31/08/17

Alessandra Prata – Crédito: Samarco

Portal da Mineração:  Quais são os principais desafios na gestão de rejeitos da mineração?

Alessandra Prata: Entre os principais desafios que a indústria tem com relação aos rejeitos estão viabilizar aplicações de quantidades significativas destes materiais em outros setores industriais e desenvolver novas tecnologias de beneficiamento que gerem menos rejeitos; além de desenvolver tecnologias que propiciem novas formas de disposição, que sejam mais seguras e que comportem estes materiais até que os desenvolvimentos citados  se tornem realidade.

PM: Quais são as formas de armazenar esses rejeitos?  

AP: Tradicionalmente a indústria de mineração armazena os rejeitos em barragens. Neste momento, para viabilizar o retorno de suas atividades operacionais,  a Samarco desenvolveu a filtragem dos rejeitos arenosos e desta forma 80% de seus rejeitos serão dispostos em pilhas e o restante (lama) será disposto em cava exaurida.

PM: Existem empresas que trabalham em reciclar os rejeitos da mineração ou dar novos usos ao material. Quais são os principais impedimentos para isso? Existe algum tipo de incentivo por parte do Governo para essa atividade?

AP: A Samarco já vinha trabalhando em parceria com empresas fabricantes de madeira plástica e de blocos para pavimentação intertravada. No primeiro caso, já havia sido feita uma venda piloto de lama para utilização como pigmento, conferindo a tonalidade cumaru às réguas de madeira plástica. E no segundo caso, a Samarco forneceu rejeito arenoso (usado em substituição ao agregado miúdo na formulação dos blocos intertravados) para uma empresa de Pedro Leopoldo fabricar os blocos a serem usados na pavimentação de obras internas da empresa e externas, como é o caso do Bairro Porto Grande em Guarapari.

Mas ainda há entraves como a necessidade de normatização do uso do rejeito nos outros setores; a mudança de cultura de consumo para aceitação de produtos com outra cor (ex: tijolo cor ocre); a falta de infraestrutura apropriada para estas indústrias no entorno das operações de mineração e a falta de politicas públicas como incentivos fiscais a pequenos emprendedores que queiram utilizar os rejeitos além de incentivo de consumo em obras públicas, dentre outros.

PM:A tecnologia utilizada hoje no Brasil é nacional ou utilizamos a experiência de outro país. Qual? Quem é referencia neste assunto?

AP: Temos tecnologia no Brasil. Já há muitos usos estudados onde o rejeito substitui as matérias primas tradicionais. Mas, a China é uma boa referência não somente em tecnologia; mas principalmente em modelos de negócio para o uso do rejeito em outros setores industriais.

PM: O que é possível vislumbrar em termos de futuro acerca dos rejeitos da mineração no país?

AP: Caso haja uma maior cooperação entre governo, indústria e universidade é possível vislumbrar um futuro promissor a respeito do uso de rejeito em outros setores, bem como no desenvolvimento de tecnologia para novas formas de disposição e, principalmente, no desenvolvimento de negócios ao redor das operações de mineração levando a uma diversificação econômica na região.

PM: A academia tem contribuído para solucionar a gestão desses resíduos?

AP: A academia tem sido uma parceira fundamental no desenvolvimento das tecnologias e soluções. A própria Samarco e  o CDTN (Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear) já desenvolveram projetos interessantes como o desenvolvimento da solução de blocos de pavimentação intertravada a partir do rejeito arenoso e da pigmentação da madeira plástica a partir da lama.

PM:Você possui algum case de sucesso referente ao tema para contar?

AP: A partir da parceria com o CDTN, o conhecimento adquirido foi expandido e pôde ser utilizado nas obras de reconstrução de Barra Longa (pavimentação da Praça José Lino Mol e Avenida Beira Rio) onde o sedimento coletado na UHE Risoleta Neves (Candonga) substituiu o agregado miúdo na confecção dos blocos de pavimentação intertravada.

PM:Qual a importância de se debater essa temática durante a EXPOSIBRAM 2017?  Que tipo de contribuição o Congresso pode proporcionar para as empresas, governo e atores públicos?

AP: Reunir profissionais de várias empresas de mineração para debater os grandes desafios do setor e trocar experiências é uma oportunidade ímpar para encontrar soluções mais robustas. Além disso, o evento agrega também pessoas do meio acadêmico e do governo fazendo com outros pontos de vistas possam enriquecer ainda mais o debate.