Barro Alto, os desafios do crescimento
12/02/07
Sônia Ferreira Enviada especial a Barro Alto
Em 49 anos de existência, a cidade de Barro Alto, no Norte de Goiás, nunca esteve tão agitada como nos últimos dois meses. Faixas enfeitam as ruas anunciando a chegada da mineradora Anglo American. Carros de último modelo, com a logomarca da empresa, desfilam pelas ruas. Os três hotéis, com 50 leitos, estão quase sempre lotados.
Nas portas das lojas, nas salas de recepção da prefeitura e do hotel, nas mesas de bares e nas portas das casas e da igreja as conversas de todos os moradores são sobre a onda de investimentos privados que está chegando ao município e as oportunidades de empregos que estão surgindo.
Nos próximos três anos, somente três empresas privadas vão investir na região cerca de R$ 2,8 bilhões em projetos de exploração de minérios (níquel e bauxita) e na produção de açúcar e álcool, talvez o maior volume de recursos privados previstos para serem aplicados em um só município do País. Os pequenos comerciantes da cidade também estão se mexendo, reformando e ampliando as lojas, para segurar e atrair a clientela e não dar espaço a concorrentes que já estão chegando.
Mas a cidade está inflando antes da hora, já que nenhuma das três grandes empresas (Anglo American, Mineradora Curimbaba e Destilaria Santa Rita) iniciaram efetivamente as obras de instalação de suas indústrias. Além do mais, o fluxo de pessoas interessadas em fixar residência na cidade ainda é pequeno. Apenas os trabalhadores da mineradora Anglo, que foram transferidos das unidades de Niquelândia ou de São Paulo, já alugaram, adquiriram ou estão construindo casas na cidade.
Problemas
Mas os problemas de infra-estrutura que já afetam a população e que advirão com o desenvolvimento preocupam a população e o prefeito Antônio Luciano Lucena. As maiores questões são a falta de moradia, de fornecimento de água tratada e o pequeno contigente policial. A cidade também sofre com a carência de escolas profissionalizantes, de mais agências bancárias, de asfalto nos novos bairros e de mais profissionais na área de saúde. Em Barro Alto, funciona apenas um hospital municipal, que sequer faz cirurgias.
O prefeito estima que o déficit habitacional do município já chega a 300 moradias. Com isso, a maior demanda por imóveis está provocando uma alta acelerada dos preços dos aluguéis e dos terrenos urbanos. Casas antigas e modestas são negociadas a preços exorbitantes, muitas vezes até superiores a imóveis do mesmo porte em bairros bem localizados de Goiânia.
A dona de um lote de esquina de 400 metros quadrados na Avenida Goiás, a principal da cidade, rejeitou R$ 150 mil pelo terreno. Uma casa localizada na mesma rua, no principal ponto comercial quase em frente à igreja, que será transformada num supermercado, foi alugada por R$ 1 mil por mês.
Quando se encontra para locar uma casa residencial de três dormitórios o valor nunca é inferior a R$ 500,00. Há seis meses, o preço não passava de R$ 150,00. O comerciante Ideraldo Joaquim Diniz está construindo dois apartamentos, de 110 metros quadrados cada, em cima de sua loja de material de construção. A obra ficará concluída em dois meses, mas ele já rejeitou uma proposta de aluguel de R$ 1 mil por um dos apartamentos. ?Vou esperar mais um pouco para selecionar melhor o inquilino?, justifica.
Reserva foi descoberta no fim da década de 60
O depósito de níquel de Barro Alto foi descoberto no fim da década de 60. Em 2002, a empresa adquiriu os direitos minerários por US$ 35 milhões, mas decidiu não iniciar o processo industrial da mina porque o preço do minério estava em baixa.
Contudo, um novo estudo de viabilidade técnico-econômico, iniciado em 2004 e concluído em setembro do ano passado, mostrou a necessidade de acelerar a produção para atender a crescente demanda mundial.
O depósito de Barro Alto contém 116,2 milhões de toneladas do minério com concentração média de 1,54% de níquel. Isso significa uma vida útil da jazida de 26 anos, com a produção anual de 36 mil toneladas de níquel.
O minério é utilizado como composto para os mais variados materiais, como talheres, panelas e relógios feitos de aço inox; estruturas externa dos aviões; instrumentos cirúrgicos e odontológicos e componentes de informática.
A Anglo American Brasil atua na produção de metais básicos e ferrosos e minerais industriais, por meio das empresas Codemin (ferroníquel), em Niquelândia; Mineração Catalão (nióbio) e Copebrás em Catalão/Ouvidor.
Especulação imobiliária já toma conta da cidade
A especulação imobiliária nunca vista, que está abalando a cidade, preocupa os moradores mais antigos que aguardam com ansiedade a chegada dos investimentos privados para garantir o desenvolvimento do município. Eles temem que essa situação venha afugentar o progresso. O operador de máquinas Pedro Tertuliano alerta que, se os preços dos imóveis continuar subindo, muita gente vai morar em Sousalândia ou Placa (distritos de Barro Alto), em Vila Propício ou até mesmo em Goianésia.
Em Barro Alto, um lote que valia R$ 6 mil há dois anos, hoje não se consegue comprá-lo por R$ 20 mil. Para fugir do aluguel, o supervisor de mina Edilson Cantuária Barbosa, que foi transferido da unidade da Anglo de Niquelândia para Barro Alto, decidiu construir uma casa para a família. Sua mulher Sueli Barbosa, acompanhada dos dois filhos menores, João Pedro e Jean Lucas, supervisiona a obra diariamente e espera que em um mês venha a se mudar para a nova residência, mesmo que ela não esteja toda concluída. ?Temos de parar de pagar aluguel de R$ 350,00 por mês?, sentencia.
Vislumbrando o boom imobiliário, Fábio Alves Moreira loteou uma área de 20 hectares, dentro da cidade, e criou 280 lotes. As vendas serão iniciadas apenas em abril, quando começar o fluxo de pessoas para trabalhar na mina. Mas o valor já está estipulado: cerca de R$ 30 mil cada um, com pagamento à vista. Ele disse que no Setor Residencial Santa Bárbara, onde já tem asfalto, água e luz, colocou um lote à venda por R$ 40 mil. A área foi adquirida há seis meses por R$ 4 mil. Ele também está construindo um hotel com dez apartamentos. Todos já foram reservados por uma empresa que prestará serviços à Anglo.
Atuação
A prefeitura tenta neutralizar a especulação imobiliária. Novos bairros foram criados e casas populares estão sendo construídas com o apoio do governo estadual, por meio do Cheque Moradia. A estimativa do prefeito Luciano Lucena é que cerca de 200 pessoas tenham se mudado para a cidade nos últimos dois anos. A expectativa é que a população, hoje de 8 mil habitantes, de acordo com levantamento da prefeitura, e de 5.738 pelo Censo do IBGE de 2004, seja duplicada nos próximos seis meses, quando iniciar a implantação das indústrias, principalmente a usina da Anglo American.
?Queremos garantir um desenvolvimento sustentável para Barro Alto, transformando a cidade num pólo industrial, já que a mineração tem o seu ciclo definido de 26 anos, com qualidade de vida para seus moradores?, avisa o prefeito. Ele solicitou audiência com o governador Alcides Rodrigues para tratar das questões do aumento do contingente policial para o município, investimentos na construção da estação de coleta e tratamento de esgotos e no aumento da capacidade da estação de captação, tratamento e distribuição de água à população. ?Hoje o problema do saneamento básico é crítico na cidade. Se o governo não nos garantir que vai realizar as obras, não renovaremos o contrato de concessão da água com a Saneago?, avisa.
A Anglo American está fazendo a sua parte. Já assinou com a prefeitura local acordo de parceira para garantir o desenvolvimento sustentável da região. A empresa vai construir escolas, um hospital, treinar professores e criar cursos profissionalizantes a partir do próximo mês.
Serão aplicados US$ 5 milhões em obras de infra-estrutura e outros US$ 12 milhões na área ambiental. A empresa construiu uma praça, conhecida como Praça da Anglo, e espelho d´agua, ao lado do ginásio de esportes e um clube de lazer para os seus empregados.
O prefeito criou um conselho, formado por ele próprio, por representantes da Câmara Municipal, do Poder Judiciário, do padre, dos empresários e da sociedade local, para definir quais são as obras prioritárias e mais urgentes.
Outros empreendimentos industriais
Além da Anglo American, a Mineração Curimbaba, com sede em Poços de Caldas (MG), vai investir US$ 20 milhões, o equivalente a R$ 43 milhões, para explorar e industrializar bauxita, minério usado para a produção do alumínio metálico e da alumina, empregados na fabricação de abrasivos, produtos refratários, cimento aluminoso, refinação de óleo e do proppant, um estimulador de postos de gás e de petróleo.
A expectativa é que a empresa entre em operação em 2009, gerando 1,2 mil empregos diretos. A reserva de bauxita de Barro Alto está avaliada em 4 milhões de toneladas, com vida útil para 30 anos.
Mas novos estudos técnicos estão sendo realizados na área e poderão apontar reservas totais de 10 milhões de toneladas. A Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) também é outra empresa que realiza pesquisas minerais no município para explorar bauxita.
A partir de maio, será iniciada a implantação da Destilaria Santa Rita, pertencente a um grupo de empresários do município e outros de Goiânia. Serão investidos R$ 200 milhões em todo o projeto, que envolve o plantio da cana-de-açúcar, já iniciado, e a instalação da indústria, que vai gerar 800 empregos diretos.
Álcool
A estimativa do empresário Gilberto Lucena, um dos sócios da empresa, é que a destilaria entre em operação em 2009, produzindo 140 milhões de litros de álcool por ano.
O prefeito de Barro Alto, Antônio Luciano Lucena, anuncia que, até 2012, será instalada uma indústria no município para beneficiar o látex extraído da seringueira. Na região, existem 2,5 milhões de árvores em produção. Atualmente, o látex é enviado para São Paulo para ser beneficiado.
O município conta também com quatro cerâmicas que produzem 800 mil tijolos por mês. A produção abastece a indústria da construção civil de Barro Alto e vários municípios da região e até Brasília.
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