Preço do minério faz indústria calcular reajuste
19/02/08
Os segmentos da indústria que utilizam aço como produto básico em suas linhas – que vão de montadoras de veículos a fornecedores da construção civil – estão debruçados sobre planilhas para calcular o impacto que o preço do produto terá em seus custos. A preocupação aumentou depois que a Vale do Rio Doce, , a maior produtora de minério de ferro do mundo, definiu o reajuste dos preços do minério de ferro (matéria-prima para produzir aço) para clientes asiáticos, em níveis que variam de 65% a 71%.As siderúrgicas vão repassar esse aumento, que deve ser ainda maior por parte da Rio Tinto, outro megaprodutor de minério, na previsão dos analistas. A empresa comunicou ontem que quer receber um “ágio de frete” que reflita o custo mais baixo para os consumidores de China, Japão e Coréia do Sul para o transporte marítimo de minério de ferro despachado a partir dos portos australianos, em comparação aos brasileiros.A intenção do Rio Tinto “poderá marcar o fim do conceito de `preço único para todas` adotado para os contratos anuais de fornecimento nas últimas décadas”, escreveu Michael Rawlinson, diretor de Mineração, Recursos Minerais e Energia da Liberum Capital Ltd., de Londres, em relatório divulgado ontem.Peso das montadorasNo caso da indústria automobilística, as contas sobre o impacto do novo preço já começam a mostrar os primeiros resultados. Toyota, Honda, Nissan e outras montadoras japonesas deverão desembolsar um total de US$ 1,85 bilhão a mais pelo aço no próximo ano fiscal. Essa alta dos custos deverá corroer os lucros dessas empresas, dizem analistas.As três maiores empresas siderúrgica da Ásia aceitaram um aumento de 65% para os preços do minério de ferro fornecido pela Vale do Rio Doce, disse ontem a JFE Holdings Inc., sediada em Tóquio, em comunicado.”O aumento dos preços representará um grande golpe para as montadoras japonesas”, disse Koji Endo, analista sênior do Credit Suisse Group, de Tóquio. “Os lucros das montadoras serão comprimidos, pelo menos no curto prazo.” “As condições do mercado não permitirão que aumentemos os preços”, disse Katsuaki Watanabe, principal executivo da Toyota. “Pretendemos baixar os custos devido à alta dos preços das matérias-primas.”Procuradas, as subsidiárias brasileiras das montadoras Fiat, Ford, General Motors e Volkswagen não quiseram comentar o assunto. Estudo do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), mostrou que no modelo Gol, da montadora Volkswagen, pelo menos 10% do valor total do veículo, hoje estimado em R$ 25 mil, vem da participação do aço na produção.Preços diferentesA Vale confirmou ontem que o preço de referência para o minério de ferro fino do Sistema Sul (SSF), FOB Tubarão, aumentou em 65% em relação ao preço de referência de 2007.Ao mesmo tempo foi acertado que o preço de referência para o minério de ferro fino de Carajás (SFCJ) vai subir 71%, com um prêmio de US$ 0,0619 por unidade de ferro acima do preço de 2007. A justificativa é a qualidade do minério de Carajás, embora técnicos garantam que o diferencial de qualidade é encontrado de maneira mais destacada na mina de Casa de Pedra, da CSN.Os novos preços de referência, em tonelada métrica seca são US$ 1,1898 por unidade de ferro para o SSF e US$ 1,2517 por unidade de ferro para Carajás. A unidade de ferro é o padrão para negociação do produto.”O acordo para o preço do minério de ferro com grandes empresas de alta qualidade e clientes tradicionais como a Kobe Steel é uma evidência do nosso comprometimento com o sistema de preços de benchmark, respeitando a importância do relacionamento de longo prazo e a confiança envolvida nessas negociações”, informou a Vale ontem. A Nippon Steel e a coreana Posco também informaram aceitar o aumento da Vale.Os estaleiros japoneses, como Mitsubishi Heavy Industries Ltd. e a Mitsui Engineering & Shipbuilding Co., também terão de arcar com custos mais elevados do aço, disse Yuichi Ishida, analista da Mizuho Investors Securities Co. de Tóquio. Apesar disso, a alta dos preços das embarcações deverá neutralizar o aumento dos custos das matérias-primas.
DCI