Minério de ferro pode cair 30%
29/01/09
Londres e Seul, 29 de Janeiro de 2009 – O preço do minério de ferro deve cair em 2009, após seis anos de alta, por causa da redução da demanda, especialmente no setor siderúrgico. Será o fim de uma fase de prosperidade para mineradoras como BHP Biliton, Rio Tinto e a Companhia Vale do Rio Doce, que no ano passado conseguiram uma alta de preços que, com exceção da brasileira, se aproximou de 100%. As três empresas controlam quase três quartos do mercado mundial do minério de ferro embarcado, ou cerca de 800 milhões de toneladas.
Uma pesquisa da Reuters, feita com entrevistas a 15 analistas na semana passada, mostrou que o minério de ferro australiano deve ter queda de 30% nos contratos negociados neste ano. Até outubro, os analistas ainda previam estabilidade em relação aos preços de 2008.
“Após seis aumentos consecutivos, totalizando quase 400%, os preços do minério de ferro certamente vão cair, devido a um forte colapso da demanda”, disse em relatório a analista Christina Lee, da consultoria Macquarie. As negociações entre mineradoras e siderúrgicas para estabelecer o preço-padrão dos contratos de minério de ferro habitualmente são duras, longas e ressentidas, e para 2009/2010 não deve ser diferente.
“Mesmo com uma correção de 40% no preço dos contratos, será o segundo maior preço do minério de ferro na história, e esta é uma das piores recessões que testemunhamos nos últimos 40 anos”, disse Daniel Brebner, diretor global de commodities do banco UBS.
Abundância
De acordo com os analistas, as mineradoras devem reduzir a produção para conter a oferta e tentar equilibrar o mercado, evitando um declínio mais acentuado nos preços. Mas provavelmente prevalecerá a redução da demanda no setor siderúrgico, já que a crise afeta setores especialmente ligados ao aço, como a construção civil e a indústria automobilística.
As mineradoras já cortaram a produção do minério de ferro, mas segundo analista dizem que isso não impede que haja uma abundância de matéria-prima no mercado. “Não houve suficientes cortes no minério de ferro pelo lado da oferta”, disse Brebner, do UBS. “Vimos cortes significativos no aço, que devem criar uma superoferta do minério de ferro e, portanto, pressionar o preço.”
Desde março de 2008, o preço do minério de ferro pré-embarque já caiu cerca de 60%. Isso impossibilitou as mineradoras de aumentarem os preços com o mesmo apetite que no ano anterior.
Grandes siderúrgicas asiáticas, como a japonesa JFE e a Nippon Steel, reivindicam que os preços pelo menos voltem aos padrões de 2007/08, o que significa uma queda de até 45% no preço do minério de ferro. As siderúrgicas buscam preços de cerca de US$ 50 a tonelada para o minério de ferro, ante US$ 80 a US$ 90 entre 2008/2009. As empresas também querem redução, de 60% a 70% nos preços do carvão para o próximo ano fiscal, para US$ 100 para a tonelada , ante nível anterior de US$ 300.
A Macquarie estima que tal queda não acontecerá, porque nos atuais valores já há uma redução de quase US$ 80 por tonelada em relação ao preço recorde do ano passado, quase US$ 200onelada, e que esse preço é bastante atrativo diante da redução de oferta promovida por grandes mineradoras chinesas.
Mecanismo flexível
O diferencial de frete entre o minério de ferro brasileiro e o australiano levou a uma rara divergência no preço-padrão de 2008, intensificando as discussões sobre mecanismos alternativos de preços. Algumas mineradoras querem se livrar do sistema tradicional de preços-padrão, substituindo-o por um mecanismo mais flexível, que consiga um melhor alinhamento com as dinâmicas dos mercados do ferro.
Vários analistas acham que as siderúrgicas vão querer manter o sistema atual, já que ele cria alguma estabilidade num momento de preços voláteis – embora, na opinião de alguns analistas, as empresas podem estar dispostas a aceitar uma maior flexibilidade. “Nossa visão é de que isso deixa o caminho aberto para que os produtores australianos de minério de ferro imponham contratos mais híbridos, com vinculações aos preços-padrão, a índices e ao valor para entrega imediata” disseram os analistas do Real Banco da Escócia. “Da perspectiva dos consumidores, isso pode não ser ruim, porque lhes permitiria reduzir o custo do minério de ferro se a demanda cair mais, além de capturar alguns benefícios do frete mais barato”, disse o banco.
Em setembro, a Rio Tinto disse que planejava mais contratos de entrega imediata em 2009, enquanto a BHP Billiton defendeu a substituição do atual sistema de preços-padrão por um mecanismo de preços indexados. A ArcelorMittal informou na época que apoiará o sistema de preços-padrão, já que ele cria uma certa estabilidade. (Gazeta Mercantil/Caderno C – Pág. 1)(Reuters)
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