O aço em evidência
05/02/07
Por Adriana Cotias05/02/2007
A derrota da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) na disputa pela anglo-holandesa Corus jogou os holofotes sobre as ações do setor siderúrgico na Carteira Valor de fevereiro. A avaliação é de que o vultoso preço pago pela indiana Tata, de US$ 11,2 bilhões, elevou o valor das empresas de aços planos como um todo. E, independente de novos movimentos de consolidação, são boas as perspectivas para CSN e outras como Gerdau, fornecedora de aços longos para obras de infra-estrutura, e Usiminas, pelo desempenho do setor automobilístico e demanda na indústria de eletrodomésticos.
No mês passado, a Carteira Valor subiu 0,23%, ante 0,38% do Ibovespa. A queda de CPFL Energia ON, Petrobras PN e Cemig PN pesou desfavoravelmente. Em 12 meses, o portfólio teve alta de 29,97%, em comparação aos 16,31% do índice. Para fevereiro, Gerdau PN e CSN é que lideram as escolhas, com três indicações cada.
A CSN, de compradora, passou a alvo das concorrentes globais e, no curto prazo, ainda vai ter o seu caixa reforçado em cerca de US$ 500 milhões pela venda da participação de 3,8% na Corus, destaca o chefe de análise da Ágora, Marco Melo. “O viés é positivo para o setor, que opera a plena capacidade num momento de demanda crescente e preços elevados”, diz.
Além disso, acrescenta, a CSN é uma das grandes distribuidoras de lucros, com um “dividend yield” (retorno em dividendos em relação ao preço da ação) projetado em 5% para este ano. E, apesar de ter múltiplos mais elevados do que Usiminas e Gerdau, os indicadores são inferiores aos dos pares internacionais. A empresa conta com uma geração de caixa livre equivalente a 5% do seu valor de mercado.
A Bradesco Corretora trocou Gerdau PN por CSN ON entre as cinco indicadas para evitar a concentração em siderurgia. Embora a aquisição da Corus tivesse potencial de agregar valor à companhia brasileira no futuro, no curto prazo a alavancagem excessiva poderia pesar nos resultados, avalia o chefe de análise, Carlos Firetti. “Tirando a operação da frente, não há nenhuma outra aquisição do porte da Corus para fazer e a empresa também passa a ser uma das preferidas.”
Com o aquecimento da demanda interna, a analista Ana Cristina Ibri, também da Bradesco, considera que as siderúrgicas terão condições de compor melhor seu mix de distribuição, voltando a escoar a maior parte da produção para o mercado brasileiro, onde as margens são melhores. Idealmente, conta, tanto CSN quanto Usiminas direcionam 75% das vendas para o mercado local, mas com o crescimento tímido da economia, as exportações chegaram a 40% no primeiro semestre de 2006.
No segmento de aços planos, Eduardo Kondo, da Concórdia, preteriu CSN, que subiu demais no último pregão de janeiro, e escolheu Usiminas, de olho nos bons números do setor automobilístico e na demanda por aço do setor de linha branca no Brasil. A procura por produtos planos para eletrodomésticos cresceu 15% em 2006, para 319,7 mil toneladas, e a participação da Usiminas no segmento cresceu de 33,1% para 37,5%. “O reajuste do minério de ferro veio mais fraco do que nos anos anteriores, proporcionando uma combinação interessante de receitas crescentes e custos quase estáveis.”
As intenções de investimentos levantadas com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) motivaram ainda a inclusão de Gerdau PN pela Concórdia, em função dos incentivos do governo ao setor de construção. O papel também está na lista da Geração Futuro, não só pela ênfase no mercado local, mas também pelas operações no exterior, como na América do Norte. O analista Luiz Alberto Binz ressalta que o governo americano tem orçado para investimentos em infra-estrutura cerca de US$ 250 bilhões e que costuma cumprir à risca o planejado. E como a exposição da Gerdau no mercado imobiliário de lá é de apenas 7%, um eventual estouro da bolha dos imóveis teria efeito menor sobre as atividades da empresa.
Valor Econômico