Restos de gesso serão usados na agricultura
08/07/09
Prefeitura de Trindade, no Sertão, e o Itep projetam unidade experimental capaz de reaproveitar o resíduo da produção de placas. Atualmente, há desperdício e o material provoca degradação do soloPor mês são descartadas na natureza 1.137 toneladas de restos da produção de placas de gesso em Trindade, a 593 quilômetros do Recife, um dos quatro municípios sertanejos onde se concentram as fábricas de pré-moldados em Pernambuco. Reaproveitar o resíduo, transformando-o em gesso agrícola, é um dos objetivos da unidade piloto que a prefeitura e o Instituto de Tecnologia de Pernambuco (Itep) estão projetando.
O material, explica o presidente do Itep, Frederico Montenegro, causa degradação do solo. ?Não há preparação alguma do terreno, por isso a disposição dos restos a céu aberto tem gerado impactos?, afirma. Para o prefeito de Trindade, Gerôncio Figueiredo, além de poluir a cidade, a geração de resíduos evidencia o desperdício. ?As fábricas precisam aproveitar melhor o gesso?, opina.
Só em Trindade são 158 fábricas de gesso. Cada uma gera, por mês, aproximadamente sete toneladas do material. Os outros municípios que centralizam a atividade são Araripina, Ipubi e Ouricuri. As fábricas são a ponta da indústria gesseira do Sertão do Araripe. O início é nas mineradoras que extraem a gipsita. Nas calcinadoras, o;minério;é transformado em gesso. As fábricas transformam o pó em pré-moldados.
O convênio entre o Itep e a Prefeitura de Trindade prevê ainda o desenvolvimento de tecnologias para reduzir a geração de resíduos. ?Os trabalhadores precisam ser capacitados para evitar o desperdício?, exemplifica o presidente do Itep. Outro objetivo é reduzir a poluição atmosférica. ?Há registros de que o pó de gesso causa problemas respiratórios entre os trabalhadores do setor?, justifica.
O Itep ainda não estimou os custos da implantação da unidade piloto e não identificou qual será a fonte financiadora. ?O projeto está em fase de elaboração. Mas nos próximos dias teremos essas respostas?, adianta Montenegro. A expectativa do prefeito de Trindade é que até o fim do ano a unidade esteja implantada.
A ideia é transformar o resíduo das fábricas de pré-moldado em gesso agrícola. O material é usado como corretivo do solo, reduzindo a acidez. ?O que estamos buscando é um sistema de produção mais limpo para o polo gesseiro, com a redução da geração de resíduos e a aplicação de tecnologias de reaproveitamento?, resume o presidente do Itep.
O instituto já tem experiência no emprego do resíduo de gesso da construção civil na agricultura. O material foi testado no cultivo da cana. O aumento da produtividade com o gesso agrícola é de até 10 toneladas de cana por hectare.
A correção do solo normalmente é feita com calcário. O gesso e o calcário minimizam o teor de alumínio, reduzindo a acidez, mas só o primeiro penetra nas camadas inferiores. Enquanto o calcário se fixa na superfície (cerca de 20 centímetros), o resíduo de gesso é mais solúvel e alcança até cerca de 60 centímetros. Com isso, ameniza o efeito tóxico do alumínio, que impede o enraizamento da planta.
Jornal do Commercio – PE