Commodities estão longe dos piores momentos
15/10/08
Claudia Carpenter e Millie Munshi Bloomberg, de Londres A queda recorde de 39% sofrida pelas commodities desde 3 de julho está longe de terminar, a julgar pelo histórico dessa variável. O Índice Reuters jefferies CRB de 19 commodities, que vão do café à prata, terá de cair mais 37% para alcançar a retração da recessão de 2001 e 35% para atingir a queda de 1998, quando o petróleo bruto atingiu seu patamar mais baixo, de US$ 10,35 o barril. O indicador está 28% acima de seu nível mais baixo, registrado durante a contração da economia encerrada em novembro de 1982. A cotação do cobre, por exemplo, depois de ter computado na semana passada sua maior perda semanal do último período de duas décadas, ainda está equivalendo ao triplo dos níveis de 2001. Embora os preços, em queda livre, do petróleo, do níquel e da soja já tenham comprometido bolsas desde Moscou até São Paulo, além de diminuir em 52% os lucros da Alcoa, a alta dos estoques de cobre e a desaceleração da demanda por combustíveis permite concluir que os preços continuarão a cair, segundo alguns investidores. A desaceleração da economia americana vai durar mais de um ano e será mais profunda do que qualquer outra ocorrida nas últimas três décadas, segundo Martin Feldstein, economista da Universidade de Harvard e membro da comissão que faz o monitoramento gráfico dos ciclos da economia americana. “O atual desaquecimento vai fazer 2001 parecer um refresco”, disse Tim Mercer, diretor de investimentos do fundo de hedge Musashi Capital, sediado em Moscou, que vendeu todos os seus investimentos em commodities em julho. “Este é o estouro dos 25 anos da bolha do crédito referenciado em ativos. As pessoas pararam mesmo de gastar dinheiro, em todo lugar”, afirmou o diretor da Musashi. O Índice Reuters/Jefferies CRB encerrou o último dia 10 de outubro a 289,89 pontos, depois de perder 11% durante a semana. O indicador subiu 29% no primeiro semestre, o melhor de todos os inícios de ano, depois de despencar 25% no terceiro trimestre do ano passado. O Goldman Sachs Group reduziu sua estimativa de 2009 para o chumbo em 17% e para o cobre em 12% em 1 Q de outubro. O UBS, sediado em Zurique, disse no dia 6 de outubro que o níquel perderá mais 32% de seu valor do que o anteriormente previsto, enquanto a platina ficará 50% menor do que o anteriormente calculado. O Morgan Stanley de Nova York reduziu sua estimativa de 2009 para o alumínio em 20%, três dias depois, e a do paládio em 45%. O petróleo bruto a US$ 77,70 o barril e o cobre a US$ 4.790 a tonelada, segundo os preços de fechamento na sexta-feira, estão pelo menos 46% inferiores a seus picos de julho, sinalizando o fim dos lucros recordes da Freeport-McMoRan Copper & Gold, a maior produtora de cobre com ações negociadas em bolsa, e da produtora de combustíveis americana Exxon Mobil. Os lucros da Exxon deverão cair mais de 2%, para US$ 45,9 bilhões, en12009, a primeira retração desde 2002, segundo dados reunidos pela Bloomberg. A empresa deverá anunciar seus próximos resultados financeiros a 30 de outubro. A Alcoa disse, no dia 7 de outubro, que seus lucros do terceiro trimestre caíram mais de 50%, para US$ 268 milhões. A Freeport -McMoRan de Phoenix disse, no dia 22 de julho, que seus lucros diminuíram 14%, para US$ 947 milhões, no segundo trimestre. Produtoras de aço, metais e fabricantes afins de produtos básicos são o grupo de empresas de pior desempenho este ano no Índice MSCI World, ao perder 48% de seu valor até o momento. O declínio é superior que o registrado por bancos e por empresas de combustíveis. As ações da Exxon Mobil despencaram 20% na semana passada, para US$ 62,36 no pregão de Nova York. As ações da Rússia, dominadas por empresas de commodities como a Lukoil e a Gazprom, perderam 62% este ano, o que ajudou a ceifar US$ 230 bilhões do patrimônio das 25 pessoas mais ricas do país nos últimos cinco meses. O Índice Bovespa brasileiro, capitaneado pela Petrobras e pela Companhia vale do Rio Doce, despencou cerca de 52% em relação à sua alta recorde de maio, passando a 35.609,54 pontos. A mediana das estimativas para o crescimento dos Estados Unidos do ano que vem, colhidas em pesquisas da Bloomberg junto a economistas, caiu em oito dos últimos nove meses, com a probabilidade de uma recessão atualmente calculada em 90%, comparativamente aos 50% de maio. A economia dos Estados Unidos crescerá 0,1% em 2009, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Valor Econômico