"Vamos exportar urânio sob controle do governo"
05/06/08
Entrevista: Edison Lobão, ministro de Minas e Energia–>
Em entrevista concedida à Agência RBS por telefone, ontem, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, adiantou que o leilão especial de energia eólica pode ocorrer ainda este ano e que o Brasil quer, sim, dominar a tecnologia de enriquecimento de urânio para gerar, em longo prazo, mais de 30 a 40 vezes a atual capacidade nuclear do país.Agência RBS – Nesta quinta-feira é Dia Mundial do Meio Ambiente. Como se avança na discussão sobre os limites ambientais da geração de energia?Edison Lobão – Todos os brasileiros têm o dever de defender o ambiente, mas isso não pode prejudicar o desenvolvimento nacional. Entre os princípios que regem a política energética brasileira, figuram com posição de destaque a proteção ao ambiente e a promoção da conservação de energia. Investimos fortemente em fontes renováveis e em programas que evitam ou reduzem os problemas ambientais.Agência RBS – A geração térmica a carvão é problema ou solução?Lobão – As termelétricas são uma alternativa importante, inclusive as movidas a carvão, embora causem alguma poluição. É preciso aperfeiçoar as tecnologias de geração de energia e, a partir desse combustível, gerar energia suficiente.Agência RBS – É possível garantir a tecnologia limpa de queima de carvão?Lobão – O nosso carvão, é preciso reconhecer, não é dos melhores. O carvão da Colômbia é o melhor do mundo. Esse é um carvão que se aproxima da limpeza e tem uma produtividade muito grande. O carvão brasileiro, do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, não tem essa pureza, mas é bom e devemos aproveitá-lo. Os equipamentos são cada vez mais modernos e filtram parte da poluição que anteriormente era exuberante.Agência RBS – A geração nuclear também enfrenta resistências. O governo pretende construir quantas usinas além de Angra 3?Lobão – A energia nuclear é absolutamente limpa e segura. Ficou na cabeça das pessoas o problema de Chernobyl, mas foi um acidente que pode ocorrer com qualquer outra fonte de energia. Quanto aos resíduos, cada país adota seu procedimento. No Brasil, colocamos num contêiner que é sepultado em algum lugar, preservado sem maiores perigos. Na França, está sendo desenvolvido um processo de reaproveitamento desse resíduo. Isso fará com que de fato a energia nuclear seja a melhor de todas. Não é poluente e tem aproveitamento total.Agência RBS – O Brasil vai evoluir para enriquecer o urânio existente no país?Lobão – Vai. Essa idéia de fazer o enriquecimento aqui está na origem da instalação das usinas nucleares, desde os anos 70.Agência RBS – Mas não saiu do papel até hoje, certo?Lobão – Saiu alguma coisa do papel, mas o enriquecimento ainda é no Exterior. Estamos caminhando para o enriquecimento de urânio no Brasil. Temos a sexta maior reserva do mundo e estará em condições inclusive de exportar urânio. Vamos fazer isso, exportar urânio sob controle do governo. Não podemos desperdiçar uma fonte tão ampla de energia e de riqueza.Agência RBS – Além de Angra 3, serão construídas mais quatro ou mais oito nucleares?Lobão – Inicialmente, mais quatro, e em longo prazo, mais oito. Contemplamos um projeto com o qual podemos chegar a 2060 com até 80 mil megawatts oriundos de energia nuclear. E sem risco.Agência RBS – Sempre que se discutem esses riscos, surgem idéias de explorar mais as fontes naturais como a eólica e a solar. Por que isso não ocorre com mais intensidade?Lobão – Nós estamos estimulando em vários estados. Já temos projetos de instalação de usina eólica no Ceará, Rio Grande do Norte, Piauí e até mesmo no mar. É uma boa energia, absolutamente limpa, mas ainda é cara. Em energia solar, também temos feito experiências, algumas bem-sucedidas. Nossas universidades estão estudando.Agência RBS – Novos projetos eólicos esbarram na falta de leilões para essa fonte, que de fato ainda é mais cara. Há uma previsão de um leilão específico?Lobão – Estamos imaginando a realização de um leilão, mas ainda não definimos exatamente o modelo. Isso será feito, não é um embaraço. Pode ocorrer ainda este ano.Agência RBS – O ministério apóia a construção do terceiro terminal de GNL, que está em disputa entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina?Lobão – O estudo está a cargo da Petrobras e o ministério acompanha. O GNL vem nos ajudar. Vamos ter até o final deste ano, início do próximo, cerca de 20 milhões de metros cúbicos de gás natural oriundo de GNL. A localização desse terminal ainda não foi definitivamente ajustada. Há essa idéia de que um terceiro terminal é necessário, mas ainda continua sendo discutido.
Jornal de Santa Catarina