Votorantim compra 52% do capital da Acerías Paz del Rio
19/03/07
Ivo Ribeiro, Patrícia Nakamura e Vanessa Adachi19/03/2007
O Davi brasileiro do aço venceu o Golias mundial do setor na acirrada disputa pelo controle da pouco conhecida siderúrgica colombiana Acerías Paz del Rio, na sexta-feira, na Bolsa de Valores de Colômbia, em Bogotá. Considerado azarão no leilão de venda, que durou quase cinco horas, o grupo Votorantim bateu a líder global, Arcelor Mittal, na última das 20 rodadas. Pagou um preço elevado – US$ 491 milhões por 52% do capital da única fabricante integrada de aço do país -, um ágio de 157% em relação ao preço mínimo US$ 192 milhões.
A oferta foi de 131,42 pesos por ação, num total de 8,2 bilhões ofertadas no leilão.
Desse montante, 65,16% pertenciam a cerca de 6,7 mil funcionários e aposentados da empresa, recebidas em troca de créditos trabalhistas, 17,57% ao governo colombiano e 17,27% a acionistas privados.
O Votorantim, que em aço tem operações apenas no Brasil e faz 600 mil toneladas por ano, suplantou no embate de Bogotá outros dois grupos de peso, ambos brasileiros. O grupo Gerdau, décimo quarto do mundo, e a Cia. Siderúrgica Nacional (CSN), de Benjamim Steinbruch.
Os dois concorrentes foram avante até a 18ª rodada do leilão. A Arcelor Mittal, com produção de 118 milhões de toneladas e faturamento de US$ 80 bilhões em 2006, lutou até o penúltimo round, quando ofereceu 125,6 pesos.
Pelo lado do Votorantim, quem comandou a operação foram Raul Calfat, diretor-geral do grupo, e João Bosco, diretor-superintendente da Votorantim Metais (VM), por meio de telefone, dando as ordens de seguir adiante e elevar as ofertas. O grupo foi representado no pregão por executivos do Citigroup, instituição financeira que assessorou a companhia no negócio.
A última oferta da Gerdau, mesmo assim por 6 bilhões de papéis, foi de 113,52 pesos por ação. Conforme jornais da Colômbia, a Gerdau havia comprado na bolsa local 9% de ações ordinárias da Paz Del Rio nas últimas semanas.
A importância desse negócio para o grupo, que já é o principal produtor de aço daquele país, levou à Bolsa de Bogotá o vice-presidente do conselho da companhia, Frederico Gerdau, e o presidente executivo, André Johannpeter Gerdau.
O grupo gaúcho já atua na Colômbia desde o fim de 2004, quando adquiriu o controle da Diaco, concorrente em aços longos com a Paz Del Rio, e da Sidelpa, que faz aços especiais, ambas com capacidade conjunta em torno de 600 mil toneladas.
Do total produzido pelo país, em torno de 1,2 milhão de toneladas, Paz Del Rio e Gerdau respondem por cerca de 70%. As 380 mil toneladas restantes provêm de algumas pequenas aciarias elétricas.
O valor pago pelo Votorantim por 52% do capital votante da companhia implica um valor total para Paz Del Rio de US$ 1,04 bilhão, incluindo dívidas, consideradas baixas – de cerca de US$ 100 milhões. O preço equivale a um múltiplo de 13 vezes o resultado operacional (lajida) obtido em 2006.
Apesar de alto, o grupo Votorantim considerou válido pagá-lo porque acredita que há um profundo “turnaround” a ser implementado e com efeitos muito rápidos, que vão tornar essa conta menos salgada, segundo informou uma fonte próxima do processo.
A expectativa é sair de um lajida de US$ 70 milhões a US$ 80 milhões para cerca de US$ 200 milhões já em 2008. Assim, a relação entre o valor da empresa e o lajida baixaria para em torno de cinco vezes.
Companhia tem planos para tentar adquirir o restante das ações da siderúrgica colombiana
Os negócios no setor têm se situado em múltiplos de lajida de seis a nove vezes, como o que foi pago pela Tata Steel a Corus em janeiro.
O Votorantim vai tentar adquirir o restante das ações da siderúrgica colombiana, que em 2005 produziu 304 mil toneladas (equivalente a 14% do consumo do país). A companhia dispõe de capacidade de 370 mil toneladas de aço bruto e 340 mil de produtos acabados – aços planos laminados a quente (16%), fio-máquina (44%), barras e rolos para construção civil (31%) e outros (9%). No ano passado, a empresa alcançou receita de US$ 180 milhões.
As instalações industriais da Paz del Río ficam em Belencito, distrito localizado entre os municípios de Nobsa e Corrales, no Estado de Boyacá, a 37 km da cidade Paz del Río por via férrea e a 220 km da capital Bogotá.
Suas minas de ferro, com reservas para muitas décadas, de carvão e cal situam-se na mesma região. A empresa, que em 2000 foi à falência e exigiu um plano de reestruturação com participação do governo, opera com um alto-forno de 330 mil toneladas e um forno elétrico para 50 mil e conta quase três mil empregados.
Por ser importadora de cerca da metade do aço consumido, 2,2 milhões de toneladas, a Colômbia apresenta aos fabricantes locais grande espaço para crescer nas vendas domésticas. Nas importações, os principais vendedores são Venezuela, Brasil, Rússia-Ucrânia, México e Trinidad-Tobago.
Além disso, com as boas relações comerciais mantidas com os Estados Unidos, siderúrgicas do país têm potencial para exportar àquele mercado.
Apesar da importância do ativo para a Gerdau, analistas consideram que a aquisição era mais estratégica para o Votorantim, que ainda não estava presente no país e faz seu primeiro passo fora do Brasil no setor de aço. Sua usina em Barra Mansa (RJ) está em fase final de modernização e expansão, para 655 mil toneladas. O investimento, de R$ 461 milhões, será finalizado em 2008.
Até meados deste ano, o grupo espera concluir estudos para erguer uma nova usina no Rio de Janeiro, de 1 milhão de toneladas, em duas fases de 500 mil cada, para fazer vergalhões e aços trefilados. O valor estimado é de R$ 1 bilhão. A aquisição na Colômbia poderá levar ao adiamento desse projeto.
Com a Paz del Río, o grupo comandado por Antônio Ermírio de Moraes faz mais uma aquisição no exterior, consolidando aos poucos sua estratégia de internacionalização.
Desde 2001 adquiriu ativos de cimento nos EUA e Canadá e uma refinaria de zinco e a quarta maior mineradora de zinco e cobre do Peru.
O desembolso pela Paz del Río, de cerca de R$ 1 bilhão, é o maior feito até agora pela VM, holding que opera os negócios de zinco, níquel e aço e que no ano passado faturou mais de R$ 5 bilhões (20% a 25% da receita total do grupo).
O negócio é um forte sinal de que o grupo quer entrar firme no mercado latino-americano de aço, competindo com Arcelor Mittal, Gerdau e Ternium (Techint). Apesar de grande em cimento, celulose, zinco, níquel e alumínio e com folga de caixa, o Votorantim deixou a Barra Mansa em segundo plano até 2002 e tinha uma posição considerada tímida na Usiminas – 3,6% no capital total.
Nos últimos tempos seus planos ficaram mais ousados: ampliou seu peso na Usiminas e cogita construir uma nova usina de aços longos no país.
Valor Econômico