Setores mais afetados pela crise começam a chamar de volta demitidos
20/08/09
A recontratação de trabalhadores demitidos depois do estouro da crise financeira mundial e a suspensão das férias coletivas dão sinais de que a rotina das usinas produtoras de ferro-gusa (matéria-prima da fabricação de aço) e da indústria da mineração pode estar começando a voltar ao período pré-crise. Os dois setores foram os mais afetados pela turbulência na economia em Minas Gerais. Cerca de 900 trabalhadores foram contratados nas empresas guseiras de Sete Lagoas, na Região Central do estado, nos últimos dois meses, a maioria deles ex-empregados da própria atividade, informou ontem o sindicato local dos metalúrgicos. O número de fornos religados em Minas tem aumentado desde o começo de julho e já alcança 40 equipamentos, o dobro dos que permaneciam ligados em fevereiro passado, quando as encomendas estavam quase paradas, de acordo com o levantamento mais recente do Sindicato da Indústria do Ferro do estado (Sindifer-MG).A produção da Samarco Mineração, empresa do grupo Vale, retornou ao normal em Mariana, e a companhia desistiu de conceder férias escalonadas, chamando todo o pessoal ao trabalho. O presidente da mineradora, José Tadeu de Moraes, afirmou que o pior da crise já passou, embora ainda não se possa falar em recuperação sustentável da produção. ?Estamos vivendo uma fase de recomposição dos estoques (das siderúrgicas) no mundo. As perspectivas mais pessimistas não se confirmaram?, disse. Em Itabira, berço das operações da Vale, algumas empresas prestadoras de serviços voltaram a trabalhar e as demissões pararam, animando o secretário municipal da Fazenda, Marcos Alvarenga. A prefeitura estima 2,3 mil demissões no município, sustentado pela cadeia da produção mineral.Por trás da reação dos produtores independentes de gusa e da produção de minério de ferro estão novos contratos de vendas especialmente para a Ásia e a China, em particular. O presidente do Sindifer-MG, Paulino Cícero de Vasconcellos, confirma o movimento de recontratações nas empresas do setor não só em Sete Lagoas, como Divinópolis, Pará de Minas e Betim, embora a entidade ainda não tenha um levantamento do número de admissões no estado. ?É o início de uma esperança de retomada. Não sabemos se essa reação terá sustentação?, afirma. As usinas de todo o estado estão funcionando ao ritmo de um terço da média histórica da produção de 450 mil toneladas por mês. Em fevereiro, produziam o equivalente a 15% dessa média.Em Sete Lagoas, Ernane Geraldo Dias, presidente do sindicato local dos metalúrgicos, estima 15 fornos ligados de um total de 38 equipamentos e 2,6 mil trabalhadores em serviço. A categoria teria chegado a perder 4 mil postos de trabalho em função da crise financeira. ?Respiramos melhor, mas fica a dúvida se a recuperação vai se manter?, diz. Para o presidente da Samarco Mineração, José Tadeu de Moraes, os sinais de reação da siderurgia no mundo estão sendo melhores que o esperado. ?Nosso estoque está zerado e, se houvesse mais, eu arriscaria dizer que essa produção estaria vendida?, afirma o executivo.A Samarco reviu as previsões para o fechamento do ano, inicialmente para uma produção de 14 milhões de toneladas de minério. Agora, a empresa projeta 16 a 17 milhões de toneladas, apostando que neste segundo semestre repetirá a performance dos primeiros seis meses do ano passado, portanto, antes da crise estourar nas bolsas de valores. Além dos clientes chineses da Samarco, a procura por minério de siderúgicas da Indonésia e da Malásia tem se destacado.INVESTIMENTO TÊXTILInvestimentos de R$ 36,5 milhões serão feitos pela Tear Têxtil Indústria e Comercio, que prepara a transferência de sua fábrica de Contagem, na Grande Belo Horizonte, para de Paraopeba, na Região Central de Minas. O projeto de expansão, iniciado em outubro do ano passado, inclui obras civis, aquisição de máquinas, equipamentos, móveis e utensílios. A empresa pretende aumentar a sua capacidade de produção dos atuais 1,65 milhão de metros de tecidos por mês para 1,81 milhão de metros lineares mensais a partir de 2011, um acréscimo de 10%. Dos recursos estimados, R$ 15 milhões serão financiados pelo Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), conforme protocolo de intenção de investimentos firmado ontem com o governo de Minas Gerais. A Tear prevê faturamento de R$ 110 milhões no ano que vem.
Estado de Minas (Marta Vieira e Paola Carvalho)