Editorial – Folha de São Paulo
19/06/07
O básico na indústria Produção fabril aumenta graças a investimentos do passado, mas país arrisca seu futuro ao não agregar setores de ponta A INDÚSTRIA instalada no Brasil cresceu na última década, mas a sua produção ficou mais pobre em tecnologia. Essa conclusão, publicada no domingo pela Folha com base em dados do IBGE, tanto revela êxito como suscita preocupação.
Atividades associadas ao petróleo, à mineração e à agropecuária concentraram o dinamismo industrial do período. Elas ganharam força a partir de meados de 2002, estimuladas no início por uma forte desvalorização do real -mas sobretudo por um longo ciclo de crescimento econômico global.
Esses segmentos fabris, bem como os setores primários a que correspondem, jogaram papel decisivo na estabilização das contas externas brasileiras. Isso não aconteceu apenas porque o país possui vantagens comparativas naturais nesses segmentos. Tratou-se da maturação de um ciclo de investimentos -quase todos iniciados pelo Estado, com altíssimos custos fiscais e baixa transparência-, de acúmulo de capacidade empresarial e de ganhos tecnológicos.
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Ocorre que esse sucesso relativo em atividades mais diretamente ligadas ao setor primário não pode servir como argumento para que o país desista de buscar seu nicho na ponta da tecnologia mundial. Tampouco justifica acomodação diante dos sinais preocupantes de perda de competitividade de indústrias tradicionais aqui instaladas.
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A respeito desse segundo aspecto, a valorização do real só veio agravar problemas estruturais que dão larga vantagem ao competidor estrangeiro diante do nacional. A infra-estrutura precária, os altos custos fiscais e trabalhistas, a lentidão da burocracia prejudicam com mais virulência os setores que mais empregam. Não causa surpresa, portanto, que a modesta aceleração da economia ora verificada não se faça acompanhar de alívio compatível no desemprego.
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Mais grave, no entanto, é a falta de perspectivas para o parque industrial brasileiro no sentido de agregar setores de ponta. À diferença da Ásia emergente, o Brasil não atraiu empreendimentos relevantes, não desenvolveu capacidade de alçar vôo próprio nem se tornou competitivo em nenhum ramo industrial importante da chamada revolução digital.
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Aqui, as carências básicas da economia brasileira (o chamado custo Brasil) se associam à falta de mobilização de recursos públicos e privados em empreendimentos de maior risco, em educação e em inovação. Não há projeto para corrigir essa rota.
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A competência que o país adquiriu ao explorar seus recursos naturais é um trunfo importante. Mas não basta para suprir as necessidades de desenvolvimento de uma nação de 190 milhões de habitantes, onde mais de metade das famílias passa o mês com no máximo um salário mínimo per capita.
Folha de São Paulo