Custos de transporte ameaçam produção mineira de ferro-gusa
21/05/07
Os entraves à exportação do setor de ferro-gusa em Minas vão além do câmbio, afirmam os empresários. A reclamação mais recente se refere às dificuldades de logística em razão da concorrência com o minério de ferro. As empresas alegam que têm encontrado dificuldades para escoar o produto por meio do transporte ferroviário. A opção é a Estrada de Ferro Vitória a Minas, administrada pela Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). `Estamos com a ferrovia sobrecarregada de minério`, diz o empresário e diretor do Sindifer, Afonso Henriques Paulino. `Isso é algo de um mês para cá, e vai criar mais problemas para nossas exportações.`Em razão dos custos menores, as empresas mineiras utilizam as ferrovias para escoar o produto destinado às exportações. O transporte rodoviário é a opção para as vendas domésticas. Os guseiros do Estado também começam a enfrentar a concorrência das empresas instaladas no Pará e Maranhão, que têm a vantagem da proximidade com o mercado americano. `É mais um complicador`, observa o empresário Antônio Pontes Fonseca, também vice-presidente do Sindifer.De acordo com Fonseca, no Norte do País, as empresas de ferro-gusa conseguem também embarcar os produtos em navios de 70 mil toneladas, enquanto os portos que atendem as indústrias mineiras recebem navios de 35 mil toneladas. `Pagamos um frete mais alto.`Além dos Estados Unidos, Oriente Médio, Taiwan, Europa e Malásia são outros destinos das exportações brasileiras de ferro-gusa.ESCANDALOEm dezembro do ano passado, o setor de ferro-gusa mineiro foi sacudido por um escândalo e freqüentou as páginas policiais. Uma força-tarefa, formada pelo Ministério Público Estadual, Secretaria da Fazenda de Minas e Polícia Militar, deflagrou uma operação que desmantelou uma organização criminosa responsável pela fabricação, comércio e consumo de carvão vegetal oriundo de matas nativas e utilizado por fabricantes localizados nos municípios de Sete Lagoas e Bom Despacho.Na denominada Operação Diamante Negro, 17 pessoas – entre elas empresários e funcionários públicos – foram presas preventivamente e três empresas em Sete Lagoas e uma em Bom Despacho sofreram intervenção judicial. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Ernane Geraldo Dias, afirma que pelo menos 400 trabalhadores ficaram `a ver navios`.O esquema, conforme o Ministério Público, consistia na falsificação de notas fiscais e sonegação de tributos, com a participação de servidores públicos. Além das falsificações, os fraudadores utilizavam também notas originais, porém preenchidas com informações erradas.De acordo com as autoridades mineiras, a chamada `Máfia do Carvão` começou a ser investigada no início de 2005 e lesou em pelo menos R$ 70 milhões o fisco estadual, com a sonegação de Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS) e taxas. O desmatamento ilegal para a produção de carvão, conforme o Instituto Estadual de Florestas (IEF), foi equivalente a uma área de 45 mil campos de futebol.APAGÃO FLORESTALDe acordo com o Sindifer, a grande maioria das empresas tem se adequado às exigências ambientais. O setor, porém, reclama mais linhas de financiamento para o aumento da área plantada de eucalipto. Desde 2002, quando houve o início do aumento da demanda, empresários alertam para o risco de um `apagão florestal`.`Hoje o grande apelo é a auto-sustentabilidade. É aumentar o plantio de eucalipto para que as empresas sejam sustentáveis ao longo do tempo com florestas plantadas`, afirma Afonso Henriques Paulino, proprietário da Siderpa, em Sete Lagoas.Atualmente, segundo ele, há 110 mil hectares de área plantada de eucalipto em Minas para o setor siderúrgico. Mas, como a produção do ferro-gusa vive uma curva decrescente, o `apagão florestal está mais distante`, observa Paulino. E.K.
O Estado de São Paulo