Mineradoras disparam reação
10/08/09
Renato FonsecaRepórterO setor de mineração, fortemente afetado pela crise econômica mundial, começa a mostrar sinais de reaquecimento nos mercados nacional e internacional. A retração na demanda por minério, que atingiu em cheio o setor, vai sendo deixada para trás, e o cenário traçado é de retomada da comercialização e estabilidade nos preços da commodity. Em junho e julho deste ano, as exportações brasileiras de minério de ferro ultrapassaram os 20 milhões de toneladas , quase a mesma média de vendas registrada antes da crise. A recuperação é atribuída, em grande parte, às compras feitas pela China. Mas também ao setor siderúrgico nacional, alimentado pela mineração, que até já abre vagas no mercado de trabalho (leia texto no alto desta página). A movimento aquece ainda as encomendas de equipamentos para o setor.Na MMX Mineração e Metálicos, empresa do Grupo EBX, os negócios seguem em recuperação, e as perspectivas são de que este segundo semestre seja bem melhor que os primeiros seis meses deste ano. ?Começa-se a observar, no Brasil e no mundo, sinais de retomada na economia, que se refletem em todos os setores produtivos. Os setores de mineração e siderurgia foram muito afetados pela profunda crise financeira internacional. Acreditamos que 2010 será melhor que 2009 e que se assemelhe ao segundo semestre deste ano, que já dá sinais de recuperação?, disse o Diretor Comercial da MMX, Chequer Bou-Habib.Com a retomada da demanda, oportunidades de emprego voltam a aparecer. Nas quatro minas da Usiminas em Itatiaiuçu, próximo a Itaúna, profissionais com experiência na operação dos equipamentos estão sendo contratados por empresas prestadoras de serviços à mineradora. A confirmação foi feita pelo Sindicato dos Trabalhadores na Indústria (Sindiextra), em Itatiaiuçu e Itaúna. Uma fonte ligada ao setor informou que a empresa estaria exigindo apenas a antiga quarta série do ensino fundamental dos operadores. O Sindicato desconhece essa informação, mas confirmou as contratações na cidade e região. ?As informações que temos é de que o setor está em recuperação, prova disso é que a Usiminas está à procura desses operadores?, disse o presidente do Sindiextra Walmir Falcão. A Usiminas foi procurada, mas não confirmou nenhuma das informações.Outra empresa que já percebeu a melhora da demanda por minério de ferro no mercado internacional é a Minerita Minérios Itaúna Ltda. Até o final do ano, será comercializada uma tonelada de minério para o exterior, afirmou o Gerente de Logística da Minerita, Carlos Marra. Segundo ele, a melhora é gradual, mas animadora. ?Este montante sempre fez parte da nossa meta de 2009, mas estávamos com muito receio no início do ano. Não sabíamos o que ia acontecer. Passado o primeiro semestre, com o crédito aberto e os contratos assinados, podemos respirar aliviados, tendo a certeza de que nossa meta será cumprida, mesmo que o preço ainda continue bastante defasado?, disse Marra. Segundo ele, o preço pago pelo minério de ferro caiu quase 50%. Em melhores condições para tirar proveito da retomada da economia e ampliar a sua produção no segundo semestre, a Vale segue a mesma linha. O presidente da empresa, Roger Agnelli, já afirmou que o pior momento da crise passou, embora a companhia ainda trabalhe com um cenário difícil para este ano. Na semana passada, durante a apresentação dos resultados do segundo trimestre deste ano, a companhia informou que a produção das minas de Itabira, Mariana e Minas Centrais, em Minas Gerais, e Urucum, no Mato Grosso do Sul, subiu 32,7% entre o primeiro e o segundo trimestres do ano. Já nas minas Itabirito, Vargem Grande e Paraopebas, a alta foi de 53,4%. Mesmo com a gradual recuperação da produção, a Vale teve receita 6,2% menor no segundo trimestre em relação ao primeiro. A receita caiu de US$ 5,4 bilhões para US$ 5 bilhões. Outro fator positivo é a retomada das atividades da mineradora na reserva de Gongo Soco, em Barão de Cocais. As operações da mina foram paralisadas em setembro, quando crise se intensificou , como estratégia para se ajustar à baixa demanda por minérios no mundo. A empresa também comprou 15 navios e encomendou 20 para tornar o frete competitivo para exportar para a China, seu principal cliente. Na Mineração Córrego do Feijão, da Vale, em Brumadinho, as atividades estão a todo o vapor. Trens operando, detonações voltaram aos horários normais, e há encomendas de caminhões e caçambas.A Rossetti Equipamento Rodoviários – líder nacional na fabricação de caçambas basculantes para caminhões ?, um dos principais fornecedores da Vale, está entre as empresas que já sentem os efeitos benéficos da recuperação da mineradora. Segundo a empresa, há 15 dias foi feito pedido de 28 caçambas para a mina Córrego do Feijão. ?Desde outubro, a demanda para a produção de caçamba basculante para o transporte de minério estava parada. Com esse pedido, parece que o cenário começa a mudar de maneira positiva?, informou uma fonte ligada à unidade de produção da Rossetti, em Betim. Os valores não foram informados. Além dos 28 equipamentos, a Vale também já pediu cotações para a substituição de caçambas e caminhões em outras minas do Estado.O Sindicato Metabase de Brumadinho e Região também já percebe a gradual melhora na produção nas minas, mas ainda não aposta em uma intensificação do movimento. ?Ainda é cedo para falar em reaquecimento da demanda. Segundo nossas estimativas, isso deve ocorrer somente a partir de 2010. O que, de fato, temos até o momento são alguns sinais de estabilidade?, disse o presidente da entidade, Agostinho José de Sales. Segundo ele, negociações constantes têm sido feitas com a empresa, principalmente com o intuito de recolocar no mercado os cerca de 300 funcionários demitidos na região. Levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) indica que o setor promete movimentar a economia nacional nas próximas décadas. Pelos cálculos da entidade, a indústria da mineração investirá US$ 47 bilhões entre 2009 e 2013 no Brasil. Em Minas Gerais, a principal província mineral do país, o montante será de US$ 13 bilhões. Para o presidente do Ibram, Paulo Camillo Vargas Penna, o cenário atual ainda é de alta volatilidade, mas já é possível falar em reaquecimento. ?O pior já passou. Chegamos ao fundo do poço, mas nos últimos dois meses, principalmente agora em julho, sentimos uma reação significativa?. As exportações de minério de ferro, em julho, ultrapassaram os 25 milhões de toneladas.?A China, principal importador de minério do país e maior parceiro comercial de Minas Gerais, tem tido um papel fundamental. Acreditamos que eles (chineses) vão aumentar ainda mais a demanda por minério e que os mercados da Europa também devem voltar a comprar?, disse Paulo Camillo. De acordo com ele, a China consome mais de 30% do minério brasileiro.O presidente do Ibram também lembrou que a matéria-prima da siderurgia respondeu, no ano passado, por US$ 16,537 bilhões do total do superávit da balança comercial brasileira, que foi de US$ 24,7 bilhões. Para ele, o Brasil deverá retomar os níveis de atividade semelhantes ao período pré-crise financeira mundial já em 2010.
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