Exploração de ouro ignora crise
05/01/09
A perspectiva das grandes mineradoras de ouro que atuam no País destoa do cenário de retração que atingiu o setor extrativo mineral brasileiro diante da crise internacional. Considerada uma espécie de “porto seguro” em épocas de instabilidade, o preço internacional da commoditie costuma sofrer menos desvalorização ou mesmo iniciar um processo de alta. Se o impacto na produção de minério de ferro já é uma realidade, com redução da produção, paralisação de minas e corte de empregos, nas principais mineradoras de ouro os projetos de investimentos estão mantidos e a expectativa continua sendo de crescimento ou, na pior das hipóteses, estabilidade em 2009.
Levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) projetou investimentos de pelo menos US$ 1,5 bilhão na mineração de ouro no Brasil até 2011. O mais significativo investimento deste montante foi concluído recentemente pela Kinross, que finalizou o projeto de expansão da unidade de Paracatu (MG) e se tornou a maior mineradora de ouro do País. A empresa investiu US$ 550 milhões para mais que triplicar sua produção anual, de 5,4 toneladas para 17,2 toneladas.
Para o vice-presidente regional da Kinross no Brasil, José Roberto Freire, a crise mundial trouxe “reflexos positivos” para a empresa. “Ao contrário de outras commodities metálicas, que têm apresentando queda no preço, o ouro se manteve estável tem até apresentando uma pequena alta, uma vez que os bancos centrais e os bancos particulares, em busca de segurança financeira nos investimentos, se voltam para ativos palpáveis”, explica.
O gerente-geral de finanças da AngloGold Ashanti, Agostinho Tibério da Costa Marques, lembra que depois de romper uma marca história, chegando a US$ 1.032 a onça (medida que equivale a 31,1 gramas) no início do ano, a cotação internacional do ouro estabilizou-se na faixa dos US$ 900. Com o estouro da crise mundial, chegou à casa dos US$ 700, mas se recuperou e ultimamente vem sendo negociada na faixa de US$ 800 a onça. “O ouro é uma reserva de valor e nos momentos de crise geralmente se espera que as pessoas corram para esse porto seguro”, destacou.
Marques, contudo, ressalta que o metal precioso normalmente tem uma correlação negativa com o fortalecimento do dólar. Muitos investidores buscam o ouro como alternativa de investimento para períodos de desvalorização da moeda norte-americana. “Quando o dólar fortalece, geralmente o ouro perde”. Segundo ele, embora a multinacional de origem sul-africana tenha feito um corte de US$ 400 milhões no programa global de investimentos, os planos de crescimento da AngloGold no Brasil estão relativamente mantidos e o principal esforço de adequação será feito na otimização dos custos, sem necessidade de demissões.
Em 2009, a mineradora desembolsará US$ 120 milhões para financiar operações, projetos e pesquisas nas minas de Lamego – vizinha à mina de Cuiabá, localizada em Sabará, na região metropolitana de Belo Horizonte – e Córrego do Sítio, na cidade mineira de Santa Bárbara. Outros US$ 65 milhões serão utilizados para a aquisição de equipamentos e desenvolvimento de pesquisa mineral na mina de Serra Grande, em Goiás, onde a AngloGold mantém uma joint venture com a Kinross.
RACIONAL
As duas empresas são as principais mineradoras de ouro do Brasil, cuja produção total em 2008 deve atingir 55 toneladas, conforme o Ibram. No próximo ano, a expectativa, de acordo com Marques, é que, somadas, as produções da AngloGold e da Kinross alcancem a marca de 37 toneladas. “Nós continuamos basicamente com os mesmos planos de crescimento, apenas uma acomodação, talvez mais racional desses investimentos”.
Em julho deste ano, a AngloGold firmou acordo com a canadense Eldorado Gold para adquirir, por US$ 70 milhões em ações, a São Bento Mineração, localizada próxima à mina de Córrego do Sítio – negócio concluído este mês (dezembro). A mineradora já concluiu no primeiro trimestre de 2007 a ampliação da capacidade produtiva da mina de Cuiabá. Foram investidos US$ 210 milhões para elevar a produção anual da mina em 60%, de cerca de 180 mil onças para 300 mil onças. “Estamos agora trabalhando na otimização dessa produção. É o carro-chefe da nossa extração”, destacou Marques.
Após a expansão em Paracatu, que resultou na criação de 200 novos empregos diretos, o vice-presidente da Kinross disse que a empresa, cujo atual caixa é de US$ 700 milhões, está “atenta” a oportunidades de aquisições no Brasil. De acordo com o levantamento do Ibram, outros significativos investimentos de ouro no País serão feitos nos próximos dois anos pelo grupo canadense Yamana Gold, que controla duas mineradoras na Bahia. O grupo desembolsará US$ 407 milhões na ampliação e manutenção de suas operações, incluindo a implantação de uma nova unidade de produção no município de Santaluz.(AE)
Cruzeiro do Sul / O Estado de S.Paulo