Terra de trabalho e oportunidades
07/05/07
Elen Néris
Estimativas apontam que o setor mineral brasileiro deverá investir US$ 27 bilhões até 2010. A atividade de mineração no Brasil cresce 10% ao ano, impulsionada especialmente pela demanda do mercado internacional, e já é responsável por 25% da balança comercial brasileira. Como em qualquer atividade econômica que recebe investimentos, ela também gera empregos e renda.
Dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) demonstram um cenário otimista imediato ? em 2006 houve um crescimento de 34,67% nos postos de trabalho criados pela indústria mineral. No período, foram efetuadas 2.754 admissões contra 908 demissões, o que gerou um saldo positivo de 1.846 postos de trabalho. Com isso, segundo o Dieese, o saldo de postos de trabalho formal obtidos por meio da mineração no Pará correspondeu a 15,32% do obtido em todo o Brasil (12.052) e foi superior ao da região Norte (1.788).
Esse cenário de crescimento do emprego formal com novas vagas criadas pela mineração deve continuar e acelerar, devido aos projetos que estão se instalando no Pará ? atualmente são oito os municípios mineradores e, em 2010, serão 13. Por isso, o Ibram estima que até 2010 o número de empregos gerados pelo setor mineral, hoje em torno de 59 mil, sendo 38 mil diretos, vai perfazer um total de cerca de 75 mil postos de trabalho.
Segundo o presidente do órgão, Paulo Camillo Penna, a relação entre a atividade de mineração e o emprego começa a se observar antes mesmo que uma empresa mineral entre em atividade. `Para que se coloque em funcionamento uma mina, há necessidade de implantação de uma complexa rede de apoio. Significa que são necessárias obras de infra-estrutura, como vias de acesso e de circulação na área da mina, redes de energia elétrica, de comunicação e de abastecimento de água, dentre outros. Tudo isso deve ser precedido da licença social para operar`, explica.
Com a mina entrando em operação e durante sua vida útil, que pode chegar a dezenas de anos, cria-se todo um sistema para garantir o abastecimento da atividade, como transporte, alimentação, moradias, além de lazer e diversão. `Da mesma forma, há necessidade de instalação de escolas e hospitais, aumentando a taxa de emprego e a qualidade de vida onde opera a mineração`, reforça o presidente do Ibram.
Ainda segundo ele, na atividade mineral propriamente dita, estudos mostram que, para cada emprego que o setor cria, mais doze são gerados, desde a fase de preparação para a operação da mina até a primeira fase da transformação metalúrgica do minério.
Qualificação – Para que a população tenha emprego, não basta que o município onde se instala a mineração ofereça mão-de-obra em abundância. É necessário ainda que essa mão-de-obra tenha qualificação, para poder atender aos requisitos exigidos pela atividade mineral. Visando a essa demanda, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) está investindo em cursos de profissionalização de jovens e adultos nos municípios paraenses.
De acordo o Senai, mais de 150 cursos são oferecidos pela entidade no Pará. Em 2006, cerca de 20 mil alunos concluíram os cursos profissionalizantes ofertados pelo órgão nas 12 unidades espalhadas pelo Estado. A meta do Senai para 2007 é aumentar em 30% o número de atendimentos.
Uma das parcerias feitas pela entidade é com a Alcoa, empresa que está implantando a mina de extração de bauxita em Juruti, a 845 quilômetros da capital, no extremo oeste do Estado. Jovens do município estão sendo capacitados nos cursos de desenho industrial, automação, segurança na operação de equipamentos móveis industriais, pneumática, administração, informática, manutenção industrial, segurança no trabalho, operação de mina, movimentação de carga e outros. `Temos várias parcerias com empresas, entidades governamentais e não-governamentais. O objetivo do Senai é qualificar os jovens para que eles possam conquistar uma vaga no mercado de trabalho. Só com capacitação técnica isso será possível`, enfatiza Dário Lemos, diretor de gestão do Senai. Da sua parte, a Alcoa faz da educação profissionalizante um dos dividendos da sua atividade para a população local.
O mesmo ocorre nos municípios onde são realizadas atividades de mineração, como Barcarena, Canaã dos Carajás, Parauapebas, Ourilândia do Norte, Tucumã e Juruti, todos focos das principais demandas por formação de mão-de-obra na mineração.
O Programa de Formação Profissional ofertado pela VALER – Universidade Corporativa da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) em parceria com o Serviço Nacional da Indústria (Senai) tem como objetivo capacitar e qualificar jovens para o exercício das atividades nas áreas de Operação e Manutenção de Mina, Usina e Ferrovia, mas, sobretudo, prepará-los para o mercado de trabalho.
Iniciado em 2000, o programa é realizado nos municípios paraenses de Marabá, Parauapebas, Canaã dos Carajás e Paragominas. Nos últimos seis anos, 1.500 pessoas já foram beneficiadas e cerca de 70% desses jovens já foram efetivados na CVRD e nas empresas contratadas.
A Vale tem orgulho de investir nos cidadãos residentes nas áreas de influências dos seus empreendimentos, proporcionando alternativas de inclusão social via o acesso aos programas de capacitação e qualificação profissional, ou seja, é o exercício do compromisso de contribuir para o desenvolvimento sustentável dos municípios onde atuamos?, garante João Menezes, gerente geral de Recursos Humanos da Vale.
`Estamos combinando formação profissional com vocação regional, já que o Pará é um importante produtor de minérios. Então, é fundamental que os profissionais que vivem em regiões mineradoras sejam qualificados para disputar uma vaga no mercado de trabalho e sejam capazes de conquistar seu espaço`, afirma Lúcia Peres, diretora de educação e tecnologia do Senai.
Qualificação da população local é vantajosa
Foi com a capacitação oferecida pelo Senai que o encarregado de carpinteiro Carlos Antônio Gomes do Nascimento, 39 anos, pôde mudar de profissão. Antes de se empregar em uma empreiteira que presta serviço para a Alcoa, em Juruti, ele trabalhava como auxiliar de pedreiro e sem carteira assinada. A mudança veio depois do curso. Para participar, Carlos nem precisou mudar de cidade, pois a qualificação foi oferecida no próprio município. `Fazer esse curso foi muito importante para minha vida, no sentido de poder oferecer mais conforto para a minha família`, conta Carlos, que já morava em Juriti antes da instalação da mina de bauxita.
Mesmo após ter conseguido um emprego e carteira assinada, o que para alguns pode levar anos, Carlos ainda sonha alto: quer aprimorar-se cada vez mais, para continuar crescendo profissionalmente. `Como sei que virão outros cursos, inclusive técnicos, pretendo continuar me qualificando`, conta.
A mesma sorte ainda não teve Elza Carla Silva Souza, 32 anos, desempregada, que há pouco tempo trabalhava em Santarém. `Eu trabalhava num restaurante e fazia de tudo lá`, conta Elza, que está morando em Juruti desde o início do ano, atraída pela implantação da mina de bauxita. Elza acredita que no município é que estão os melhores empregos, por isso resolveu arriscar. `Eu creio que, com a evolução que tem tido em Juruti, irei desenvolver minhas possibilidades e encontrar emprego. Acho que vai melhorar para todo mundo, mesmo para quem mora aqui e quem vem de fora como eu`, opina.
Atração – Apesar de todas as boas notícias com relação aos postos de trabalho gerados pela mineração, há risco de a região se tornar pólo de atração de imigrantes em busca de uma vida melhor. Na esteira vêm demandas sociais como criminalidade, serviços de educação e saúde insuficientes, entre outras.
Por isso, há necessidade de um planejamento em parceria com o poder público para minimizar esse impacto. `Isso mexe com a população e desestrutura socialmente o município. Então, esses projetos têm que ser muito bem caracterizados, muito bem estudados e formatados, para que não se reverta uma situação que está organizada`, explica Alberto Rogério, consultor do Ibram Amazônia.
Segundo ele, sempre vai haver uma grande demanda de pessoas, mesmo em um município já estruturado, como Paragominas, onde já começou um projeto de produção de bauxita. `Mas Paragominas evoluiu muito nesse sentido, pois foi feita uma parceria com a Vale do Rio Doce, para não haver esse impacto`, explica, acrescentando que a mesma precaução foi tomada em Juruti, no empreendimento da Alcoa.
`Se você considerar os três grandes segmentos da mineração (econômico, ambiental e social), o social é o maior desafio. O Pará recebe muita gente em função de suas riquezas, principalmente suas riquezas minerais. A gente cresce a uma velocidade muito grande. Então, vêm pessoas que querem trabalhar, com baixo poder aquisitivo, escolaridade baixa, e isso dificulta, porque às vezes elas não encontram os objetivos, não se empregam e têm que ficar na periferia. Quando se empregam, trazem mais alguém, também na esperança de se empregar, e isso às vezes não acontece`, analisa.
Segundo Rogério, a solução para esses e outros desafios da mineração seria a própria experiência, que faz com que os projetos minerais e os municípios aprendam uns com os outros. Cada novo projeto implantado, diz ele, deve absorver os pontos positivos dos projetos anteriores e descartar os negativos. `Os municípios hoje estão muito mais atentos as estes projetos. O que se faz em Paragominas hoje, o que se faz em Ipixuna, será feito com mais competência nos próximos anos. Juruti tem que ser melhor que Paragominas, não porque seja um município melhor, mas porque é mais novo que Paragominas. A mesma coisa nos municípios de Carajás: Canaã tem uma competência maior que Parauapebas porque está chegando agora. Curionópolis tem que ser melhor que Canaã porque é mais recente`, opina.
Em fevereiro deste ano, 160 jovens, que foram aprovados no processo de seleção para o Programa de Formação Profissional em Paragominas, ingressaram na segunda turma. O Programa de Formação Profissional é promovido pela CVRD, em parceria com a Escola de Trabalho e Produção do Pará e a Prefeitura de Paragominas. A experiência foi positiva na primeira turma em que foram formados 247 aprendizes, que hoje estão trabalhando na Mina de Bauxita Paragominas.
Para Laelson Costa, de 23 anos, a oportunidade tem gerado ótimos resultados . `Pra mim tem sido uma ótima experiência, pois tenho aprendido não só a trabalhar como a viver socioambientalmente responsável. Pra mim tem sido gratificante trabalhar em uma empresa como a Vale do Rio Doce. Espero que esse seja o primeiro ano de muitos que virão`, diz o ex-aprendiz, que trabalha na área de usina e beneficiamento da Mina de Bauxita. Para Willian Silva Carvalho, de 22 anos, que foi aprovado na seleção do programa para a segunda turma, o curso representa a oportunidade de realização profissional. ?Quero alcançar a meta e, por isso, vou dar o máximo de mim?, diz o aprendiz da turma do curso de Operação, que já queria abandonar a profissão de operador de caixa em uma instituição pública para investir num sonho: trabalhar para uma grande empresa.
O Liberal