06/08/07

Nascida em Belém do Pará, Ana Júlia de Vasconcelos Carepa começou na política como líder estudantil, na Universidade Federal do Pará. Em 1992, elegeu-se vereadora em Belém e, quatro anos depois, chegou à Câmara dos Deputados. Em 1997, integrou uma chapa do PT para a Prefeitura de Belém, elegendo-se vice-prefeita e acumulando também a Secretaria Municipal de Urbanismo. Em 2004, candidatou-se à prefeitura, mas perdeu para o também senador Duciomar Costa, do PTB. Em 2006, candidatou-se ao governo do Pará e foi eleita com 1.673.648 votos, o equivalente a 54% dos votos válidos no 2° turno. Ana Júlia é a primeira mulher a governar o estado como titular. DCI: Quais são as principais prioridades do seu governo? Que investimentos estão previstos para o período de seu mandato? Ana Júlia: Saúde, Educação e Segurança Pública são três prioridades básicas. Vamos definir as prioridades a partir das reuniões do PTP, o Planejamento Territorial Participativo. Já percorremos 12 regiões do estado para saber o que a sociedade local aponta como prioridade. A partir da decisão popular, vamos definir os investimentos e recursos para o período 2008/2011. DCI: Qual a sua avaliação do Programa de Aceleração de Crescimento do governo Lula? Quais as obras previstas pelo PAC no Pará? AJ: É um programa importante para tocar obras necessárias que vão melhorar o país em vários setores, inclusive o social. O Pará terá, com o PAC, novas estradas, portos e saneamento. O programa prevê a conclusão das eclusas da hidroelétrica de Tucuruí, o asfaltamento das rodovias Santarém-Cuiabá e Transamazônica, a construção da hidroelétrica de Belo Monte e a ampliação do Porto de Vila do Conde. DCI: O que é a política de fomento para a promoção do desenvolvimento sustentável? AJ: Essa política de fomento se baseia em três aspectos principais. Primeiro, a sustentabilidade ambiental, ou seja, o conjunto de projetos que vamos aprovar que não sejam degradantes do meio ambiente. O segundo diz respeito aos elementos tecnológicos em si. É necessário que desenvolvamos uma capacidade de uso de tecnologias aplicáveis às nossas características naturais: os projetos que se enquadrem nessa área, serão bem recebidos. O terceiro elemento diz respeito à utilização tanto do conhecimento tácito, ou seja, do conhecimento que pertence às populações nativas, como também o processo de melhora na capacidade de qualificação dessas populações. DCI: Quais as diretrizes para a concessão de benefícios do fomento ao desenvolvimento sustentável? AJ: Na política que nós apresentamos, construímos uma matriz de indicadores. Essa matriz de indicadores passa por um conjunto de elementos. Leva em conta o estímulo à economia local; a preservação do meio ambiente; o fortalecimento do capital social, que também pode ser visto como infra-estrutura da sociedade; formação e capacitação de mão-de-obra; o estímulo à ciência, tecnologia e inovação; fortalecimento da economia das cidades médias do interior do estado; fortalecimento e implantação de empresas de base tecnológica e de turismo na região metropolitana de Belém e o fortalecimento de setores estratégicos e cadeias produtivas selecionadas pelo governo do estado como prioridades. DCI: Qual o objetivo da política de fomento no campo empresarial? AJ: A política de fomento vai possibilitar com que se tenha uma segurança jurídica estruturada em relação às empresas do Estado do Pará. Essa política também possibilita com que se tenha um nível de alavancamento das empresas sob o ponto de vista das suas condições de aplicação de recursos. E, por último, possibilita com que as empresas possam ter um horizonte de financiamento estabelecido a partir de critérios objetivos e claros. DCI: Quais os principais segmentos e cadeias produtivas a serem atendidas? AJ: A indústria de base, em particular a metalurgia, a fabricação de biocombustível e a utilização de aparelhamentos de pedras, de fabricação de outros produtos minerais não metálicos; outro segmento seria a indústria de bens de capital, em particular a fabricação de estruturas metálicas e também a fabricação de máquinas e equipamentos; uma terceira categoria seria a indústria de bens de consumo finais e seus componentes, em particular a produção de massa alimentícia, a fabricação de móveis, nesse sentido a movelaria cumpre um papel muito importante; a fabricação de artigos de couro que, em particular, vai ser um elemento importante em função da pujança do nosso rebanho de gado; um outro elemento será a indústria de base tecnológica, em particular nos interessa a biotecnologia, o setor de tecnologia de informação e o setor de energia. Teremos ainda a indústria de reciclagem; a agroindústria, em particular a produção de carnes e sucos de frutas e a produção de produtos de pescado. Esses três são extremamente importantes na agroindústria do estado e tem de ser incentivado, na medida em que boa parte da estrutura do interior gira em torno desses 3 elementos; e, por último, o turismo. DCI: O Pará é um estado com indicadores baixos de desenvolvimento humano. Quais as ações para melhorar esse quadro? AJ: Nos últimos 12 anos, o Pará manteve um modelo de desenvolvimento excludente. O governo anterior investiu em obras estruturantes, mas esqueceu do social. Daí termos baixo IDH. Nossa primeira medida é romper com esse modelo excludente e implantar um novo modelo de desenvolvimento que prioriza educação, saúde e investimento em tecnologia. Educação de qualidade, com melhorias para o professor e ensino para todos; saúde preventiva e inauguração de novas unidades de saúde nos municípios paraenses, cito a entrega de três hospitais regionais, recentemente: um em Redenção, outro em Altamira, e em Santarém. DCI: A senhora foi acusada de nepotismo logo no início do mandato. Este problema continua? Qual sua opinião sobre a nomeação de parentes? AJ: Sou contra a prática do nepotismo e combato isso no meu governo. Fui mal interpretada no início do mandato por ter nomeado pessoas muito próximas de mim, que não são meus parentes, mas, sim, colaboradores históricos do Partido dos Trabalhadores [PT]. A melhor prova de que eu não estou de acordo com a contratação de parentes é um ofício do promotor de Justiça Geraldo Rocha, no qual ele diz que respondi satisfatoriamente às recomendações do Ministério Público sobre o nepotismo. DCI: O PT sempre foi adversário do deputado Jader Barbalho (PMDB) no Pará, hoje aliado da senhora. Como está a convivência e configuração da aliança regional? AJ: Repetimos aqui no Pará um acordo político que vem ocorrendo desde 2002, em nível nacional. O PT tem um plano de governo e precisa de aliados para executá-lo. Há uma aliança nacional que garante a governabilidade e uma aliança regional que garante a governabilidade também. DCI: Na sua opinião, as denúncias envolvendo o presidente do senado Renan Calheiros, mancham a imagem do Congresso Nacional? Ele deveria renunciar? AJ: A maneira como o caso é explorado pela imprensa mancha qualquer imagem. Quando uma denúncia vem à tona, as especulações são inevitáveis. Eu só acho que é incorreto generalizar. No Congresso Nacional há políticos com históricos dignos que merecem respeito. O senador Renan Calheiros, que é alvo de investigação, tem direito à ampla defesa e deve responder por si. Se forem comprovados atos ilícitos contra ele, que receba a punição que merece. Agora, é preciso entender que nem todo político é corrupto neste país. Existem exemplos ruins, mas também existem bons exemplos. A imprensa tem que mostrar os dois lados para a sociedade. Em entrevista exclusiva ao DCI, Ana Júlia Carepa, primeira mulher a governar o Estado do Pará, explica as prioridades da sua gestão, que terá como foco principal o desenvolvimento sustentável.

DCI