Excesso de leis estrangula atividade minerária no Brasil, dizem especialistas
10/09/19
O Brasil está partindo para o aumento do seu processo normativo, sobretudo, após o rompimento das barragens em Mariana e Brumadinho, sem considerar os reflexos disso na competitividade de suas empresas. Atualmente, há pelo menos 70 projetos de lei em tramitação no Congresso e no Senado, dos quais a maior parte foi proposta após o rompimento das barragens – as chamadas “legislação álibi”, criada sem análise aprofundada das matérias, do risco das medidas para as comunidades e para a operação das unidades de mineração, segundo Fábio Henrique Vieira Figueiredo, advogado da FW&C Advogados Associados e consultor Jurídico do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM). “Há alterações legislativas previstas que estrangulam a atividade”, afirmou.
Figueiredo moderou o painel “As Políticas Tributárias da Mineração”, realizado no segundo dia da Expo & Congresso Brasileiro de Mineração (EXPOSIBRAM), com a participação de outros cinco advogados. Segundo ele, a maioria dos projetos de leis em curso no Congresso e Senado onera o setor, compromete custo ou dificulta o licenciamento ou operação. “São questões que impactam a atividade e podem matar a competitividade”, observa o advogado, citando como exemplo concreto de seu receio a lei de segurança de barragens em Minas Gerais, que, de acordo com o advogado, foi “criada sem a preocupação com uma política pública eficaz, mas para dar uma resposta à sociedade”.
O advogado Paulo Honório de Castro Júnior, da William Freire Advogados Associados, acredita que há uma ânsia punitiva que tem balizado as discussões e decisões normativas. “São sintomas de uma crise federativa muito grande, cujos efeitos desaguam numa necessidade de receita para fazer frente às despesas”, avalia Castro Júnior.
Adriano Drummond Cançado Trindade, da Pinheiro Neto Advogados, observa que há uma percepção de que o setor mineral paga poucos tributos, sobretudo por envolver um recurso não renovável. “Isso não significa que essa percepção esteja correta. É um discurso político, que não encontra embasamento econômico”, observou o advogado. Afirma que não são consideradas a viabilidade econômica e administrativa para a realização de qualquer cobrança adicional e as decisões contam com apelo emocional.
Fernando Facury Scaff, advogado da Silveira, Athias, Soriano de Mello, Guimarães, Pinheiro & Scaff Advogados, observa que não faltarão argumentos para justificar a oneração do setor, considerando, em especial, a dificuldade financeira dos estados. “Seria, então, uma forma de compensação. No Congresso, há o entendimento de que com maior regulamentação e cobrança de tributos se resolvem os problemas do país. É um entendimento equivocado”, disse.
Para a advogada Rosana Gonzaga Jayme, da Campos Mello Advogados, nas casas legislativas não há uma preocupação com a norma, mas com o efeito econômico da decisão. “Não se faz conta de custo”. Marcelo Mendo Gomes de Souza, também advogado, do escritório Cescon, Barrieu, Flesch e Barreto Advogados, complementa: “a situação é bastante complexa. Há necessidade de premissas mais claras sobre o balizamento dessas decisões no Brasil. Temos que ser técnicos.”