Dos males o menor
16/06/09
;
Em geral, o anúncio de uma fusão entre duas grandes companhias deixa os concorrentes de cabelo em pé. Afinal, o poderio econômico e os ganhos de escala da nova empresa trazem vantagens competitivas muitas vezes imbatíveis. Pois, na semana passada, a Vale assistiu com certo alívio à união de duas de suas maiores concorrentes no mercado de minério de ferro, as anglo-australianas BHP Billiton e Rio Tinto. Juntas, com 33% de participação de mercado, elas encostam na mineradora brasileira, dona de 36% das vendas globais.
;
Só em sinergias, os ganhos podem atingir US$ 10 bilhões. Oficialmente, a Vale não se manifesta sobre o assunto, mas um executivo da empresa garante que houve muita comemoração nos escritórios. O novo cenário nunca fez parte dos sonhos da Vale, mas é o melhor entre os que vinham se desenhando nos últimos meses. Primeiro porque a união não significa, no curto prazo, uma ameaça à liderança da Vale. “Embora elas tenham se aproximado, a capacidade de produção da Vale continua inalcançável”, afirma Cristiane Viana, da Ágora.
;
Outro motivo de comemoração é que o negócio significa que a Rio Tinto resistiu ao sedutor canto da Chinalco, terceira maior empresa de alumínio da China. Os chineses propuseram comprar 18% das ações da australiana por US$ 19,5 bilhões. Caso o negócio fosse fechado, a China deixaria de ser tão dependente da importação do minério de ferro e ditaria, a partir de então, os preços do produto – possibilidade assustadora para a Vale, que tem no país asiático o maior de seus clientes.
;
“Seria extremamente ruim”, diz André Spolidoro, da Nobel Asset Management. Depois de acertar ponteiros com a BHP Billiton, a Rio Tinto anunciou que planeja emitir ações para levantar US$ 15,2 bilhões. Atolada em uma dívida de US$ 38,7 bilhões, a empresa precisava com urgência de uma injeção de recursos. Por incrível que pareça, o novo vigor da concorrente também soou bem aos ouvidos da Vale. A partir de agora, a companhia brasileira poderá contar com um aliado de peso para resistir à pressão chinesa pela redução drástica dos preços do minério de ferro.
;
Com estoques ainda elevados, as siderúrgicas do país diminuem as importações do produto para forçar uma baixa dos preços nos contratos deste ano. Por conta disso, só em maio, as exportações brasileiras de minério despencaram 42,7% em relação a abril. Mesmo assim, a Vale é uma das últimas mineradoras a fechar acordos de redução de preço com seus clientes. Há poucos dias, ela informou que havia concluído as negociações com a siderúrgica japonesa Nippon Steel e a sul-coreana Posco para baixar valores de referência do minério de ferro e pelotas para 2009.
;
Segundo a mineradora brasileira, o preço de referência para o minério de ferro fino caiu em 28,2%. Para o granulado, o desconto foi de 44,47%. O acordo se estendeu às siderúrgicas japonesas Sumitomo Metal Industries, Kobe Steel e Nisshin Steel. Para analistas, é muito positiva a estratégia da Vale de prolongar ao máximo as negociações. “Quem cedeu primeiro não terá tantos ganhos quanto a brasileira”, afirmou à DINHEIRO Nicholas Barbarisi, sócio-diretor da Hera Investment, especializada em investimentos financeiros.
;
US$ 10 BILHÕES é o valor de sinergias que a BHP Billiton e a Rio Tinto preveem atingir com a fusão.
;
A China ainda não fechou novos acordos. As siderúrgicas locais pedem um corte de 50% nos preços do minério. A Vale não informa sua proposta, mas analistas apostam em algo entre 20% e 30%. Segundo Sérgio Rosa, presidente da Previ, dono de 14,95% das ações da empresa, a recuperação da Rio Tinto é determinante para o setor. “A fragilidade de um fornecedor o obriga a baixar muito o preço. Esse era o medo em relação à Rio Tinto. Mas acho que esse perigo está sendo afastado”, diz ele.
;