Mineração eleva meta de aportes para US$ 57 bilhões
10/09/08
SÃO PAULO RIO DE JANEIRO – O Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) anunciou, ontem, revisão de seus cálculos de investimentos em mineração no Brasil para os próximos quatro anos, de US$ 42 bilhões para US$ 57 bilhões. Essa é a quinta revisão do Ibram, em menos de dois anos, do balanço de investimento em expansão da produção mineral no País.O principal mineral no rol das prioridades de investimento é o minério de ferro, seguido do níquel e alumina. De acordo com o professor da Universidade de Uberaba e especialista em mineração, Germano Mendes de Paula, grande parte dos investimentos deve ser direcionada para atender o mercado externo. “É um movimento das mineradoras para conseguir sustentar o crescimento, principalmente da siderurgia asiática”, afirma.De acordo com especialistas ouvidos pelo DCI, a única incerteza é por conta dos investimentos em níquel, produto que apesar de ter garantido uma posição importante no País, tem sofrido muito com as oscilações de preço. Os investimentos para a produção de níquel são de “alta dimensão econômica e por isso os projetos podem não ser levados em frente”.ValeDepois de boatos e afirmação de diversos analistas no exterior , a mineradora Vale confirmou, ontem, por meio de nota, que “está negociando com seus clientes baseados na Ásia a convergência dos preços de referência para o minério de ferro para o mesmo nível daqueles praticados para clientes europeus”.De acordo com a companhia, os preços para os clientes asiáticos são inferiores aos praticados para os clientes da Europa em 11,0 a 11,5%.A Vale também informou que a negociação ainda está em curso e se for concluída, o ajuste de preços mencionado implicará em acréscimo estimado de receita menor a 3,0 % da receita total da companhia do período de 12 meses que foi encerrado em 30 de junho de 2008, quando foi registrado US$ 35,481 bilhões.Na semana passada a empresa havia negado que estaria negociando reajuste de preços junto às siderúrgicas asiáticas, apesar de representante da Associação do Minério de Ferro e do Aço da China ter confirmado que a Vale estaria exigindo um adicional para igualar o preço da Ásia ao que a ArcelorMittal e siderúrgicas européias estariam pagando à mineradora. Também por comunicado na semana passada, ela havia informado que mantém “permanente diálogo com seus clientes, buscando a negociação”.Participação na exploraçãoA Vale anunciou que está ampliando sua participação no setor de exploração de óleo e gás. A Agência Nacional de Petróleo (ANP) aprovou a compra de 25% em um bloco localizado em águas rasas, na Bacia de Santos, a 200 quilômetros do pré-sal. Já são dois os poços perfurados. Ficam na região do campo de Merluza. A operadora do bloco será a British Gás (BG). Mas essa não é a primeira vez que a Vale entra no setor. No ano passado, participou da Nona Rodada de Licitações da ANP e arrematou nove blocos, em parceria com outras empresas.Para o diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), Adriano Pires, a entrada da Vale no segmento é caso muito específico, porque, como mineradora, explorar petróleo e gás teria uma certa lógica. Esse passo já foi dado, por exemplo, pela gigante BHP Billiton e a Vale pode estar seguindo seus passos. A mineradora brasileira não quis comentar o assunto. “A Vale é também uma grande consumidora e seu consumo potencial de gás é enorme. A empreitada pode ser vista como uma tentativa de tornar-se autoprodutora, para consumo próprio”, opinou Pires.Ele ressaltou, no entanto, que de acordo com a legislação atual, a companhia não poderia usufruir diretamente do óleo e do gás extraído. Mas o marco regulatório do petróleo está sendo rediscutido, após as descobertas do pré-sal, assim como a Lei do Gás está tramitando há cerca de três no Congresso.”Se houver modificações no atual modelo, talvez a Vale possa inclusive construir um gasoduto de transferência direto da planta de gás para a fábrica. Outra possibilidade é o pagamento de aluguel para uma distribuidora”, disse Pires. Mas ele disse não acreditar que a nova lei do gás saia ainda este ano, devido às eleições municipais.Já o consultor de mineração da Corretora Geração Futuro, Carlos Kochenborger, acredita que o aumento da participação da Vale no setor esteja relacionada, sim, à tentativa de alcançar maior auto-suficiência em energia. Mas a impossibilidade de utilização direta dos recursos faria com que a exploração fosse, na verdade, uma espécie de hedge. “O custo da Vale com óleo combustível e gás é muito grande, assim como com energia elétrica. Se ela imagina que os preços desses insumos vão subir, investe diretamente no setor e o que tiver que pagar pelos insumos será igual ao que vai ter que receber”, disse.Para ele, trata-se primeiro de tentar explorar outras fontes energéticas e, em segundo plano, buscar maior diversificação de portfólio. Seria possível também fazer um hedge financeiro, mas no setor de gás e no mercado interno é mais difícil fazer isso, explica o consultor. É de se acreditar, portanto, que a Vale vai continuar ampliando sua participação no setor de óleo e gás nos próximos leilões da ANP.O empresário Eike Batista, que atuava majoritariamente no ramo de mineração, também entrou para o setor de óleo e gás, com a criação da OGX. No entanto, sua empreitada foi considerada diferente, não complementar aos negócios. Para Pires, Eike é um empreendedor que viu a oportunidade de atuar em ramo cujos preços estavam subindo vertiginosamente. Kochenborger concorda que sua visão é diferente. “Ele escolhe os segmentos em que atua onde enxerga potenciais negócios. Se ele vir potencial em atividade não correlata, vai investir também. Já a Vale mantém-se na exploração mineral, embora seja um segmento bastante diferenciado”, disse.
DCI