Belgo exporta modelo de gestão para o mundo
09/11/06
A Belgo Siderurgia foi a única vencedora do Prêmio Nacional de Qualidade em 2006, conferido pela Fundação Nacional de Qualidade (FNQ) a empresas que se destacam na adoção de critérios excelentes de gestão. O resultado foi conhecido ontem e será anunciado hoje em cerimônia com a vencedora e as três empresas finalistas deste ano: Fras-le, de Caxias do Sul (RS), Eaton – Divisão Transmissões de Automóveis e Veículos Comerciais, de Valinhos (SP) e Promon e Subsidiárias Integrais Promon, de São Paulo.
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A unidade premiada da Belgo foi a de João Monlevade, a maior dentre as quatro usinas do grupo Belgo-Arcelor no Brasil. Situada no Vale do Aço mineiro, na cidade de João Monlevade, é a mais antiga unidade do grupo no país – datada de 1921 – e tem capacidade para produzir 1,2 milhão de toneladas de aço bruto por ano.
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Este ano, 22 empresas concorreram ao prêmio da FNQ, das quais doze indústrias e dez do setor de serviços. Foi um número bem menor que em 2005, quando 41 empresas participaram e quatro levaram: Serasa, CPFL, Suzano Petroquímica e PQU. A Albrás, produtora de alumínio, foi a única finalista daquele ano. Em 15 anos de premiação, foram reconhecidas com o troféu da fundação 24 organizações e 37 foram finalistas.
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Segundo Iêda Novais, diretora-presidente da fundação, as organizações brasileiras demonstram estar atentas à necessidade crescente de se enxergarem não mais como uma ilha, mas como redes abertas e dinâmicas que dependem de seus relacionamentos internos, com clientes, fornecedores e com a sociedade. Para tanto, têm investido em mudanças na sua forma de gerir os negócios. “Uma reflexão sobre a empresa do futuro passa por essa visão de que as organizações são verdadeiros ecossistemas com uma interdependência de seus integrantes”, diz.
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A preocupação com a excelência na gestão é antiga na Belgo, segundo Jorge Magalhães, gerente de logística da usina de João Monlevade. Desde 1989 a siderúrgica investe em melhorias internas e no seu relacionamento com o meio ambiente e com a comunidade. Mas só decidiu candidatar-se ao troféu a partir do ano passado. Nos últimos cinco anos, Magalhães calcula que foram investidos somente em treinamentos de gestão e no desenvolvimento de pessoas cerca de US$ 3 milhões. “O modelo de gestão da usina é maduro e está sendo implementado nas unidades mundiais da Arcelor”, afirma.
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A “exportação” de modelos de gestão excelentes “made in Brazil”, como é o caso da Belgo não é um fato isolado, na visão de Edson Vaz Musa, vice-presidente do conselho curador da Fundação Nacional da Qualidade. Embora o Brasil esteja sabidamente atrasado no campo da inovação tecnológica, em gestão “não precisamos nos envergonhar”, acredita ele. Várias empresas têm se destacado por estar “na ponta desse processo, como Gerdau, AmBev e Vale, entre outras que são referências mundiais em suas áreas de atuação”.
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O grande problema, segundo Musa, é acompanhar as rápidas mudanças vividas pelas organizações com dados tão alarmantes quanto os que o país carrega no campo da educação e da inovação. “A força das empresas está nas pessoas. Porém, mais importante que diploma é realmente ter o conhecimento correspondente. Hoje, vemos muitos universitários que na verdade são analfabetos funcionais”, afirma Musa.
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Dentre as mudanças implantadas pela Belgo a partir dessa crescente preocupação com a excelência está a criação de dez comitês de aprendizado. Eles se concentram nos seguintes temas: liderança, estratégias e planos, clientes, fornecedores, sociedade, meio ambiente, pessoas, segurança e saúde, processos e financeiro. Os comitês são formados por quatro a sete pessoas que se encarregam de debater estratégias para melhorias em cada área de atuação. Um exemplo de benefícios desses grupos foi a criação, pelo comitê de pessoas, da chamada “carreira em y”, um plano de reconhecimento profissional e aumentos salariais sem a necessidade de uma promoção na hierarquia da empresa.
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A siderúrgica Belgo é controlada pelo grupo europeu Arcelor, segundo produtor mundial de aço. Ao todo, a Arcelor pretende investir US$ 1,2 bilhão até 2012 em expansões nas unidades da Belgo no país.
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Uma das finalistas, a Fras-le é fabricante de pastilhas e lonas de freios para veículos leves e pesados. No segundo trimestre deste ano, a empresa gaúcha ampliou o lucro líquido consolidado em 28,4% ante o mesmo intervalo do ano passado, para R$ 11,3 milhões. Nos primeiros seis meses de 2006, o ganho líquido chegou a R$ 18,4 milhões, montante 22,6% maior do que o registrado no mesmo período de 2005.
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Apesar da desvalorização do dólar frente ao real, a receita bruta consolidada da companhia totalizou R$ 239,7 milhões na primeira metade do ano, com alta de 2% em relação ao desempenho acumulado entre janeiro e junho do ano passado. As exportações da empresa atingiram níveis históricos. No semestre, o crescimento foi de 13%, totalizando US$ 36,5 milhões.
Valor Econômico