Metais mantêm firme a trajetória de alta
03/01/07
Ivo Ribeiro e Natalia Gómez03/01/2007
Marisa Cauduro/Valor
Luiz Gustavo Manreza, gerente de commodities do Standard Bank: o desempenho dos EUA e China dará o tom do mercado
A exuberância das commodities metálicas tem tudo para se repetir em 2007. A trajetória de alta das cotações, iniciada há pouco mais de três anos, é suportada por fundamentos econômicos firmes – consumo chinês, americano e de outras economias no mundo – e pelo apetite crescente dos fundos de investimento, que passaram a olhar os metais de base, como cobre, níquel, zinco e alumínio, e os preciosos como um ativo bastante atraente.
Esse cenário promissor vale tanto para os não ferrosos quanto para o minério de ferro e o aço, dois produtos que têm grande peso na balança comercial brasileira. Pelo quarto ano consecutivo, o minério de ferro, matéria-prima do aço e da qual o Brasil é um grande exportador, teve alta de 9,5% para o tipo fino (sinter feed) e 5,28% para as pelotas. Com isso, o aumento nas divisas desses dois produtos deverá ser engordado em cerca de US$ 800 milhões, sem considerar aumentos de volumes. O país deverá exportar cerca de 270 milhões de toneladas em 2007, mais de 10% que no ano passado.
Na siderurgia, a avaliação é de qua há pouco espaço para queda nos preços do aço, que alcançaram níveis históricos em 2005 e depois se ajustaram pouco para baixo. A tonelada de chapa fina laminada a quente, uma referência do setor, deve ficar em torno de US$ 600. Outra referencial, a placa de aço, segundo analistas e produtores, começa o ano em torno de US$ 500 a tonelada. Até outubro, o Brasil exportou 10,3 milhões de toneladas, com receita de US$ 5,5 bilhões. Em 2007, a previsão é subir para quase 14 milhões de toneladas.
No mercado mundial de não ferrosos, o zinco promete ser a bola da vez, assim como cobre e níquel exibiram desempenhos históricos. Usado em diversas aplicações na indústria – de proteção anti-ferrugem das carrocerias de automóveis e eletrodomésticos até telhas – o zinco pode atingir cotações recordes, na marca de US$ 5 mil a tonelada. De forma surpreendente, ao longo do ano passado o valor da tonelada foi a US$ 4,4 mil.
“Quatro anos atrás, o zinco estava no fundo do poço, valendo US$ 792 a tonelada – um pesadelo”, recorda, aliviado, João Bosco Silva, diretor superintendente da Votorantim Metais, quinta maior produtora mundial do metal e entre as dez maiores de níquel. Na época, ele certamente foi taxado de “maluco” por algumas pessoas ao fechar a compra da Paraibuna Metais, fabricante de zinco do grupo Paranapanema em Juiz de Fora (MG). Hoje, talvez o vejam como um visionário.
O zinco está em falta desde 2004. O déficit de oferta em 2006 foi de 388 mil toneladas e a previsão para este ano é de 97 mil toneladas, segundo o Standard Bank. em 2007. Apesar dessa curva invertida no déficit, as opiniões indicam que há espaço para subir mais. Uma das razões é que este metal foi um dos últimos a reagir ao ciclo de alta, iniciando sua escalada só abril de 2005. “Quando a falta de minério for solucionada, terá início a escassez na capacidade de oferta de metal refinado”, afirma Luiz Manreza, gerente de operações de commodities do Standard.
A continuidade do aquecimento da economia mundial e da demanda chinesa por matérias-primas deve garantir a manutenção dos preços dos metais de base e preciosos (ouro, platina) em patamares elevados. Ninguém imagina o preço do níquel superando o teto de US$ 35 mil a tonelada alcançado em agosto na Bolsa de Metais de Londres (LME), mas também não se prevê algo muito longe disso.
Referência do mercado, a LME teve de fazer intervenção nos pregões. Mesmo assim, o metal – aplicado em grande parte na fabricação de aços especiais – encerrou o ano em US$ 33,3 mil, com alta de 147%. É a maior variação entre os não-ferrosos negociados na LME.
A previsão revisada de vários bancos, entre os quais Standard, JP Morgan e Merrill Lynch, é de uma cotação média de US$ 24,3 mil a tonelada em 2007. Em junho, esses bancos projetavam US$ 19,1 mil.
“Com o consumo subindo 5% ao ano, estoques da LME em queda e escassez na oferta (hoje 70% concentrada nas mãos de cinco grandes produtores) é possível que vejamos mais três anos de alegria nos preços”, comenta Bosco. O executivo lembra que esses mesmos produtores, entre os quais a CVRD Inco, controlada da Vale do Rio Doce, dominam a maioria dos projetos de novas minas no mundo.
O mercado aponta déficit de 4 mil toneladas na oferta do metal, ante 26 mil no ano passado. Esse cenário deve perdurar até 2008, decorrente de greves nas minas, atrasos de novos projetos e revisão de investimentos que acabaram encarecendo. O aumento das vendas para fabricação de inox chegou a duplicar o preço do níquel em menos de ano, desde 2005.
Apesar de algumas divergências de opiniões, especialistas e executivos do setor vêem um cenário econômico mundial positivo para manter o movimento de escalada dos metais. No que diz respeito ao cobre, considerado a principal comodity metálica, dois fatores darão o tom das cotações: o comportamento de consumo nos Estados Unidos e as compras feitas pela China. Juntos, os dois países consomem 36% do cobre refinado em todo o mundo, o equivalente a 5,9 milhões de toneladas por ano, de acordo com dados de 2005.
O cobre – em grande parte usado em canos e instalações elétricas em edificações – atingiu US$ 8,5 mil a tonelada em agosto, bem acima da cotação média de US$ 3.678, de 2005. Um certo temor de impacto na demanda do metal vermelho está ligado ao mercado americano, que nos últimos dois meses reduziu seu consumo para projetos de habitação e nos setores automotivos, trazendo o metal para os preços atuais – ao redor de US$ 6,5 mil.
Esse recuo, que ainda deixou o preço do metal nas alturas, interferiu no apetite dos fundos de investimento, que entraram em compasso de espera. Segundo relatórios de mercado, a demanda dos EUA deve crescer 0,1% em 2007, bem inferior aos 2,1% de 2006.
“Em fevereiro, quando os mercados voltarem ao ritmo normal, encerradas as festas de fim do ano no Ocidente, teremos noção mais precisa dos cenários, conforme os sinais vindos dos Estados Unidos”, diz Marcelo Mello, diretor da área de trading do Standard. Se a demanda americana for consistente, os preços tendem a se manter elevados. Caso contrário, teme-se que o consumo chinês pode não ser suficiente para sustentar os preços.
Para Geraldo Haenel, presidente do grupo Paranapanema (único fabricante de cobre metálico do Brasil), os preços podem apresentar uma queda gradual durante o ano, mas permanecendo na linha de US$ 6,7 mil. A mesma opinião é compartilhada pelo Sindicel, sindicato da indústria de cobre em São Paulo, que não espera novos recordes. “Esperamos uma cotação média entre US$ 6,5 e US$ 7 mil”, diz Sérgio Aredes, presidente da entidade.
A China, que elevou suas compras para atender projetos internos de infra-estrutura, não gera grandes inseguranças sobre seu nível de consumo. O que traz dúvidas ao mercado é a articulação do país na hora de suprir esta demanda. Em 2006 comprou menos que o esperado porque passou a consumir mais estoques internos e sucata, informou Manreza. A quantia de cobre refinado subiu apenas 4%, abaixo das expectativas. Neste ano, pode dobrar devido aos projetos de infra-estrutura no país.
Mesmo assim, a expectativa é de que o cobre permaneça entre US$ 5,5 mil e US$ 8 mil a tonelada, o que ainda é um preço considerado excepcional comparado aos seus valores históricos. Até 2003, estava abaixo de US$ 2 mil na LME Levando em conta o aumento dos estoques de metal nos próximos anos – mais 4,5% em 2006 e 4% em 2007 – é possível prever queda nos preços em 2008, quando os estoques serão suficientes para quase 50 dias de consumo. O nível considerado normal atende o consumo mundial por cerca de 65 dias.
Uma exceção neste mercado é o alumínio, que não deve apresentar novas altas. Com capacidade de produção ociosa, este setor sofreu a partir de 2005 com falta de alumina, sua principal matéria-prima, e pelo alto preço da energia elétrica. No entanto, a China colocou em operação novos projetos de alumina ao longo deste ano, o que reduziu a escassez. Com isso, o Standard prevê um superávit de 271 mil toneladas do metal em 2007.
Comparada a outros metais, a alta do alumínio foi menor: passou de US$ 1,9 mil a tonelada no início de 2005 para US$ 3,3 mil em abril do ano passado. Hoje, a cotação está em US$ 2,8 mil a tonelada.
Valor Econômico