Mineração tem participação pequena no PIB da Amazônia, mas responde por 40% de suas exportações
15/08/07
Na Amazônia, a mineração participa com apenas 3% do PIB (soma total de bens e serviços produzidos no território) e gera de forma direta menos de 2% dos empregos formais da região. Mas o setor responde por 40% do valor exportado pela região, sendo que no Pará e no Maranhão os metais e minerais, com destaque para alumínio, ferro e aço, representavam mais de 70% do valor exportado em 2006. Esta é parte da análise da economia na Amazônia que integra o estudo ?O avanço da fronteira na Amazônia: do boom ao colapso?, que o Instituto do Homem e do Meio Ambiente (Imazon) está lançando esta semana e já divulgado em parte pelo ?Pará Negócios?. O estudo, de autoria dos pesquisadores Danielle Celentano e Adalberto Veríssimo, mostra que exportações da Amazônia aumentaram consideravelmente nos últimos anos. Em 2006, a região exportou quase US$ 15 bilhões (11% do total nacional). Os Estados com maior participação no valor exportado foram Pará (45%) e Mato Grosso (29%). Os derivados vegetais, principalmente grãos, responderam por 19% do valor exportado, sendo que 80% deste valor foi exportado pelo Mato Grosso. Os produtos de madeira e seus derivados ficaram em terceiro lugar, com 8% e destaque no Pará. Os produtos de origem animal responderam por apenas 6% das exportações regionais. Embora a pecuária de corte seja o principal uso do solo nas áreas desmatadas, a região ainda exporta pouca carne. Para os pesquisadores, essa tendência poderá sofrer alterações com a melhoria no controle da febre aftosa em boa parte da região. A economia amazônica Ao fazer um histórico da economia na Amazônia, o estudo do Imazon lembra que a primeira inserção da região na economia do País ocorreu durante o ?Ciclo da Borracha?, de 1879 a 1912. Após o colapso da economia da borracha em 1912, a região passou por um período de ocaso econômico até meados da década de 1960. Nas décadas de 1960 e 1970 houve grandes investimentos na região para o estabelecimento da agropecuária, projetos de mineração e de infra-estrutura. A partir de meados dos anos 1980 até metade dos anos 1990, os recursos governamentais foram reduzidos progressivamente devido à recessão econômica daquela época. Por outro lado, a economia regional foi impulsionada pelo boom madeireiro associado à expansão da pecuária extensiva. A retração dos investimentos federais, segundo o trabalho, durou até meados da década de 1990, quando houve anseio da retomada de novos investimentos públicos à região por meio do Programa Avança Brasil. Em 2007, o governo federal lançou o PAC, com previsão de grandes investimentos na região principalmente em infra-estrutura (como a construção de hidrelétricas, pavimentação e recuperação de estradas). O PIB (Produto Interno Bruto) cresceu na Amazônia em média 6% ao ano entre 2000 e 2004. Em 2004, chegou a US$ 51 bilhões, o que representa pouco mais de 8% do PIB nacional. Naquele ano, os maiores PIBs da região eram o do Amazonas (US$ 13,3 bilhões), que ocupava a 11ª no ranking nacional, seguido do Pará (US$ 12,7 bilhões), que ocupava a 13ª posição no ranking) e o do Mato Grosso (US$ 10,4 bilhões). Roraima apresentava o menor PIB regional, com apenas US$ 700 milhões. Em 2004, o setor de serviços respondeu por 43% do PIB da Amazônia (US$ 20,3 bilhões), enquanto a indústria participou com 38% (US$ 18,1 bilhões) e o setor agropecuário, com 19% (US$ 9 bilhões). O PIB de serviços foi o mais importante em todos os Estados, com exceção do Amazonas, onde o setor industrial respondeu por 70%, e no Mato Grosso, onde a agropecuária representou 41% do PIB. No PIB de serviços, o destaque foi para a contribuição da administração pública (44% em 2004). No Acre e em Roraima, a administração pública representou 63% e 64%,respectivamente, do PIB de serviços, o que indica a forte dependência entre a economia da região e as despesas públicas. O PIB industrial da Amazônia aumentou de US$ 9,1 bilhões, em 1990, para US$ 18,1 bilhões em 2004 (7% do PIB industrial brasileiro). O Amazonas respondia por 47% desse valor em 2004. Por sua vez, o PIB agropecuário da Amazônia aumentou de US$ 5,5 bilhões em 1990, para US$ 9 bilhões em 2004. Mato Grosso e Pará eram responsáveis, respectivamente, por 43% e 30% desse valor. O PIB agropecuário da Amazônia representou apenas 15% do PIB agropecuário do Brasil em 2004. Em relação à mineração, o trabalho dos pesquisadores do Imazon relata que na Amazônia essa atividade foi iniciada na década de 1940, com a exploração das reservas de manganês na Serra do Navio, no Amapá. Na década de 1970, instalaram-se os pólos minerais de Carajás e do Trombetas, no Pará. Atualmente, a maior empresa de mineração na região é a Companhia Vale do Rio Doce, que em 2006 transformou-se na segunda maior mineradora do mundo. Outras empresas de mineração de grande porte, como a Rio Tinto, estão investindo em pesquisas minerais. Outras, como a Alcoa, na instalação de minas na região. Empregos e desigualdade A População Economicamente Ativa (PEA) na Amazônia passou de 5,7 milhões em 1991, para 8,4 milhões em 2000 e para 11,7 milhões em 2005, o que representa 63% da população amazônica com mais de 10 anos. Entre a PEA amazônica, 7% (767 mil pessoas) estava desempregada em 2004 contra 6% em 1992. No Brasil, o desemprego atingia 9% da PEA em 2004. Na Amazônia, os Estados com maior porcentagem de desemprego eram o Amapá (13%) e o Amazonas (10%). Em 2004, apenas 21% da PEA tinha um emprego formal registrado na Amazônia. Diz mais o estudo: os empregos formais cresceram 50% na Amazônia entre 2000 e 2005, passando de 1,7 milhão para 2,5 milhões de postos de trabalho. Nesse período, a taxa de empregos formais aumentou em 31%, passando de 83 empregos para cada 1 mil habitantes, em 2000, para 109 empregos em 2005. O Mato Grosso tinha a maior taxa de empregos formais (178 postos formais para cada 1 mil habitantes), enquanto o Maranhão apresentava a menor (66). Em 2005, o setor de serviços empregava 59% dos trabalhadores formais (principalmente a administração pública) seguido do comércio (18%) e indústria (14%). Por outro lado, a agropecuária empregava apenas 5% dessa população. O estudo cita ainda que a informalidade no Brasil gerou uma receita de R$ 17,6 bilhões em 2003 e empregou 25% dos trabalhadores nas áreas urbanas (13,9 milhões de pessoas) e 70% no meio rural. Um estudo do Banco Mundial (2004) estima que a economia informal no Brasil responde por 40% da renda nacional bruta. Na Amazônia, estima-se que, em 2004, a informalidade possa ter atingido 8 milhões de pessoas (68% da PEA da região). O dramático é que, naquele ano, 420 mil crianças entre 10 e 14 anos trabalhavam na região. Maranhão e Rondônia tinham a maior porcentagem de crianças trabalhando (20%), enquanto o Amapá tinha a menor (4%). De acordo ainda com o trabalho do Imazon, a remuneração média na Amazônia (R$ 4,1 a hora) era 15% inferior à média brasileira (R$ 4,7/ hora) em 2004. O Mato Grosso tinha a maior remuneração (R$ 4,8), enquanto o Maranhão estava em último lugar (R$ 2,9). Em 2004, pessoas com até quatro anos de estudo recebiam em média R$ 2,6/hora, enquanto pessoas com mais de 12 anos de estudo recebiam R$ 12,1/hora. Na Amazônia (assim como em todo o Brasil), o salário das mulheres é inferior ao dos homens em média 32%. Outra informação dramática: a Amazônia é a região brasileira com maior número de mortes relacionadas ao trabalho. Em 2004, esse número foi de 21 óbitos por 100 mil trabalhadores, enquanto no Brasil a taxa é de 12 mortes para 100 mil trabalhadores. ?Além disso, esses números da região são provavelmente subestimados, uma vez que os acidentes são reportados apenas no mercado formal de trabalho?, acrescenta. A concentração de renda na Amazônia é outro fato mostrado no estudo, que compara a participação da população mais rica (1% mais ricos) com a da mais pobre (50% mais pobres) na renda domiciliar total. Segundo dados do Ipea, as 225 mil pessoas mais ricas da Amazônia detêm 12% da renda domiciliar total da região, enquanto outras 11,3 milhões de pessoas mais pobres detêm praticamente a mesma fatia (16%). ?A situação de desigualdade na Amazônia é similar à do Brasil?, afirmam os pesquisadores.
Pará Negócios