Equipamentos são a nova disputa no Madeira
17/07/07
A disputa bilionária pelo direito de construir as usinas do rio Madeira ganha mais um capítulo: o consórcio comandado pela construtora Camargo Corrêa está buscando fornecedores de equipamento no exterior, para fazer frente ao grupo de empresas reunidas em torno da Odebrecht – grupo que conta com os maiores fabricantes de equipamentos do País. O consórcio formado pela Odebrecht conseguiu agregar empresas do porte de Alstom Power, Voith-Siemens, VA Tech, ABB, Areva e Siemens, deixando os concorrentes com poucas alternativas. No entanto, a Camargo Corrêa, que já criou a Amazônia Madeira Energia Ltda. (Amel), está realizando uma ofensiva para compensar essa desvantagem. João Canellas, presidente da Amel, explicou ao DCI que “está mantendo conversas com empresas como Cemig, Cesp, Light, Tractebel, Alcoa, Votorantim e a Companhia Vale do Rio Doce para fazer parcerias estratégicas”, mas, por outro lado, não conseguiu “estabelecer conversa com nenhuma fornecedora de equipamentos nacional”. De olho no exterior Canellas afirma que a empresa se focará em oferecer a menor tarifa para a energia para ganhar a concorrência, mas terá de se empenhar bastante para obter bons contratos com os fornecedores estrangeiros, uma vez que não consegue nem fazer cotações com os brasileiros. Segundo um especialista do setor, o fornecimento do conjunto turbina-gerador para as usinas gerará algo em torno de R$ 5 bilhões. Com relação à disputa Odebrecht-Camargo Corrêa, Aloísio Vasconcelos, o novo presidente da Alstom Brasil garante que o consórcio rival ainda tem escolhas, mas parece tão certo da vitória que já está estudando implantar uma unidade em Rondônia, caso forneça de fato os equipamentos para o rio Madeira. Vasconcelos diz que “reconhecidamente formamos um consórcio bastante forte, mas não podemos esquecer que ninguém teria condições de fabricar todos esses equipamentos em um prazo curto”. O contrato prevê o fornecimento de 88 turbinas-bulbo, sendo 44 destinadas a Santo Antônio (3.150 MW) e outras 44 unidades a Jirau (3.300 MW). “Dominamos a tecnologia de máquinas-bulbo há muito tempo. No Brasil só existem duas usinas com esse tipo de equipamento, a de Santo Antônio será a terceira”, disse o executivo da Alstom. Ele explica que as parcerias são uma tendência na área empresarial. Segundo o executivo, os próximos objetivos da empresa “no médio prazo é Belo Monte, e no longo prazo é Tapajós”. Especialistas do mercado acreditam que a Voith Siemens está tão confiante da vitória do seu consórcio que já programou investimentos de cerca de R$ 30 milhões para ampliar sua fábrica em São Paulo. União dos grandes Para o presidente da empresa austríaca VA Tech, Sergio Parada, há a necessidade de várias empresas se unirem na construção dos projetos porque apenas uma ou duas fabricantes não conseguiriam fornecer equipamentos em tempo hábil. e afirma que a estratégia da empresa “é sempre se associar ao investidor dos grandes projetos logo no começo, para ajudar na otimização e nas soluções técnicas”. Quando questionado sobre as iniciativas da Camargo Corrêa de buscar parceiros externos, o executivo diz que “a situação hoje é essa mesma, mas não existe um lobby das empresas fornecedoras de equipamentos”. De acordo com os fabricantes de equipamentos, as empresas se juntaram ao consórcio porque a Odebrecht fez contato com cada uma das seis e acordos individuais com todas elas. Parada acredita, inclusive, que “seria péssimo para a indústria nacional se essas usinas saíssem com equipamentos importados”. Ele explica que uma saída para o consórcio rival seria comprar o know-how de parceiros asiáticos, por exemplo, e fabricar os equipamentos aqui no País. Ocupação total Segundo um especialista do setor consultado pelo DCI, as duas obras que formam o Complexo do Rio Madeira, somadas às da hidroelétrica de Belo Monte, serão suficientes para ocupar todo o parque industrial brasileiro de fabricação de equipamentos para geração por um bom tempo. Em Belo Monte (11.100 MW), serão outras 20 máquinas de 550 megawatts cada e mais sete geradores de 25,9 megawatts.
DCI