Crise ameaça cumprimento das metas de exportação
02/12/08
BRASÍLIA – A meta de US$ 202 bilhões para as exportações brasileiras neste ano não deverá ser cumprida. De acordo com o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Weber Barral, a crise financeira e o fechamento do Porto de Itajaí devido às chuvas em Santa Catarina frustraram o objetivo do governo. “Ainda esperamos que haja um bom desempenho para este ano. Acredito que vai chegar perto dos US$ 200 bilhões”, disse Barral.De janeiro a novembro, as exportações somaram US$ 184 bilhões. Nos últimos 12 meses, totalizaram US$ 198,3 bilhões. Somente no mês passado, quando a balança teve um superávit de US$ 1,6 bilhão, as vendas externas totalizaram US$ 14,7 bilhões.No início de 2008, a meta, que é estabelecida pelo próprio MDIC, estava em US$ 198 bilhões. Posteriormente, foi elevada para US$ 200 bilhões e, depois, para US$ 202 bilhões. Segundo o secretário de Comércio Exterior informou que a forte queda do preço do petróleo, cujo barril chegou a ser negociado ao redor de US$ 150 e, atualmente, está em torno de US$ 50, é um dos principais fatores para a queda das vendas externas brasileiras. Somente em novembro, as exportações já recuaram cerca de US$ 600 milhões por conta só deste fator e, para dezembro, a estimativa é de uma nova queda, que pode ficar entre US$ 600 milhões e US$ 1 bilhão. Outro fator é a queda das vendas de minério de ferro, por conta de negociações entre a Vale do Rio Doce e importadores chineses.Além do petróleo, Barral calcula que as exportações caíram US$ 370 milhões em novembro por conta de produtos que deixaram de ser embarcados ao exterior pelo Porto de Itajaí (SC), que foi totalmente destruído pelas chuvas. “O porto de Itajaí é extremamente importante. É o segundo maior porto de contêiner do País. É muito mais importante para as exportações do que para as importações. Por ele, são embarcados produtos de maior valor agregado, como os manufaturados”, disse Barral.Segundo ele, a interdição do porto impede a exportação de cerca de US$ 31 milhões por dia. O secretário não soube fornecer, porém, uma estimativa para os prejuízos do mês de dezembro. Dados do governo mostram que 4% de todas as exportações brasileiras são embarcadas ao exterior por meio do porto de Itajaí. Segundo Barral, cerca de 30% das exportações brasileiras de carnes são feitas via Itajaí, além de 22% das vendas externas de fumo; 26% das exportações de móveis; 21% de produtos cerâmicos; 32% das exportações de compressores e 60% da produção brasileira de maçã destinada ao mercado externo. O secretário de Comércio Exterior disse ainda que a Secretaria de Portos do governo federal estimou que o porto voltará funcionar normalmente somente dentro de dois meses. “Houve um processo grave de assoreamento do rio. Vai ter que fazer dragagem. De 30 a 60 dias, pelo menos 50% do porto voltará a ficar operante”, disse Barral. Ele lembrou que o governo já liberou, via medida provisória, R$ 350 milhões para obras no porto de Itajaí. De acordo com pesquisa elaborada pelo BC, analistas acreditam que a balança encerrará o ano com superávit de US$ 23,6 bilhões, saldo que deve encolher para US$ 13,66 bilhões no ano que vem.OutubroBarral disse ainda que, apesar dos efeitos da crise e do dólar na balança comercial, as exportações e as importações foram recordes para meses de novembro, totalizando US$ 14,753 bilhões e US$ 13,140 bilhões, respectivamente. Segundo os dados apresentados pelo secretário, as exportações de produtos básicos cresceram 21,1% em relação a novembro de 2007, mas tiveram uma queda de 20,7% na comparação com outubro deste ano. Segundo ele, essa redução em relação ao mês anterior deve-se à queda nos preços das commodities (matérias-primas), principalmente de petróleo, ferro-gusa e semimanufaturados de ferro e aço.Já os produtos industrializados registraram uma queda nas vendas externas de 2,2% em relação a novembro de 2007 e de 5,3% em relação a outubro de 2008. Barral afirmou que, embora a maior parte das commodities tenha sofrido redução nos preços em relação a outubro, boa parte ainda está em patamar mais elevado do que em novembro de 2007. É o caso, por exemplo, dos preços de minério de ferro, que estão 99,5% mais caros do que em novembro em 2007. O secretário, no entanto, admitiu que a tendência de queda nos preços das commodities ainda não se estancou. Ele acredita que a intensidade dessa queda está diretamente ligada à extensão da crise. Do lado das importações, as compras de bem de capital, matérias-primas e intermediários e bens de consumo registraram crescimento na comparação com novembro de 2007, mas tiveram uma queda elevada em relação a outubro de 2008. Segundo o secretário, essa redução se deve, principalmente, à desvalorização do real. No caso de bens de capital, houve uma queda de 12,3% que, segundo Barral, pode ser explicada pelo aumento do custo das máquinas importadas.
DCI