Acuado e sem apoio político, Silas Rondeau cai
23/05/07
Acusado pela Operação Navalha de receber propina no valor de R$ 100 mil da empreiteira Gautama, sem apoio político e correndo o risco de ser réu num processo judicial, Silas Rondeau pediu, no início da noite de ontem, demissão do cargo de ministro das Minas e Energia. Sua situação tornou-se insustentável depois que seu padrinho político – o senador José Sarney (PMDB-AP) – sugeriu publicamente que ele entregasse o cargo. A demissão foi consumada ainda depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi informado de detalhes das investigações da Polícia Federal pelo ministro da Justiça, Tarso Genro.
Para o lugar do ex-ministro, Lula nomeou, em caráter interino, o atual secretário-executivo das Minas e Energia, Nelson Hubner. Rondeau transformou-se, assim, na primeira baixa do governo provocada pela Operação Navalha, deflagrada pela PF há uma semana e que já levou 48 pessoas à prisão.;
O ex-ministro entregou carta de demissão ao presidente Lula, classificando como “descabidas e injustas as inverdades que se impunham contra ele, já que a investigação da Polícia Federal não envolviam a sua pessoa”. “A injustiça que recaiu sobre minha pessoa leva-me a solicitar minha exoneração, a fim de melhor proteger minha pessoa, minha família, minha honra, minha história e permitir que o governo siga com todas as energias voltadas para o crescimento do país, a implantação do PAC e o desenvolvimento do setor energético”, lamentou Rondeau. O ex-ministro encerra a nota dizendo que “deixa o cargo para impedir que a imagem do governo seja de algum modo afetada”.;
Antes mesmo de Rondeau apresentar a carta ao presidente, Sarney (PMDB-AP) defendeu a demissão. “Foi a melhor solução. É um homem honrado, sério, decente, que numa situação dessa não vai colocar o governo numa posição de ter que ficar dando explicação todo dia”, disse o senador. Sarney negou que tenha sugerido nomes ao presidente.;
Três reuniões no Palácio do Planalto selaram a saída de Silas Rondeau. Lula foi solidificando a tese de que a demissão seria a melhor solução ao longo do dia de ontem. Durante a reunião da coordenação política, o ministro da Justiça apresentou um balanço da Operação Navalha.;
Enquanto o núcleo decisório do governo reunia-se no Planalto, Rondeau permanecia em local desconhecido. Entre a noite de segunda-feira e a manhã de terça-feira, Rondeau falou pelo menos duas vezes com Sarney pelo telefone. Nas duas conversas, ouviu a mesma orientação: deixar o cargo para evitar o desgaste político. Em nenhum momento, ao longo do dia, o ministro apareceu na sede do ministério. Também não compareceu a um seminário organizado por seis associações do setor elétrico, no Hotel Blue Tree. Não justificou a ausência nem mandou representantes em seu lugar para o evento.;
No meio da tarde, Lula chamou Rondeau e o ministro da Justiça, Tarso Genro, para uma nova reunião no Planalto. Participou ainda desse encontro a chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff. Em aproximadamente uma hora de reunião, Genro explicou, segundo apurou o Valor, que “os indícios que a PF tinham não eram provas, já que não possuíam materialidade física. Mas eram suficientes para a abertura de um processo pela Justiça contra Rondeau”.;
Essa reunião foi suspensa para que Lula recebesse o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias e representantes da Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (Fetrafi). Mas o destino de Rondeau já estava selado. O ex-ministro deixou o Palácio do Planalto, mas retornou por volta das 20h. Ele chegou a pensar em dar uma entrevista coletiva no Ministério das Minas e Energia depois do terceiro encontro com o presidente, mas desistiu, optando pela divulgação de uma nota. (Colaborou Daniel Rittner);
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Valor Econômico