Indústria paraense sente efeitos da crise
15/12/08
Depois de um tempo evitando mencionar os estragos da crise internacional, as lideranças do setor industrial paraense admitem o baque da turbulência financeira iniciada nos Estados Unidos. E revelam: o cenário para os próximos meses no Estado é dos piores, com base nos resultados de produtividade nada agradáveis computados nos meses de novembro e no andamento deste mês. O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa), José Conrado, fala em desemprego, desaquecimento e uma ?queda brutal? de produção entre 20% e 30%, nos últimos 60 dias. Os auto-fornos de ferro gusa de Minas Gerais, Pará e Maranhão estão praticamente paralisados e o setor florestal sofre com a montanha de contratos suspensos dos importadores. ?Como se sobrepor a tudo isso? Só Jesus?, diz o vice-presidente da Fiepa, Sidney Rosa, resumindo a presente conjuntura.
De acordo com Conrado, os primeiros sintomas da crise estão sendo sentidos na exportação de comodities. ?Em outubro, a crise já foi sentida pela indústria. Em novembro, isso se confirmou com uma queda estimada entre 20% e 30%. Dezembro também os números apontam uma redução brusca, mas só teremos a confirmação desses prognósticos em janeiro?, comenta o presidente da Fiepa. Ele adianta que não sabe ainda os estragos que a crise fará na oferta de empregos no setor, mas reitera que deve ocorrer. ?São setores que envolvem grandes cadeias produtivas por isso os efeitos devem também ser amplos?, avalia.
Porém, o representante do setor industrial frisa que os investimentos bilionários do setor mineral anunciados até 2012 continuam de pé. ?Nenhum foi retirado e isso nos dá ainda uma certa estabilidade?, comenta ele. Ontem, a diretoria da Federação das Indústrias se reuniu para confraternizar e buscar soluções para o setor. Participaram representantes de 37 entidades sindicais. Conrado comenta que é hora de unir forças para encontrar saídas que driblem o momento delicado da economia brasileira. Um delas, diz, é proteger as indústrias locais. Para tanto, defende o presidente, o governo estadual, prefeituras e órgãos públicos precisam estreitar relações comerciais com as empresas do Estado.
Contratos
O vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa), Sidney Rosa, afirma que o setor mineral é um dos mais abalados pela crise, junto com a exportação de produtos de origem floretal e de óleo de palma. ?Quase todos os contratos foram suspensos. Poucos exportadores estão vendendo e os que continuam estão tendo que renogociar os preços?, sustenta ele. Os Estados Unidos, um dos maiores compradores de madeira, suspendeu praticamente todos os contratos de compra com empresas paraenses. Outra atitude preocupante é do setor mineral, Segundo Rosa, uma das maiores compradoras da Vale, a Arcelor Mittal, suspendeu os contratos de novembro a janeiro.
Vinculado ao setor florestal, Rosa comenta que os produtores paraenses já viviam tempos de dificuldade ocasionada pela falta de infra-estrutura do poder público para atender a demanda de projetos de exploração dos recursos da floresta. ?Já tínhamos perdido uns 40% em volume de exportações. A crise internacional veio piorar, e muito, essa situação?, assinala.
No setor florestal, segundo ele, os produtos tradicionais já sofreram baixa nas exportações de 25%, em novembro passado. O empresário argumenta que um dos fatores que tem reduzido o fluxo de negócios é a falta de conhecimento da extensão da crise. Os importadores ainda estão revendo seus parâmetros para se adequar à turbulência do mercado e um dos primeiros comportamentos é parar as atividades para analisar novas estratégias.
Janeiro
O diretor-tesoureiro da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), Alexandre Furlan, afirma que o pior período da crise internacional atual é janeiro próximo. Nesse mês o decréscimo na economia deve variar entre 0,5% e 0,6%. Depois desse período, a economia deve iniciar uma fase de restabelecimento. Otimista em relação às exportações minerais, Furlan destaca que neste primeiro momento o movimento de redução de compra de grandes consumidores, como a China é natural, mas deve durar pouco. ?Afinal é matéria-prima, é insumo, e a indústria não pode prescindir desses produtos?, afirma.
Baseado em números da CNI, Furlan dá uma indicativo de como a crise internacional, iniciada nos Estados Unidos, está afetando o País. Em pesquisa recente com empresas brasileiras, 88% dos grandes empresários dizem que estão sentindo os efeitos da conjuntura desfavorável do mercado. Outros 77% anunciam que vão reduzir investimentos no ano que vem. Segundo o diretor da Confederação, o maior problema no Brasil é a falta de liquidez. ?Não há dinheiro na praça para capital de giro. O governo anunciou superávit, pronto para apoiar os grandes setores, mas esse dinheiro não está chegando nas pontas. Falta investimentos para girar os negócios?, pontua.
Ele criticou ainda a postura do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central em relação a manutenção da taxa de juros. Furlan afirma que a decisão em si não é problemática, mas a falta de sinalização sobre a alta ou baixa dos índices nos próximos meses pode confundir o setor produtivo. Ele sugere que as lideranças industriais esperavam uma postura menos conservadora e uma baixa nos juros. No entanto, o medo de juros menores e um retorno à inflação devem ter norteado a decisão recente.
PDA
Na reunião dos diretores da Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa), o diretor-tesoureiro da CNI, Alexandre Furlan, falou sobre o Programa de Desenvolvimento Associativo (PDA) para os representantes de empresas e sindicatos. Ele destacou ações como o Sistema Integrado de Gestão de Arrecadação. A idéia é aumentar a arrecadação fazendo com que mais empresas contribuam para o fortalecimento sindical. Segundo o palestrante, Estados como Mato Grosso e Tocantins conseguiram aumentar, em 28% e 53% respectivamente, a arrecadação das federações.No Pará, o Sistema também tem ajudado dando transparência ao processo financeiro.
O PDA está possibilitando, ainda, aos sindicatos filiados à federação capacitação em gestão, modernização da infra-estrutura de tecnologia e a criação de novos canais para a divulgação das ações e serviços do sindicato. ?A CNI precisa chegar nos sindicatos. Eles têm que se sentir representados, por isso implantamos o PDA, que fortalecerá os sindicatos e deverá atuar na sustentabilidade desta entidade?, diz Furlan.
Outra medida para o fortalecimento empresarial é o compartilhamento dos serviços desenvolvidos pelas áreas meio, como a Contabilidade, Comunicação, Jurídico, Recursos Humanos, e Tecnologia da informação (TI). A chamada Área de Serviços Compartilhada prioriza o controle de gastos na atividade meio, para que a atividade fim seja beneficiada com mais recursos. Segundo Alexandre Furlan, a CNI compartilhou seis áreas meio e conseguiu economizar cerca de R$ 5 milhões.
Fonte: O Liberal
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