As grandes siderúrgicas do Canadá na mira das multinacionais
19/04/07
Por Guillaume LavalleeOTTAWA, 18 abr (AFP) – A dança de fusões no setor de aço prossegue no Canadá, com a compra esta semana do gigante Algoma pelo grupo indiano Essar, que reforçou os rumores de que as siderúrgicas canadenses estão cada vez mais sob o controle de empresas estrangeiras, uma tendência considerada negativa pelos sindicatos nacionais.Desde a compra ano passado do gigante canadense do aço Dofasco pela Arcelor, que foi em seguida comprada pela indiana Mittal, o setor canadense do aço está na mira das grandes multinacionais como nunca esteve.O conglomerado indiano Essar adquiriu na segunda-feira a Algoma por 1,85 bilhão de dólares canadenses em dinheiro (1,6 bilhão de dólares americanos), ou seja 50% a mais do que o valor de capitalização na bolsa da siderúrgica Sault-Ste-Marie, de Ontário.Esta transação disparou, na Bolsa de Toronto, o título de outra grande siderúrgica canadense, Stelco, um grupo que escapou da falência e voltou a ser rentável e que os analistas não descartam que também receberá ofertas de compra.”Não acredito que a Stelco seja alvo de uma oferta de compra em sua totalidade, acredito que haverá ofertas sobre determinados ativos do grupo”, explicou à AFP John Hughes, analista do setor de mineração em Desjardins. A Stelco alimenta a indústria automotiva americana, um mercado saturado, acrescentou.”Do conjunto das grandes siderúrgicas canadenses, provavelmente ficará somente a Stelco dentro de um ano”, previu Hughes, referindo-se à esperada venda da canadense Ipsco a um comprador estrangeiro.A Ipsco, a principal siderúrgica canadense em termos de capitalização na bolsa, confirmou semana passada a existência de “discussões que poderiam resultar na compra da companhia” em resposta à informes da imprensa e ao súbito aumento de suas ações nos mercados financeiros.Segundo o jornal russo Vedomosti, o líder do aço no país, Evraz, do qual 41% pertencem ao multimilionário russo Roman Abramovich, negocia a compra da Ipsco, com uma capitalização de 8 bilhões de dólares canadenses (6,95 bilhões de dólares). A Ipsco fabrica tubos e placas de aço destinados à indústria americana, em plena ebulição.Mas esta onda de fusões no setor do aço e da mineração no Canadá causa dores de cabeça aos sindicatos locais, que temem as perdas em massa de empregos a médio e longo prazo.”É preocupante quando investidores estrangeiros compram companhias canadenses. Nos momentos de crise, eles terão a mesma consideração pelas instalações canadenses do que os grupos daqui? Eu não tenho a resposta hoje, mas isso me preocupa”, disse à AFP Michel Arsenault, diretor do sindicato norte-americano de metalúrgicos no Quebec (USW). Este sindicato representa 60.000 trabalhadores no setor de aço no Canadá.”Agora os preços dos metais estão subindo, mas a médio e longo prazo o que vai acontecer quando os novos compradores não tiverem mais condições de pagar suas dívidas ou de rentabilizar seus investimentos depois de ter pago fortunas por estas companhias? Tememos que os trabalhadores paguem o preço”, acrescentou Arsenault.
Agência AFP