Mineradoras vão à Europa formar parcerias para participar da licitação de um novo terminal
28/05/07
Mineradoras independentes de Minas Gerais traçam suas estratégias para participar da licitação de um novo terminal portuário para exportação de minério de ferro em Itaguaí (RJ), a ser realizada em 12 de julho. Hoje, as instalações mais próximas do Estado equipadas para exportar minério são administradas por companhias privadas, como a Vale do Rio Doce e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) que, segundo as mineradoras, impõem entraves a embarques de terceiros.Em vez de unir esforços e participar do leilão conjuntamente, porém, as empresas mineiras estão se articulando em consórcios distintos ? ao menos dois já estão sendo formados ? e buscando parceiros no setor siderúrgico para viabilizar o projeto. A Companhia Docas do Rio de Janeiro estima em R$ 329 milhões o investimento necessário no terminal. O Ecomineral, consórcio que tem à frente a Companhia de Fomento Mineral (CFM), enviou semana passada um representante à Europa para negociar com siderúrgicas uma participação no projeto. Esta semana, a CFM se reúne em Belo Horizonte com outras empresas que integram o consórcio para concluir a análise do edital de licitação, lançado há pouco mais de uma semana.Participam do Ecomineral não apenas mineradoras, mas também fabricantes de bens de capital e empresas da área de logística , interessadas nas encomendas que o novo terminal vai gerar. Uma delas é a Netrópolis, companhia do setor metalúrgico sediada no Rio Grande do Sul. Homero Boucinha, diretor da empresa, vê no terminal portuário uma grande oportunidade para fornecimento de equipamentos. Segundo eles, quatro categorias de máquinas serão as mais demandadas: viradores de vagão, esteiras, empilhadeiras e carregadores de navios.?Temos condição de fabricar todos esses equipamentos no Brasil. O volume de bens é suficiente para ocupar a fábrica de muitos fornecedores por dois anos. Por isso, temos todo interesse em viabilizar o negócio?, disse Boucinha. No modelo societário que está sendo desenhado pelo Ecomineral, as mineradoras não seriam necessariamente majoritárias, visto que carecem de recursos, mas teriam participação na gestão. Caso as conversas com parceiros internacionais não vinguem, cogita-se aderir a uma linha de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A expectativa de Boucinha, no entanto, é que as siderúrgicas européias não apenas invistam no porto como construam uma pelotizadora no local.Já as mineradoras da região de Serra Azul, no interior de Minas, decidiram seguir um caminho paralelo. Três das seis empresas que integram a Associação das Mineradoras de Serra Azul (Amisa) estão se mobilizando para disputar o terminal. São elas a Minerita, a MBL e a Itatiaiuçu, recém-adquirida pela inglesa Londo Mining. Juntas, elas estão negociando com parceiros internacionais e siderúrgicas nacionais, como a Gerdau, interessada em aumentar a exportação de produtos siderúrgicos.?O terminal será nossa independência financeira?, afirmou Kássio Fonseca, diretor comercial da Minerita.A região de Serra Azul é uma das mais promissoras de Minas Gerais, com recurso minerais da ordem de 2 bilhões de toneladas de minério. Recursos minerais são as reservas potenciais. Efetivamente, as reservas costumam ser um pouco menores porque nem todo minério é passível de extração. As seis empresas da Amisa respondem por 80% daquele volume, mas nem todas estão produzindo no momento. A expectativa é que as seis alcancem produção 12 milhões de toneladas em dois anos. Daí a preocupação com o escoamento do minério.Hoje, quem produz são a AVG, a J. Mendes e a Somisa, as duas últimas do mesmo grupo. Até meados de 2006, essas companhias vendiam seu minério diretamente para a Vale do Rio Doce. A partir de então, começaram a exportar pequenos volumes por meio do terminal em Itaguaí administrado pela Vale. Isso foi possível por conta de uma decisão judicial que assegurava a outras duas mineradoras, a CFM e a Rio Verde Mineração, o escoamento da produção por esse terminal. Como a Vale comprou a Rio Verde no início de 2006, as três mineradoras de Serra Azul negociaram a cota da Rio Verde. Cada uma exporta 150 mil toneladas por mês a cada três meses. As demais mineradoras da região, como Minerita e MBL, optaram por não fechar acordo porque consideram abusivo o preço cobrado pela Vale.O novo terminal de Itaguaí é uma demanda antiga das mineradoras independentes. A vantagem é que ele é classificado como uso público, ou seja, não há restrições de uso. Os terminais operados pela Vale, em Itaguaí e em Tubarão (ES), e pela CSN, em Itaguaí, são de uso misto. Isso significa que a empresa arrendatária pode exportar produção própria e de terceiros. A legislação não estabelece, porém, um volume mínimo de terceiros a ser movimentado no porto.Por já operarem em Itaguaí, Vale e CSN não podem entrar na concorrência. Caso um dos consórcios de Minas Gerais vença a licitação, não se deve esperar uma mudança drástica na indústria mineradora no Brasil. A produção das empresas independentes é marginal se comparada com a da Vale, que pretende alcançar o patamar de 300 milhões de toneladas de minério este ano. Uma eventual vitória asseguraria, no entanto, uma janela para as pequenas ingressarem no aquecido mercado internacional. ?O que queremos é apenas ter independência para fazer nossos negócios?, afirmou Fonseca, da Minerita. (Fonte: DCI – São Paulo,SP/Danielle Nogueira)
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