Mercado prevê cenário bom para commodities metálicas
25/10/06
Não poderia ser melhor para a Vale do Rio Doce o cenário dos próximos anos traçados para os mercados de minério de ferro e de commodities metálicas. Analistas de bancos de investimentos ouvidos pelo Valor prevêem tempos favoráveis para principal produto da Vale hoje e para níquel e cobre, que passarão a ter um peso expressivo em seu portfólio com a incorporação da Inco. Os especialistas sugerem um ciclo de alta mais longo do que o esperado inicialmente pelo mercado.
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Andrea Weinberg, da Merrill Lynch, Roger Downey, do Credit Suisse, e Thomas Mello e Souza, da JSI Investimentos, prevêem que os preços de ferrosos e não ferrosos continuarão em patamares elevados nos próximos quatro anos. Todos estes mercados permanecerão com déficit de oferta pelo menos até 2009. Na sua visão, não haverá queda forte nos preços das commodities até o fim da década em função da esperada redução da atividade na economia americana. “O efeito China é maior do que o efeito negativo de alguma desaceleração nos Estados Unidos”, diz Downey.
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No caso do minério de ferro, as projeções indicam que o produto poderá subir 5% ou até um pouco mais em 2007, quando atingirá seu pico de preço, entre US$ 48 e US$ 49 a tonelada, mantendo-se estável em 2008, por conta da forte demanda chinesa e da crescente procura por aço no resto do mundo.
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Segundo relatório de Andrea Weinberg, a China deve produzir 569 milhões de toneladas de aço bruto em 2010, ante 425 milhões de toneladas estimadas para este ano. Mello e Souza, da JSI Investimentos, estimam um volume maior para 2010, da ordem de 600 milhões de toneladas.
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Nos cálculos da Merrill Lynch, para responder ao crescimento da produção de aço, as siderúrgicas na China devem importar um volume de 459 milhões de toneladas de minério de ferro, em 2010, quase 200 milhões de toneladas a mais em cinco anos, o que é excelente para a Vale, maior exportadora do produto no mercado transoceânico.
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A entrada da Índia no mercado mundial de minério de ferro e aço vai aquecer ainda mais este cenário. Pelas estimativas da Merrill Lynch, a produção indiana desse produto deve se estabilizar até o final da década. De 2007 até 2010 as siderúrgicas da Índia vão ampliar a procura pelo produto. “A demanda das usinas de aço da Índia deve crescer entre 5% a 7% ao ano até 2010, já que o país está desenvolvendo um processo de crescimento semelhante ao da China”, destaca o relatório.
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A Arcelor Mittal também vai demandar minério de ferro, apesar de priorizar projetos integrados – de minas de ferro e carvão à usina de coque e aço. A gigante siderúrgica planeja expandir em 28 milhões de toneladas sua produção da matéria-prima até 2010, mas seu projeto na Libéria de 15 milhões de toneladas anuais tem risco de atrasar, podendo levar a gigante do aço a recorrer ao mercado mundial.
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Após adquirir a canadense Inco, no futuro a Vale vai diminuir sua exposição em minério de ferro de 69% para 46%, ampliando no níquel, de zero para 26%, de acordo com a Merrill Lynch. Andrea Weinberg considera esta diversificação positiva para a companhia neste cenário de preços elevados por longo tempo para níquel e o minério de ferro.
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Na visão de Mello e Souza, até 2010 o mercado mais apertado no nicho das commodities metálicas promete ser o do níquel. A JSI Investimentos estima em 2006 déficit de níquel de 17 mil toneladas, que deve quase dobrar (para 32 mil toneladas) em 2007. Em 2009, porém, este mercado poderá ser superavitário em 50 mil toneladas, mas um novo novo déficit de 20 mil toneladas deve acontecer em 2010. “Por causa desse desequilíbrio, os preços do níquel vão continuar elevados até 2008”, afirma.
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Downey, do Credit Suisse, ressalta que a China continuará como maior demandante de níquel no mercado global e que a mesma deve crescer na medida em que o país alcance um estágio de desenvolvimento mais sofisticado. O consumo de aço inoxidável, segundo o analista, vai subir junto com a produção de bens duráveis. “Os produtos finais, como geladeira, carro, eletroeletrônicos, vão intensificar o uso do aço inox e, consequentemente, do níquel na China”, prevê.
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Nos cálculos da Merrill Lynch, com a incorporação da Inco, a Vale vai controlar 80% da nova oferta de níquel no mundo. A aquisição da mineradora canadense vai lhe propiciar o controle de quatro novos projetos em desenvolvimento no mercado global (Goro, Voisey`s Bay, Vermelho e Onça Puma) dentre cinco novos em curso que estarão operando nos próximos cinco a seis anos.
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A indústria de níquel é a mais concentrada do mercado global de commodities metálicas. Quatro grandes empresas controlam 55% do total da oferta – a russa Norilsk, a Inco, a anglo-australiana BHP Billiton e a anglo-suíça Xstrata. Com a Inco, a Vale será a primeira neste ranking.
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Em seu relatório, Andrea Weinberg projeta o comportamento do preço do níquel até 2010. Na média, os preços do metal alcançarão US$ 10,5 por libra-peso (US$ 23,1 mil a tonelada) em 2006 e devem permanecer assim em 2007. Gradualmente, devem cair nos três anos seguintes por conta da entrada de nova oferta no mercado. Essa trajetória não vai representar perdas para a Vale, mesmo comprando a Inco no pico de preço do metal. As perspectivas de caixa para a empresa brasileira nos próximos dois anos são de US$ 10 bilhões por ano. “A Vale vai ganhar muito dinheiro”, estima Mello e Souza.
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Outro metal no qual está investindo é o cobre. A mineradora já deu início a produção no projeto Sossego, em Carajás, mas ainda em escala pequena, pois falta à empresa o domínio da tecnologia do cobre. Isso deve ser assegurado com a Inco, que também extrai esse metal, embora em menor escala que o níquel. O mercado de cobre também está em alta. Com a Inco, a Vale aumenta a participação do cobre em sua receita dos 5% atuais para 7%, avalia Andrea Weinberg.
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A JSI prevê que os estoques do metal vermelho vão continuar baixos até 2010 e com déficit de oferta, da ordem de 100 mil toneladas no próximo ano. Cairá para para 30 mil em 2008. No ano seguinte, a expectativa é de superávit de 220 mil toneladas.
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Segundo Mello e Souza, a grande compradora ainda é a China, que responde hoje por 23% do consumo global de cobre. É mais que Europa e Estados Unidos juntos e quase três vezes mais do que o Japão. A consultoria prevê preços, em média, de US$ 3,20 por libra-peso (US$ 7.040 a tonelada) este ano. Em 2010, a previsão é que fique em US$ 4.400 a tonelada.
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Para Downey, o mercado de cobre pode se frustrar em 2007, para quando se espera uma capacidade de produção total, por conta de novos projetos e expansões de minas, de 16,8 milhões de toneladas. Pelo menos 600 mil toneladas não deverão entrar no mercado em 2007 por atrasos nos projetos e devido a greves em minas como a de Escondida, no Chile, operada pela Rio Tinto.
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Os grandes produtores de cobre no mundo são Codelco (estatal chilena), BHP Billiton, Rio Tinto e Phelps Dodge. A Merril Lynch estima oferta global de cobre em trajetória ascendente a partir deste ano. Em 2010, deve alcançar 20,7 milhões de toneladas, o que indica um crescimento de 3,6 milhões de toneladas do metal em cinco anos. Neste período, a demanda pelo metal também crescerá 3,3 milhões de toneladas. Com este avanço nas duas pontas, o mercado de cobre encerra a primeira década do novo século com um superávit de 772 mil toneladas, o que vai impactar gradualmente para baixo os preços do metal.
Valor Econômico