Mercado à espera dos pacotes dos EUA
10/02/09
O mercado nunca esteve tão ansioso pela aprovação, ou não, dos pacotes americanos que prometem amenizar as sequelas causadas pela crise financeira. Ao que tudo indica, hoje pode ser o “dia D”. No sábado, o secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, decidiu adiar para hoje o anúncio do plano de resgate do sistema financeiro, para coincidir com a votação no Senado do pacote de estímulo à economia. Essa expectativa de vai-não-vai provoca uma insegurança adicional nos investidores, que já estão bastante incrédulos depois de tantas surpresas negativas desde que a crise piorou, em meados do segundo semestre do ano passado.
Ontem foi um bom exemplo de como esse sentimento de incerteza deixa o mercado mais volátil e absolutamente sem rumo. O Índice Bovespa chegou a subir 1,53%, para quase 43.500 pontos, uma marca bastante interessante. Do meio para o fim dos negócios, o otimismo deu lugar ao medo de que os planos possam continuar em banho-maria e o indicador fechou em queda de 1,53%, de volta aos 42 mil pontos, mais especificamente 42.100 pontos. “Os investidores estão se dando conta que o Obama (Barack Obama, presidente dos EUA) sozinho não será a tábua de salvação; além disso, ele e a sua equipe terão de fazer concessões para o plano econômico passar no Senado”, diz um gestor.
Os investidores também aproveitaram o clima de dúvida também para vender uma parte de suas ações, para garantir os bons ganhos que tiveram com a valorização da bolsa nas últimas semanas. Até sexta-feira, as ações ordinárias (ON, com voto) da Vale, por exemplo, acumulavam uma alta de 39,94% e as preferenciais (PN, sem voto) série A, de 35,96%. Assim como no pior momento da crise, entre setembro e outubro de 2008, quando os investidores exageraram na queda, este ano exageraram na percepção de que o pior ficou para trás, diz o gestor.
“Antes, os papéis da Vale estavam muito depreciados, mas agora estão refletindo um cenário de mar-de-rosas que não existe”, diz ele. É importante o investidor ter em mente que a mineradora está numa acalorada disputa de preços com as siderúrgicas. Como se espera uma queda no preço do minério, a questão agora é saber qual o percentual do corte.
Hora de mudança
Com a valorização que os papéis de commodities, como siderurgia, mineração e petróleo, já tiveram este ano em pouco mais de um mês, analistas e investidores começam a olhar com mais carinho as ações de outros setores que ficaram para trás. Em relatório divulgado ontem, a Link Investimentos, por exemplo, comunicou aos clientes a decisão de tirar da carteira de recomendações as ON da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), colocando no lugar as ON da Sabesp. O argumento para a mudança é exatamente o fato de as ações da siderúrgica já terem alcançado o retorno esperado, portanto, a relação risco/retorno não é mais vantajoso. No ano, as ordinárias da CSN acumulam uma valorização de 34,76%.
Já com relação a Sabesp, a Link afirma que ela possui múltiplos, como preço sobre lucro (P/L) e o valor da empresa sobre sua geração de caixa (EV/Ebitda), menores que outras companhias de saneamento. Ainda segundo a Link, a empresa possui um plano de investimentos elevado, mas grande parte está garantida por contratos de empréstimos com organismos multilaterais, como o BNDES. Com relação às oportunidades de crescimento, elas estão na possível substituição dos serviços de atacado por varejo e o aumento da base de clientes no Estado de São Paulo. A Link tem um preço-alvo de R$ 34 para as ações da companhia, que ontem fecharam em R$ 25,90, alta de 3,60%, a segunda maior do Ibovespa.
Mais otimismo
Com a intensa valorização da bolsa até agora, cresce a cada dia o número de instituições financeiras mais animadas com o mercado. Ontem foi a vez do HSBC melhorar a recomendação para as ações brasileiras de neutro (na média do mercado) para “overweight” (acima da média do mercado). Para o banco, diferentemente de outros países emergentes, o Brasil tem um sistema financeiro sólido. Além disso, a dívida externa e as preocupações de refinanciamento são limitados. O banco recomenda principalmente ações de mineração, siderurgia e bancos.
Os papéis da Usiminas lideraram as quedas do Ibovespa ontem. As ON caíram 5,53% e as PNA, 4,56%. A Arcelor Mittal negou que estaria vendendo a Siderúrgica de Tubarão (CST). Os rumores eram de que a Usiminas seria a maior interessada na compra. Para a Ativa Corretora, essa aquisição não faria o menor sentido para a Usiminas por vários motivos. Entre eles está o aumento do endividamento em um momento inoportuno, e com a empresa tendo um plano de expansão com a construção de uma nova planta.
Daniele Camba é repórter de Investimentos
E-mail: daniele.camba@valor.com.br
Valor Econômico