No Planalto, pedidos de audácia para BC
23/01/07
Daniel Rittner
Valor Econômico
23/1/2007
Sem demonstrar euforia com o anúncio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), os empresários presentes ontem na divulgação das medidas econômicas aproveitaram a ocasião para cobrar audácia do Banco Central na redução da taxa de juros, com a justificativa de que uma queda no ritmo de corte da Selic representará uma ducha de água fria nas expectativas criadas pelo plano de desenvolvimento. O BC começa a definir hoje, em reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o novo valor da Selic, hoje em 13,25% ao ano.;
“Qualquer coisa menor que 0,5 ponto percentual causa uma arritmia no processo que se pretende estabelecer aqui”, afirmou o presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Paulo Camillo Pena. A taxa tem sido gradualmente reduzida desde setembro de 2005. “Não há nenhuma razão para não termos, no mínimo, outra redução de pelo menos 0,5 ponto”, reforçou o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto. “Não há tensões no curto prazo e os preços internos estão sob controle.”;
A diretoria do BC viverá um dilema nesta reunião. Se reduzir os juros em apenas 0,25 ponto percentual, receberá fortes críticas por supostamente não estar em sintonia com o ambiente de otimismo que o governo quer estimular. Se fizer uma nova redução de 0,5 ponto, mantendo o ritmo adotado nos últimos meses, pode ser acusada de ter cedido às pressões do Palácio do Planalto.;
Com a preocupação envolvendo a Selic, as medidas divulgadas pelo governo foram parcialmente ofuscadas. Camillo Pena esperava a inclusão, no PAC, de um novo teto para o pagamento de compensação ambiental por empreendimentos de mineradoras.;
Segundo ele, as empresas do setor pretendem investir US$ 25 bilhões nos próximos cinco anos. Hoje, sofrem com as incertezas que envolvem o valor da compensação, pois não há limites fixados. Pena estranhou a ausência do assunto no PAC, que só tratou, na área ambiental, da regulamentação do artigo 23 da Constituição – um projeto de lei foi enviado ao Congresso para definir melhor as atribuições da União, Estados e municípios no processo de licenciamento ambiental.;
O presidente da Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy, foi um dos poucos a calcular os reflexos diretos do PAC sobre a economia. Ele lembrou que os investimentos em projetos de infra-estrutura, públicos e privados, somaram R$ 65 bilhões em 2006. Ao comprometer-se com uma cifra perto de R$ 500 bilhões até 2010, o PAC prevê o aumento dos investimentos para R$ 125 bilhões anuais, nos próximos quatro anos. Somente com isso, Godoy acredita que a formação bruta de capital fixo pode subir dos atuais 20% para algo entre 22% e 23% do PIB. “Se tudo o que foi anunciado realmente acontecer, a infra-estrutura não será impedimento para o crescimento da economia”, disse.;
Outros pesos-pesados do setor privado preferiram ressaltar os “efeitos psicológicos” do PAC, conforme ressaltou Jorge Gerdau Johannpeter. Para ele, o país “tomou consciência” de que é preciso fazer investimentos e “romper o círculo vicioso” de crescer a taxas de 2,5% ao ano – média verificada nas duas últimas décadas.;
Gerdau elogiou as medidas de desoneração tributária e disse que o PAC representa uma “evolução do pensamento”, pelo foco na expansão da economia e pelos ataques aos obstáculos da infra-estrutura. Ele chamou a atenção, no entanto, para a necessidade de evitar afrouxamento nas finanças públicas. “O governo não pode abrir mão do rigor fiscal”, afirmou Gerdau. O empresário enfatizou que há espaço para reduzir gastos correntes e o poder público precisa fazer a mesma lição de casa executada pela iniciativa privada. “O custo do governo precisa diminuir. Indiscutivelmente dá para buscar maior eficiência e produtividade.”;
O presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer), Luis Cesário Amaro da Silveira, pediu agilidade ao Congresso na aprovação de MPs e projetos de lei no âmbito do PAC.;
Valor Econômico