Bric? Não, é Brasil e China
15/04/10
A reunião do Bric, nesta semana, em Brasília, não é bem um encontro entre os chefes de Estado dos quatro países emergentes mais importantes, mas do Brasil e da China. Rússia e Índia têm pouca importância para o Brasil. Hu Jintao tem pouco a falar com eles e nós, ainda menos. O Brasil tem tudo o que a China precisa urgentemente para reduzir a dependência de outros países, como Estados Unidos, Japão e até a União Europeia. Temos produtos agrícolas, base das nossas exportações para o seu mercado, imenso potencial agrícola ainda por utilizar e, acima de tudo, petróleo e minério. Temos até um mercado interno para explorar, ainda incipiente para eles, mas promissor, no qual as indústrias chinesas ocupam cada vez mais espaço. É um mercado marginal para os chineses, mas não desprezível, pois importa de tudo o que sua indústria produz de sobra e exporta matérias-primas que eles precisam.
É o petróleo. O que os chineses vieram ver aqui, de perto, é o petróleo, que não inclui só o óleo, mas toda a cadeira produtiva e reprodutiva. Há mais de um ano a China está de olho no petróleo do pré-sal e seus desdobramentos. Já “emprestou” US$ 10 bilhões à Petrobrás para ser pago em petróleo futuro. Isso não é nada, é o começo. A estatal chinesa Sinopec, presente no Brasil, desde 2004, na construção de gasoduto, e outra estatal, a Wuhan Iron & Steel, negociam com a EBX, de Eike Batista, a construção de um porto gigante e uma siderúrgica no Rio. Seria a porta de saída para o mercado chinês.
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Hu Jintao prometeu investir muito no Brasil, quando aqui esteve, em 2004, mas não investiu quase nada porque não tínhamos projetos e, principalmente, suas prioridades eram outras. Estava mais interessado na exploração de petróleo e minérios na África Ocidental, onde, na verdade, “comprou” e está explorando reservas ainda não de todo conhecidas. O novo governo tinha acabado de se instalar, imerso em incertezas e crise de desconfiança internacional. Hoje, a situação é outra. Os investidores voltaram e a China se atrasou. O seu embaixador em Brasília afirma que há grande interesse nos setores de infraestrutura, que ressurge agora com o projetos do trem-bala, de comunicação e de petróleo. A China quer investir e fornecer peças e equipamentos.
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E os Brics de verdade? Não existem para a China, que sempre agiu de forma isolada. Não se preocupa com eles quando reclamam da sua moeda subvalorizada, do protecionismo cambial. Se o assunto for levantado em Brasília, ela pode até dizer que sim, vamos ver, mas não aceitamos pressão dos Estados Unidos nem os “parceiros” no Bric. Acima de tudo, a China preserva sua indústria, que depende muito das exportações, não para nós, mas para Estados Unidos, Europa, Japão. A propósito, dão a entender que não temos a menor importância no mercado global. O Brasil importou US$ 136 bilhões em 2009, a Rússia, US$ 197 bilhões, e a Índia, US$ 254 bilhões. Somados, US$ 587 bilhões, uma “ninharia” perto do US$ 1,2 trilhão que a China exportou. E a metade dos US$ 921 bilhões que importou. E nós nisso? A China quer conversar com o Brasil, isoladamente. É hora de saber negociar. Como eles.
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De novo, o IPI. Um assunto que interessa às empresas brasileiras exportadoras volta a rondar os gabinetes de ministros e de vários políticos, alerta uma fonte. Justificando possuir uma decisão judicial transitada em julgado ? definitiva, à qual não caberia mais recurso ?, uma fabricante e exportadora brasileira de ônibus está tentando liberar do governo cerca de R$ 610 milhões de crédito-prêmio de IPI. A eventual liberação desse crédito-prêmio põe em alerta muitas outras companhias, que também julgam ter o mesmo direito, por realizarem exportações de seus produtos e, naturalmente, terem o mesmo tipo de crédito com o governo. Elas entendem que a liberação do pagamento dos créditos do IPI para uma única empresa vai abrir um precedente jurídico para que outras exportadoras brasileiras, que também discutem ou discutiram o tema no Judiciário, pleiteiem o mesmo direito. E prometem trabalhar para obter tratamento isonômico. Isso causaria um “rombo” de muitos bilhões de reais no orçamento da União e reabriria uma das discussões mais longas da Justiça brasileira, encerrada em agosto passado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), depois de mais de 15 anos, com o definitivo entendimento de que o benefício foi extinto em 1990.
O Estado de São Paulo