para criar o pólo na cidade. “O mercado de seguros está em São Paulo”, argumenta Cotait. Por isso, a concentração das resseguradoras na cidade facilitaria os negócios, pois as empresas teriam acesso a todo o mercado, o que tornaria mais fácil a obtenção de melhores cotações. Londres, por exemplo, concentra as operações mundiais do resseguro com o sindicato do Lloyds. Além de facilitar os negócios, Cotait destaca que o pólo paulista reduziria custos para as seguradoras, eliminando a necessidade de visitas periódicas ao Rio. A capital carioca é a sede do IRB Brasil Re, único ressegurador autorizado a operar no Brasil até a publicação da regulamentação do setor. Por isso, quem trabalha em São Paulo precisa sempre ir ao Rio. Algumas seguradoras ainda têm sede por lá. Uma delas é o Bradesco, que concentra parte de suas operações na cidade, mas também tem parte importante dos negócios em São Paulo. A briga entre as duas cidades pelo mercado de resseguros envolve um setor que movimenta valores bilionários, exige mão de obra altamente qualificada e opera com contratos muito sofisticados, com resseguros de aviões, plataformas de petróleo, navios e usinas hidrelétricas.
O Brasil tem hoje nove resseguradoras estrangeiras com escritórios aqui, como Swiss Re, a maior do mundo, e a Munich Re, a segunda maior. Destas, seis estão em São Paulo e as outras, no Rio. No passado, quando o mercado quase foi aberto, o país chegou a ter 20 empresas. Por isso, a expectativa dos especialistas é que pelo menos estas 11 que saíram voltem para cá, além de outras novas que possam se interessar pelo mercado brasileiro. A decisão das estrangeiras depende ainda da publicação da regulamentação final do setor, que deve ficar pronta até o final do ano e vai definir os limites e valores mínimos para operar no país. O setor de resseguros movimenta cerca de R$ 3 bilhões por ano no Brasil em prêmios. Deste total, mais de 52% estão concentrados no Estado de São Paulo, disse Cotait ao Valor. Já o Rio, por conta dos projetos do setor de petróleo, siderurgia, portos e mineração, a demanda por seguros patrimoniais e de riscos nesses segmentos deve ser grande, disse recentemente ao Valor o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviços, Júlio Bueno. A cidade está “mobilizando a classe empresarial” e o governo estadual tem feito encontros com executivos do setor para tentar debater meios de privilegiar o Rio na hora de as companhias terem que optar por uma resseguradora. “Queremos, por exemplo, que a Petrobras opte por uma empresa resseguradora do Rio na hora de fazer os resseguros de suas plataformas”, disse o secretário ao Valor. A Fenaseg, a federação do setor de seguros, também foi acionada, e avalia os tributos que incidem no setor. Cotait, da prefeitura de São Paulo, argumenta que o projeto de criar o pólo de resseguros na cidade não é uma competição com o Rio. “É uma decisão da empresa (escolher entre Rio e São Paulo). Queremos colocar a cidade à disposição”, afirma. “São Paulo tem a vocação para os serviços. O Rio tem para o turismo”, completa o secretário. A cidade maravilhosa perdeu para São Paulo vários bancos e a própria bolsa de valores, com as operações se concentrando no mercado paulista. Com o resseguro, a idéia é justamente tentar reverter este quadro e dar novo ânimo para a cidade. foto: Marisa Cauduro / Valor
Valor Econômico