Mercado de geomembranas tem chances de sair do fogo brando
10/08/07
Somado à paquidérmica tramitação burocrática e à incerteza regulatória, o pipocar de escândalos no poder público tem emperrado projetos de infra-estrutura como os do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC). Com essa calmaria forçada, acaba também protelada uma série de obras de construção civil, cuja demanda poderia livrar da pequenez o consumo brasileiro de geomembranas, as impermeáveis mantas de resinas, lideradas por polietilenos (PE – em regra, de alta e média densidades), para conter o movimento de líquidos, sólidos ou gases em aplicações de engenharia – casos de proteção ambiental, recolhimento de água, canalizações e prevenção contra infiltração de água em construções e contra perda de água em reservatórios. “O mercado de geomembranas permanece limitado devido à carência de investimentos públicos em obras civis”, interpreta Marco Oliveira, líder do segmento de injeção e extrusão rígida de PE da Braskem, nº1 nacional no polímero. Pela sua análise, programas governamentais de obras, como os de infra-estrutura, mobilizam o grosso do consumo nacional de geomembranas, a exemplo de aterros sanitários, cisternas, canais ou revestimento de túneis, ele completa. “O PAC ainda não repercutiu no consumo de PE para materiais de construção de obras públicas, caso de produtos como geomembranas ou dutos de gás”, ele percebe. Do lado privado, reconhece Oliveira, há setores nos quais, mundialmente, a geomembrana tem cadeira cativa, caso da mineração. A manta é um meio de evitar a contaminação do solo durante a extração de minérios na fase de lixiviação (dissolução e remoção de componentes de rocha e solo). No Brasil, porém, esse potencial não tende a desabrochar tão cedo. Apesar da invejável musculatura do país na área, o movimento de geomembranas na sua mineração é mirrado a ponto de apanhar do peruano na América do Sul. Entre os analistas do ramo, Marcelo Ribeiro Tunes, diretor de Assuntos Minerários do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), fisga como razão básica os tipos de minérios lavrados aqui. “A produção chilena, por exemplo, tem seu maior volume direcionado à minérios que podem ser tratados pelo processo de lixiviação,o qual demanda uso maior de geomembranas”, ele esclarece. Conforme detalha, o Chile é referência mundial na produção de cobre, motivo de sua alta utilização do método de lixiviação por pilhas. “No Brasil, o uso dessa técnica ainda é pequeno perante outras que respondem pela maior parte de nossa produção mineral”, pondera Tunes. Mas à medida em que o país ampliar a produção de minérios passíveis de serem tratados por lixiviação, ele coloca, “o consumo brasileiro de geomembranas deverá crescer e, possivelmente, o melhor exemplo é o do cobre”. No momento, o Brasil permanece grande importador de cobre e tem trabalhado predominantemente com minérios tratados por processos que não a lixiviação. Tunes insere que, com a entrada em produção e futura ampliação de minas na região paraense de Carajás, o Brasil vai passar a exportador de cobre, condição que, manda a lógica, engordará seu consumo de geomembranas. O diretor arremata que o Brasil figura entre os 20 maiores fornecedores de cobre do planeta e os principais produtores locais são a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), que negou entrevista alegando não comentar assuntos como geomembranas, e a Mineração Caraíba. Frank Backer, gerente da planta de lixiviação da Mineração Caraíba na Bahia, assina embaixo do diagnóstico do porta-voz do Ibram. “O uso de geomembranas de PEAD na mineração está particularmente associado ao processo de lixiviação em pilhas, adotado em ouro e cobre”, indica. Das unidades de mineração no país, enxerga Backer, apenas a fábrica de cobre de sua empresa e duas de ouro comandadas pela Yamana empregam tratamento de lixiviação. “Com a atual expansão da atividade mineradora no Brasil, espera-se um aumento no consumo de geomembranas nos próximos anos”, ele deduz. Para implantar sua fábrica de lixiviação em pilha para cobre, abre o gerente, a Mineração Caraíba adquiriu 140.000 m2 de geomembranas de PEAD, com espessura de 1,5 mm. A gaúcha Plastisul confirma ter sido um dos fornecedores. “Em qualquer processo de lixiviação em pilha para o qual órgãos ambientais exijam a impermeabilização da área, a geomembrana de PEAD é considerada o meio mais eficiente”, coloca Backer. Confirme avalia, PEAD é a resina ideal para impermeabilização do solo devido à resistência mecânica, química e à radiação UV. “Nos anos 80, policloreto de vinila (PVC) foi usado nesta aplicação, mas perde para PEAD pelo preço superior e proteção anti UV muito inferior”, ele compara. Do posto de observação da Braskem, Marco Oliveira assinala que o grupo aguarda o desdobrar da demanda nacional da geomembrana. No momento, as atenções da Braskem voltam-se com primazia a mercados mais maduros e musculosos. Tão logo a mineração ou obras públicas como a polêmica transposição do leito do rio São Francisco, projeto na fila desde a era FHC, façam a produção local de geomembranas desencabular, condiciona Oliveira, a Braskem naturalmente aprofundará seu pente-fino desse segmento. Mas no caso da geomembrana, ressalva o executivo, essa marcação não está em total ponto morto. Isso porque a empresa não perde de vista outros produtos de maior giro, como lonas ou agrofilmes como mulch, também extrusados pelos principais transformadores de geomembranas – além da Plastisul, constam a Neoplastic e Nortene, que recusaram entrevista. Oliveira observa que essa pluralidade de produtos, obtidos no mesmo equipamento que provê a geomembrana, dificulta a nitidez dos indicadores referentes a ela. “Se considerada uma capacidade instalada 100% dirigida à geomembrana”, teoriza, “o potencial produtivo brasileiro chegaria à faixa mínima de 5.000 t/mês”. Numa visão otimista, estima, o consumo doméstico de geomembranas hoje rondaria 1.0001.500 t/mês, mesma marca atribuída à parcela exportada. “Na teoria, a diferença mostra um espaço animador para a geomembrana crescer até esgotar a capacidade instalada” J ele entrevê. Escorado no portfólio da Braskem, Oliveira desconhece resina nacional desenhada para geomembranas, sendo a praxe o blend de polietilenos a cargo do transformador. Entre outros produtores locais, Riopol e Petroquímica Triunfo informam não dispor de grades para geomembranas. A Braskem, por seu turno, limita-se hoje a oferecer aos transformadores tipos não específicos de PEAO, PEBO e PEBOL para as misturas destinadas à extrusão da geomembrana, informa Oliveira, assinalando que seu mostruário para a manta não abrange a resina de média densidade (PEMO). “Quanto ao processo, a extrusão blown favorece o trabalho com tiragens menores de geomembrana e demais produtos como lonas, enquanto a coextrusão cast focaliza a produção dedicada, fora da realidade do mercado interno”, pondera Oliveira. A extrusão blown domina à larga o reduto brasileiro de geomembranas, inclusive devido ao fato de o Brasil contar com um fabricante do equipamento, a Carnevalli e depender de importações para as linhas cast, estas também mais caras que extrusoras de filmes tubulares. “A extrusão cast acena com taxa mais alta de produção e espessuras maiores que o processo blown, analisa Eliezer Maldonado, executivo de marketing para PEAO da Dow América Latina. “No entanto, o método blown possibilita a produção de filmes mais largos de geomembranas utilizando-se área de ocupação da máquina menor que pela via cast”. Maldonado esclarece que os filmes de maior largura são preferidos no campo por reduzirem o número de soldas necessárias para se cobrir a área de projeto. Em 2006, situa o especialista da Dow, o movimento brasileiro de geomembranas rondou 6.000 toneladas e a demanda tende a evoluir à média de 6% anuais no próximo qüinqüênio. Um dos motores desse avanço, ele encaixa, é a expansão da atividade de mineração. No momento, o Chile domina o consumo latino-americano de geomembranas de PE, respondendo por 15.000 toneladas anuais, situam Sidnei Lamin, especialista sênior em P&O do negócio de plásticos da Dow América Latina, e Jorge Caminero Gomes, líder de desenvolvimento do negócio de plásticos da Dow Brasil. Projeções do grupo situam em torno de 25.000 toneladas o consumo total de geomembranas de PE na América Latina, vindo à frente o Chile, mérito do tratamento do minério de cobre por lixiviação, endossa Lamin. Maldonado intercede assinalando que o uso intenso de geomembranas na mineração chilena decorre do emprego de agressivos produtos químicos, como ácido sulfúrico na extração de cobre via lixiviação. Já no Brasil, em lugar de se adotar a geomembrana, coloca o expert, a praxe para alguns dos minerais produzidos no país é de transferi-los da mina para um local onde serão processados, “caso da fundição de alumínio”, ilustra Maldonado. Estudos divulgados pela Dow apontam que a resina de PE destinada a geomembranas deve primar por densidade superior a 0,932 g/cm3 e índice de fluidez inferior a 1 g/1 Omin, pelos parâmetros da norma ASTM 1238 a 190ºC e peso de 2,160 kg. Pelos portfólios da petroquímica sul-americana, o complexo argentino da Dow é a única fonte de resinas específicas para a extrusão de geomembranas. O mostruário inclui três grades de PEMD, todos sobressaindo por propriedades mecânicas a exemplo de stress cracking e resistência ao rasgo, tração e perfuração, além de barreira à água. Para a extrusão de matriz plana (cast), é ofertado o tipo 8818, também acenado para dutos de gás, com densidade de 0,940 g/cm3 e fluidez de 0,77g/10min (a 190ºC com peso de 5kg). Por seu turno, a produção da manta pelo processo blown é assediada pela Dow com dois grades, ambos com densidade de 0,939 g/cm3 e O,38g/1 O min de fluidez (a 190ºC com peso de 5 kg). Um deles, a resina 6995, foi desenhado para geomembranas de parede acima de até 1 mm, enquanto o tipo 6985 adequa-se ao trabalho com espessuras superiores. CARNEVALLI COBRE MONO E COEXTRUSÃO Wilson Carnevalli Filho, diretor da Carnevalli, blue chip nacional em extrusoras blown, afiança que sua empresa é a única fornecedora no país de máquinas para geomembranas. Sua maior concorrente em extrusoras de filmes tubulares, a Rulli Standard, não deu entrevista. “Produzimos dois modelos básicos para películas como geomembranas, lonas ou agrofilmes e que rodam em velocidades de até 70 m/min e espessuras de 0,5 a 2,5 mm², delimita Fernando Machado, gerente comercial da Carnevalli. Um dos equipamentos é a monoextrusora Polaris Magnum 160-33000 LA para geomembranas de até 6 m de largura. Com diâmetro de rosca de 160 mm com L/O 30:1, sua produção máxima é fixada em 900 kg/h. A outra máquina é a coextrusora para três camadas Polaris 3, nas versões PO 3300 e PO 400, respectivamente dirigidas a geomembranas de 6 e 8 m de largura, sob produção máxima de 1.500 kg/h em trabalho com matrizes de 1.200 a 2.000 mm de diâmetro e roscas de diâmetro de 90/120/90 ou 120/120/120 mm com L/O 30:1. Machado ressalta que, para as corridas de películas para geomembranas, esses equipamentos agregam itens especiais para a abertura longitudinal do filme e sistema adicional de pré-arraste, antes da entrada do bobinamento.”Todas as linhas para geomembrana dispõem de sistemas para renovação do ar interno do balão (IBC) e para controle automático de espessuras em processo (Carnevalli Multipont), integrado com software para gerenciamento da linha”, ele encaixa. Conforme a configuração, ele condiciona, o preço da monoextrusora parte de R$ 1,9 milhão e, para as coextrusoras, de R$ 3,2 milhão.
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