Artigo | Terras Raras no Brasil: Passado, Presente e…
29/05/18
Definitivamente não é de conhecimento geral, mas antes mesmo de proclamada a república, o Brasil foi o maior produtor de óxidos de elementos terras-raras (ETR) no mundo, precisamente a partir de 1885, quando se iniciou a produção em larga escala nas areias monazíticas do litoral brasileiro. Outro fato interessante: o primeiro submarino com propulsão nuclear construído no mundo, o USS Nautilus, usou boa parte da produção de ETR brasileira.
A demanda por terras-raras se deu inicialmente para a confecção de mantas incandescentes para lampiões e por muitos anos a produção ficou restringida à monazita ((Ce,La,Nd,Th)PO4), sendo bastnasita ((Ce,La)CO3F) e xenotímio (YPO4) também importantes minerais de minério. A produção brasileira ficou focada na praia de Cumuruxatiba, no litoral sul da Bahia. Adicionalmente, Rio de Janeiro e Espírito Santo são estados com depósitos do tipo placer marinho que apresentam concentrações de minerais pesados acima de 5%, fruto principalmente do retrabalhamento dos sedimentos da Formação Barreiras.
O Brasil figurou entre os líderes mundiais na produção de ETR até 1915, quando então começaram a surgir outros players como EUA (depósito de Mountain Pass), África do Sul e Índia. Foi a partir da década de 80 que a China adquire o papel de protagonista no mercado produtor e consumidor dos ETR. A produção chinesa desses elementos pode ser setorizada em duas frentes: i) ETR leves (La-Sm) vem de minas em corpos carbonatíticos e/ou intrusões alcalinas dentre as quais destaca-se a mina de Bayan Obo (carbonatito metamorfisado); e ii) ETR pesadas (Eu-Lu), cuja produção se dá em diversas minas de pequeno porte que lavram argilas de adsorção iônica, provenientes de granitos alcalinos intensamente intemperizados, que complexam os ETR.
Figura 1: A) concentrações dos ETR normalizados pelo manto primitivo; B) preços dos ETR em dólares/kg para o ano de 2011. Extraído de Elements Magazine, v13n5.
Do ponto de vista geológico, a nulidade da produção brasileira de ETR não se justifica, tendo em vista a pluralidade e vasta gama de ocorrências potenciais desses elementos (placers marinhos e fluviais no litoral sul e sudeste, corpos carbonatíticos e intrusões graníticas alcalinas e as respectivas argilas intempéricas). Adicionalmente, a produção de ETR pode se dar como subproduto ou coproduto em diversas minas atualmente em explotação. Um exemplo seria o depósito de Pitinga (AM) no norte do Cráton Amazônico, que além de ser um world-class de Sn, fornece como subprodutos U e ETR pesadas graças à presença de xenotímio.
Além do grande potencial geológico, a retomada da produção de ETR no Brasil é extremamente pertinente e se encaixa em um importante contexto de planejamento estratégico nacional. Alguns fatos são relevantes nesse sentido, como por exemplo a aplicabilidade desses elementos (industria bélica, imãs permanentes, indústria aeroespacial, geração de energia limpa, catalisadores etc) e o fato da cadeia produtiva de ETR ser integralmente controlada por um único país. Quando se considera o panorama atual, oferta e demanda se equiparam, no entanto, a tendência mercadológica é de uma demanda crescente, principalmente de ETR pesadas.
Será que o Brasil retoma esse protagonismo?