Por que o Brasil deixou na areia um negócio promissor
14/04/08
São Paulo, 14 de Abril de 2008 – Guarapari (ES) despontou como destino turístico na década de 1960, quando suas areias monazíticas passaram a ser conhecidas como medicinais, indicadas para os casos de reumatismo, artrite, nevralgias, alergias e anemia, entre tantas outras doenças. Hoje Guarapari ainda é destino turístico, principalmente de capixabas e mineiros, mas já não se vê tantas pessoas enterradas na areia, em tratamento de saúde. Da mesma forma, a exploração das areias monazíticas brasileiras existentes em Guarapari e em outras regiões do País para a produção de um conjunto de elementos químicos conhecido como terras raras, também já não tem a importância do passado. A razão é a concorrência chinesa. O país asiático possui a maior produção mundial do material, cerca de 120 mil toneladas por ano, o que representa 96,6% da produção mundial. Possui também as maiores reservas, de 89 milhões de toneladas, 57,7% do total mundial. As terras-raras são um grupo de 17 elementos químicos que incluem cério e ítrio, entre outros metais conhecidos pela maleabilidade e ductilidade. Inicialmente eram usados na indústria ótica e fotográfica. Hoje, porém, também são usada em catalisadores e em uma infinidade de equipamentos eletrônicos, e até mesmo para a levitação magnética do trem bala. `Hoje nenhum país tem condições de competir com a China neste segmento e o Brasil não só importa terras raras como todos os eletrônicos que têm esses insumos em seus componentes`, disse o diretor de assuntos minerários do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Marcelo Ribeiro Tunes. Anos atrás, não era assim. As areias monazíticas foram descobertas no Brasil em 1886 e o País chegou a registrar as maiores reservas de areia com essas qualidades até por volta de 1915, quando a Índia passou a competir com o Brasil. Bem é verdade que, além das areias monazíticas, as terras-raras são encontradas em minerais como bastnasita e xenotímia, o que fazia as reservas brasileiras perderem peso no cenário mundial. De qualquer forma, 30 anos antes de as areias monazíticas se tornarem conhecidas pelos benefícios medicinais, já eram exploradas comercialmente. Em Guarapari, por exemplo, a Sociéte Miniére et Industrielle Franco-Brasiliense instalou a usina Monazita Ilmenita do Brasil (Mibra) para fazer o beneficiamento dessas areias no início do século XX. Na época, o Brasil chegou a obter destaque mundial por ser o primeiro país a produzir terras-raras a partir da monazita. A Mibra explorou o mineral até os anos de 1960, quando a Nuclemon, subsidiária da Nuclebrás, passou a explorar a região, bem como outras jazidas de monazita, uma vez que o governo, ao perceber a presença de elemento químico radioativo associado à areia, determinou exclusividade na exploração. `Enquanto havia recurso, a produção foi para frente, mas na década de 1980, quando o Estado parou de ter recursos, a exploração de terras-raras regrediu`, disse Tunes. A partir da década de 1970, o Japão descobriu novas aplicações para terras-raras e desenvolveu novas tecnologias para o tratamento do material. `Com o domínio tecnológico, os japoneses passaram a comprar terras-raras do Brasil, ao mesmo tempo em que induziram a China e a Índia a entrar também nesse segmento`, explicou Adriano Maciel, superintendente de produção mineral das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), que sucedeu a Nuclebrás em 1989. `Nos anos 1990 a China dominou a produção de terras-raras, oferecendo preços tão baixos que todos os produtores mundiais foram obrigados a deixar a atividade`, acrescentou. O Brasil produziu em 2006, último dado disponível, 958 toneladas de monazita com 0,27% de terras-raras contida e importou 2,5 mil toneladas de compostos químicos e manufaturados ligados às terras-raras, correspondente a gasto de US$ 5,7 milhões. A INB diz não ter interesse em desenvolver o segmento. `O mercado nacional é muito pequeno. O volume de importações não justifica o investimento na exploração dessa matéria-prima`, disse Maciel.
Gazeta Mercantil